Lucro das seguradoras avança no primeiro semestre de 2024, para R$ 14,2 bilhões

Ao contrário do que muitos pensavam, os ganhos das companhias de seguros não foram impactados pela tragédia do Sul, com perdas econômicas estimadas em R$ 100 bilhões. “Foi apenas um arranhão em algumas companhias específicas até o momento”, comentam executivos nos bastidores do setor. O lucro líquido das seguradoras avançou para R$ 14,2 bilhões no primeiro semestre deste ano, pouco acima dos R$ 14 bilhões do mesmo período do ano passado, segundo o ranking elaborado pela consultoria Siscorp, com dados da Superintendência de Seguros Privados (Susep).

A arrecadação do setor de seguros foi de R$ 209,5 bilhões, avanço de 15,3% em relação ao mesmo período de 2023. As indenizações, resgates, benefícios e sorteios que retornaram a clientes e investidores alcançou R$ 119,13 bilhões no primeiro semestre. De acordo com a Susep, o estado de calamidade pública decretada em maio em diversos municípios do Rio Grande do Sul contribui para explicar a elevação dos sinistros de seguros de danos no país, com índice de sinistralidade avançando de 44% para 66% nos semestres comparados.

O levantamento até agora mostra a baixa penetração de seguros no Brasil, seja por falta de cultura da população em comprar seguro, seja pelo elevado custo para coberturas como enchentes e inundações em um local com histórico de ocorrências, como foi o caso do Sul, que em setembro e novembro de 2023 registrou situações caóticas com o excesso de água.

O volume total de pedidos de indenizações de seguros relacionados às enchentes chegou a R$ 5,6 bilhões até o início de agosto, segundo a Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg). Neste valor são considerados os sinistros avisados, o que não significa que todos serão aprovados para pagamento pelas seguradoras. No geral, o segmento de danos registrou R$ 6,2 bilhões em sinistros avisados em junho, R$ 6,3 bilhões em maio e R$ 4,5 bilhões em abril, informa a Susep.

Os valores de perdas das companhias no Sul ainda devem avançar com a regulação de sinistros mais complexos, como lucro cessantes de empresas, por exemplo. Mas o “grosso” de apólices individuais, como carros e residências, já foi finalizado. Há expectativa de judicialização de algumas indenizações negadas, principalmente em apólices residenciais sem cobertura para enchente, mas isso não preocupa o setor, segundo especialistas consultados.

Entre as empresas, a que registrou o maior impacto no lucro, em termos nominais, foi a Porto (antiga Porto Seguro), de R$ 87,2 milhões. O volume de sinistros pagos chegou a R$ 255 milhões, sendo que as resseguradoras devem cobrir entre R$ 3 milhões e R$ 4 milhões, disse Celso Damadi, diretor financeiro, de controladoria e investimentos, em entrevista após a divulgação dos resultados. A cobertura, segundo ele, será concentrada nas carteiras empresarial e residencial, já que a Porto não faz resseguro da carteira de veículos. O número de veículos com sinistro após a tragédia no Sul chegou a 3,8 mil, conforme a companhia, publicou o Valor.

Na Caixa Seguridade, o impacto das chuvas na última linha da demonstração de resultados foi de R$ 34,7 milhões. Segundo a empresa, o valor considera a participação nas empresas Caixa Residencial, CNP Seguros e Too Seguros. “Caso as nossas seguradoras não tivessem esses contratos e esse pacote de resseguro […], o efeito sobre o lucro líquido teria sido muito maior, visto que o total de sinistros avisados e que foi objeto de provisão no segundo trimestre passou de R$ 461 milhões”, disse Eduardo Oliveira, diretor financeiro da Caixa Seguridade, em teleconferência com analistas.

Os sinistros relacionados à tragédia somaram R$ 461,3 milhões, sendo que R$ 349,7 milhões foram cobertos pelo resseguro. Os ramos habitacional e residencial foram os mais afetados, com 10,8 mil acionamentos no segundo trimestre. Segundo relatório da Caixa, os resultados financeiros devem permanecer “em patamar pouco significativo” no decorrer dos próximos trimestres.

Na BB Seguridade, apesar do aumento da sinistralidade de duas seguradoras controladas, “não houve impactos significativos no resultado”, conforme o relatório que acompanha as demonstrações financeiras trimestrais. Em teleconferência com analistas, o diretor-presidente da companhia, André Haui, disse que, no período mais crítico de calamidade, empresa recebeu pouco mais de 5 mil acionamentos. As despesas com sinistros relacionados ao evento foram de cerca de R$ 225 milhões.

“Esse número, apesar de robusto, apresenta, por meio da nossa estratégia de resseguro, um impacto líquido menor em nosso resultado”, afirmou. Cerca de 80% do volume de sinistros foi no segmento agrícola ou no penhor rural, em que a empresa tem “um mecanismo bastante robusto de proteção de carteira de seguro”, afirmou o diretor financeiro da BB Seguridade, Rafael Sperendio, aos analistas.

Abaixo o lucro líquido dos períodos comentados:

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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