KPMG aponta desafios do setor de seguros na avaliação do impacto das emissões de carbono

Com prêmios agregados globais em seguros de vida e não vida próximos a US$ 8 trilhões, a indústria de seguros e sua cadeia de suprimentos precisam alcançar as metas de neutralidade de carbono

Uma publicação da KPMG aponta os desafios do setor de seguros no cálculo e avaliação das emissões de carbono atreladas às atividades de subscrição e investimento, além do desenvolvimento de estratégias e execução de planos de transição de descarbonização. O relatório indica, ainda, a importância de a indústria seguradora abordar fatores ambientais, sociais e de governança (ESG), especialmente no que se refere às mudanças climáticas.

Em vez de transferir a culpa para setores de alta emissão, as seguradoras reconhecem que também têm um papel a desempenhar. Ao subscrever negócios intensivos em carbono, as seguradoras estão apoiando práticas empresariais insustentáveis. Com prêmios agregados globais em seguros de vida e não vida próximos a US$ 8 trilhões (ou 6,8% do produto econômico global), e com mais de US$ 36 trilhões em ativos globais sob gestão, a indústria de seguros e sua cadeia de suprimentos precisam alcançar as metas de neutralidade de carbono, acompanhando seu próprio progresso em emissões e investindo em setores e tecnologias menos intensivos em carbono.

O documento mostrou que a avaliação dessas emissões pelo setor é impulsionada por vários fatores externos, incluindo o aumento da regulamentação. Além disso, litígios crescentes, verificações independentes e alianças globais de redução de carbono estão moldando a necessidade de as seguradoras medirem e reduzirem as emissões.

Os principais desafios enfrentados pelo setor de seguros, segundo a publicação, são coleta de dados e estabelecimento de uma padronização para o cálculo das emissões de carbono. De acordo com o estudo, há dificuldade em obter dados precisos de fornecedores, clientes e outras partes envolvidas, além do acompanhamento do progresso. A adoção de um padrão é fundamental para apoiar a tomada de decisões estratégicas, financeiras e operacionais e para a mitigação dos riscos. Definição de planos de transição para uma economia de baixo carbono, com um plano bem-sucedido deve complementar a estratégia de negócios e de sustentabilidade da empresa.

“Embora a tarefa possa parecer complicada em função desses fatores, um padrão globalmente reconhecido para a contabilidade e relato de gases de efeito estufa foi lançado em 2022. Também existem plataformas de tecnologia em expansão que facilitam este trabalho. Ao garantirem a qualidade dos dados a respeito das suas emissões, os líderes terão uma visão mais nítida a respeito do próprio progresso em direção à jornada de descarbonização”, analisa a sócia de ESG para serviços financeiros da KPMG no Brasil, Maria Eugênia Buosi.

O setor de investimentos está formando suas próprias colaborações e redes para alcançar suas metas de monitoramento e redução de emissões. A Net Zero Asset Owners Alliance (NZAOA) é um bom exemplo de uma associação que destacou metas para a transição de seus portfólios de investimentos para emissões líquidas zero até 2050, com metas intermediárias de redução de CO2 entre 22% e 32% até 2025 e entre 40% e 60% até 2030, com metodologias e ferramentas disponíveis. Em 2021, oito companhias de seguros anunciaram um novo compromisso com uma economia de emissões líquidas zero e lançaram a NZIA. A aliança visa alcançar emissões líquidas zero de gases de efeito estufa até 2050, mas os compromissos dependem de ações dos governos para implementar novas políticas que apoiem a transição, o que tem demorado a se concretizar.

O relatório salienta, ainda, que eventos climáticos extremos estão se tornando cada vez mais frequentes e as perdas seguradas resultantes de desastres naturais estão aumentando. O documento explica que isso representa pagamentos de indenizações relevantes, que podem ameaçar a solvência de muitas empresas, o que está levando as seguradoras a reavaliarem as abordagens para a subscrição de riscos. 

“No entanto, criar exceções para esses eventos em políticas de seguro ou interromper completamente a subscrição é apenas tratar os sintomas das mudanças climáticas. Abordar o aumento das emissões de carbono na atmosfera pode efetivamente prevenir desastres climáticos, reduzir os danos às propriedades e proteger as seguradoras”, complementa o sócio-diretor líder de descarbonização da KPMG no Brasil, Felipe Salgado.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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