No auge de debates sobre a realização de manutenções, de qualidade, em aviões devido ao acidente com a aeronave da Voepass no dia 9 e agosto, a companhia aérea Azul anunciou prejuízo líquido de R$ 3,8 bilhões no terceiro trimestre de 2024, revertendo os ganhos de R$ 23,9 milhões de um igual trimestre do ano anterior. No geral, os resultados foram influenciados pela depreciação do real contra o dólar, que levou a um resultado financeiro negativo no período.
Para complicar o dia da Azul e dos passageiros, uma aeronave teve problemas no pouso e por isso o Aeroporto Internacional de Florianópolis, em Santa Catarina, está com as operações temporariamente suspensas na manhã desta segunda-feira (12). Não foi informada previsão para liberação. “O pouso aconteceu com segurança, assim como o desembarque dos clientes. A Azul lamenta eventuais transtornos causados e reforça que todos estão recebendo toda a assistência necessária conforme prevê na resolução 400 da Anac [Agência Nacional de Aviação Civil]”, afirmou em nota.
Com um prejuízo de R$ 3,8 bilhões, a empresa fazia as manutenções devidas?, questionam leitores que querem entender melhor como funciona o seguro. “Uma pessoa comum que tem o nome no Serasa não consegue fazer o seguro de automóvel. Uma empresa aérea consegue?”.
Segundo especialistas consultados, que pediram anonimato, nenhum avião no mundo pode, segundo as normas aéreas, levantar voo sem ter um seguro. “As questões de segurança não podem ser limitadas nem mesmo em empresas que estão em recuperação judicial. Caso contrário, financiadores e empresas de leasing, donos de praticamente mais de 90% das aeronaves ativas, suspendem os contratos e as aeronaves são retomadas”, afirmam especialistas.
Caso não pague o seguro, a aeronave não sai mais do chão, uma vez que a notícia se espalha rapidamente entre investidores e empresas de leasing. A apólice principal cobre danos causados a terceiros causados pela empresa aérea. Outra apólice conhecida como “casco” visa repor a perda patrimonial do bem em caso de acidente, exigido por investidores e empresas de leasing.
Quando uma empresa, de qualquer segmento da economia, tem dívidas elevadas, acende o farol vermelho do departamento de subscrição de riscos das corretoras, seguradoras e resseguradoras. “Hoje, na nossa reunião de segundas-feiras, uma pessoa do time informou que fomos chamados pela empresa de um corrente que não conseguiu renovar o seguro patrimonial porque estava na Serasa”, contou um corretor em condição de anonimato.
Os profissionais contam que esta é uma realidade no mercado e tem vários motivos para isto acontecer. Os subscritores calculam o risco das empresas e com base nisso o preço do seguro. Quanto maior o risco de inadimplência, maior o valor do seguro. Há estatísticas que revelam que empresas endividadas fazem menos manutenção nas máquinas e prédios. Além disso, as empresas no vermelho não fazem os investimentos necessários nos equipamentos e no gerenciamento de risco. Também há casos que mostram que os números de fraudes são muito maiores nas empresas endividadas.
“Estes são alguns pontos, entre outros, que podem prejudicar a colocação destes riscos no mercado local e internacional. Sem o respaldo do resseguro, a seguradora não tem como fazer o seguro e acaba negando a proposta”, explicam os técnicos. “Não estou afirmando que os acidentes recentes tenham algo a ver com estas análises dos subscritores. Acidentes em empresas com caixas altíssimos e grande liquidez acontecem toda hora também”, ressaltou o corretor.
Já para o seguro garantia, que garante contratos, ou seguro de crédito, que cobre a inadimplência do pagamento a credores, estar endividado ou com nome “sujo” impacta diretamente nas condições do seguros, que passam a contar com uma análise muito mais criteriosa. “Ninguém fala isto abertamente. As companhias negam por “risco declinável”, falta de capacidade de cobertura no mercado entre outras desculpas, pois isto é sensível na justiça. Igual aos bancos que não aprovam crédito, mas não dão as razões”, explica um especialista.
Mas há exceções de aviões que voam sem um programa de seguro adequado ou mesmo sem seguro, como o acidente com o avião da Chapecoense. A aeronave da LaMia, extinta companhia aérea da Bolívia e que operava com preços muito abaixo dos praticados pela concorrência, levava atletas, dirigentes do clube e jornalistas para a final da Copa Sul-Americana. Caiu, por falta de combustível, na Colômbia, em 28 de novembro de 2016. No total, 71 pessoas morreram. Passados oito anos, o assunto ainda está na Justiça. No início, a notícia era de que a empresa não havia renovado o seguro. Porém, parentes buscam responsabilizar a corretora de seguros e a seguradora pela não renovação. O caso corre na Justiça da Flórida, nos Estados Unidos, que analisa as responsabilidades da Tokio Marine Klin e da corretora AON.