Aumentos nos custos de sinistros estão sendo impulsionados por aterrissagens bruscas, colisões com pássaros, incidentes em pistas e no manuseio em solo, desafios na cadeia de suprimentos, desafios de mão de obra, aumento dos custos de reparo e limiares de Perda Total Construtiva (CTL) sendo alcançados mais cedo, revela o estudo “Aviation risk, claims and insurance outlook” , publicado pela Allianz Commercial.
Incidentes de colisão/queda representam mais da metade do valor de todos os sinistros de seguros de aviação (63%) em valor e um terço (33%) em número, de acordo com a análise de mais de 30.000 sinistros da indústria com um valor de €14 bilhões (US$15,1 bilhões) nos últimos cinco anos. Esses incidentes não incluem apenas grandes quedas, mas também eventos como aterrissagens bruscas, colisões com pássaros e incidentes em pistas.
Falhas de fabricação/produtos defeituosos são a segunda principal causa de sinistros por valor e por frequência, enquanto catástrofes naturais (incluindo turbulência) ocupam o terceiro lugar em valor de sinistros. Problemas de viagem (incluindo danos à propriedade, lesões pessoais, sinistros de bagagem, bens perdidos/roubados, etc.) ocupam o terceiro lugar em número. Outras principais causas de sinistros incluem incêndios e incidentes de escorregões e quedas.
Segundo estudo da Allianz, houve um aumento significativo nos custos de reparo de aeronaves nos últimos anos, impulsionado por taxas de mão de obra mais altas e pelo custo das peças de aeronaves, entre outros fatores, como a inflação. A mudança para aeronaves de nova geração continua a impactar os sinistros, especialmente no que diz respeito à desmontagem e aos custos de reparo de motores. Os custos dos sinistros relacionados a certas peças de reposição de aeronaves aumentaram entre 10% e 15% nos últimos anos, o que resultou em um número maior de aeronaves sendo consideradas Perdas Totais Construtivas (CTLs) do que no passado.
Os desafios na cadeia de suprimentos continuam. Os prazos de entrega para componentes mecânicos e aviônicos são desafiadores e imprevisíveis para todos os envolvidos: clientes segurados, operações de manutenção, reparo e revisão, e seguradoras, aumentando o custo dos sinistros. A capacidade de recursos para manutenção e reparo está diminuindo no Reino Unido, Europa e Estados Unidos.
As excursões de pista estão em alta em relação a 2023, com pelo menos 23 incidentes relatados globalmente de janeiro a maio de 2024. As causas são variadas, incluindo problemas meteorológicos e técnicos. A maioria dos incidentes envolve principalmente danos ao casco da aeronave.
Também houve um aumento significativo nos sinistros de manuseio em solo em grandes aeroportos ao redor do mundo, incluindo reboque, abastecimento, serviços de catering e cadeiras de rodas relacionados às operações de aeronaves comerciais, bem como colisões de veículos na pista. Demissões relacionadas à pandemia resultaram em novas contratações e funcionários menos experientes em alguns casos, contribuindo para esses sinistros.
O estudo não cita, mas o Brasil já registrou 135 ocorrências de acidentes aéreos em 2024, segudo o site Rede de Segurança da Aviação (ASN), da Flight Safety Foundation, uma organização internacional dedicada à segurança da aviação. No país, tivemos recentemente o acidente da Voopass com a morte de 62 pessoas num acidente em Valinhos (SP). Também assistimos aos danos causados em dois aviões, Latam e Gol, que taxiavam na pista do aeroporto de Congonhas.
Nos últimos anos, a Allianz Commercial também testemunhou uma mudança em certos tipos de sinistros “cotidianos” sendo apresentados por passageiros de companhias aéreas comerciais. Por exemplo, sinistros que eram noticiados, como os de “fúria aérea” após a pandemia, e sinistros envolvendo animais a bordo de aeronaves, agora diminuíram, cita o estudo. Trazendo um tom brasileiro às informações mundial do estudo, o Sonho Seguro relembra a morte do Joca? O cão morreu em abril durante uma falha no transporte aéreo da companhia Gol.
A crescente escassez de mecânicos de aeronaves pode impactar a atividade futura de sinistros. Uma preocupação óbvia é que a falta de profissionais acabe levando a um acidente, apesar dos sistemas de verificações e balanços em vigor na indústria. Pode demorar mais para concluir reparos se os fornecedores não tiverem mão de obra ou eficiência. Além disso, se um mecânico não tiver a capacidade de reparar uma peça, ela precisará ser substituída por uma nova, o que normalmente é mais caro.
Uma demanda crescente por passeios turísticos de helicóptero e escapadas, incluindo “heli-esqui”, “heli-pesca” ou “heli-caminhadas”, também está impactando a atividade de sinistros, principalmente na América do Norte, mas também há casos na Europa e na Ásia. Exemplos incluem quedas, danos ao casco e lesões.
A crise do setor aéreo é de longa data, mas teve seu quadro agravado com a Covid. Segundo os autores do estudo, dizer que a indústria da aviação, e seus seguradores, tiveram que enfrentar desafios significativos nos últimos anos é um eufemismo. A parada repentina imposta pela pandemia de Covid-19 atingiu a indústria mais rápida e duramente do que a maioria das outras.
Então, assim que a indústria estava prestes a decolar novamente e se recuperar das dores da pandemia, como a escassez de pessoal ou os gargalos na cadeia de suprimentos, ela encontrou mais turbulências devido à alta inflação, à crise energética, à invasão da Ucrânia pela Rússia e potencialmente à maior perda única já registrada no setor, causada pela confiscação russa de várias centenas de aeronaves de arrendadores ocidentais. E tudo isso em um momento em que a indústria já enfrentava o desafio nada insignificante da transição para o Net Zero.
O setor da aviação se recuperou bem dessas dificuldades. Embora o ambiente geopolítico permaneça incerto e as companhias aéreas continuem enfrentando restrições de capacidade, interrupções na cadeia de suprimentos e incidentes de segurança, há muitos motivos para otimismo. Vários parâmetros de 2023 mostraram resultados de segurança “os melhores de todos os tempos”, de acordo com a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA).
Além disso, embora o PIB global tenha crescido apenas 3,2% em 2023, 1,3 bilhão de pessoas viajaram internacionalmente, um aumento de 33% em relação ao ano anterior. De acordo com a UN Tourism, durante o primeiro trimestre de 2024, o turismo internacional alcançou mais de 285 milhões de viajantes, 20% a mais que no ano anterior e 97% dos níveis pré-pandêmicos. Isso sugere que viajar está sendo cada vez mais considerado um “item básico” nos orçamentos domésticos, com os consumidores dispostos a pagar um preço mais alto pela experiência, segundo executivos da Allianz Research.
Em 2024, espera-se que o volume global de passageiros aéreos atinja um recorde histórico (+10,4% em relação ao ano anterior), com a Ásia-Pacífico e a América do Norte liderando. Ao mesmo tempo, a falta de uma solução milagrosa para a descarbonização não deve ofuscar as oportunidades empolgantes que estão em andamento com o desenvolvimento de Combustíveis de Aviação Sustentável (SAF) e Mobilidade Aérea Avançada (AAM), para citar apenas alguns exemplos.
Neste relatório, a equipe de seguros de aviação destaca algumas das tendências e desafios mais importantes que impactam a indústria, desde o aumento do número de incursões em pistas até o crescente número de interferências de GPS nos céus. Os especialistas também exploram o impacto das inovações tecnológicas, como AAM e aeronaves elétricas de decolagem e pouso vertical (eVTOL) em particular, que oferecem o potencial de revolucionar a aviação, promovendo sustentabilidade, eficiência e experiências aprimoradas para os passageiros. Eles também examinam como a inteligência artificial pode tornar a aviação mais segura, mais sustentável e mais satisfatória para os clientes, ao mesmo tempo em que destacam alguns dos riscos associados que precisam ser considerados.
Essas inovações podem roubar os holofotes quando se trata da trajetória do setor rumo a um futuro mais verde, mas, em outro lugar, também explica como um desenvolvimento pouco notado pode ter o maior impacto na descarbonização geral – a conformidade.
Enquanto isso, a equipe de especialistas em sinistros identifica as principais causas de sinistros de aviação que observamos em todo o mundo, ao mesmo tempo em que mantém um olhar atento sobre áreas de interesse em desenvolvimento, que vão desde o aumento dos custos de reparo até a escassez de mecânicos e o número crescente de experiências de passeios de helicóptero. Do ponto de vista do segurador, também se analisa algumas das formas como o cenário de risco atual está impactando o mercado, como a necessidade de uma gestão eficaz de acumulações ou o crescente interesse em seguros multinacionais.