Certamente esta catástrofe no Rio Grande do Sul será o maior valor pago em indenizações do setor de seguros no Brasil, decorrente de um único evento. Até hoje, dia 24 de maio, as indenizações avisadas às seguradoras foram de R$ 1,67 bilhão, referentes a mais de 23 mil pedidos de indenizações. O valor considera todas as seguradoras que operam no Sul e não foi observada uma grande concentração em uma só companhia.
Automóvel, como era previsto, é responsável por R$ 557,4 milhões, seguido por grandes riscos, com R$ 570 milhões, outros com R$ 322 milhões, residencial e habitacional R$ 238,1 milhões e agrícola, com R$ 47,2 milhões. O resseguro (o seguro da seguradora) tem sua participação. Segundo o presidente da CNseg, não dá para saber o peso do resseguro, mas é certo que o rural e os contratos de grandes riscos têm um valor elevado de resseguro. A retenção das seguradoras gira em torno de 10%. Nos massificados, o contrário. O nível e muito baixo, com as seguradoras retendo a maior parte do risco.
Esse valor se refere aos sinistros já avisados e estimativa preliminar dos custos dos seguros. “Seguramente o valor final será muito maior”, avisa Oliveira. Diferentemente do caso de Brumadinho, com o rompimento de barragens em Minas Gerais, que foi um evento extraordinário, o número de pessoas e de linhas de seguros afetados foi muito menor do que agora”, acrescentou.
A previsão é de que este número aumentará muito nas próximas semanas, informou Dyogo de Oliveira, presidente da CNseg, a confederação das seguradoras, em coletiva de imprensa realizada nesta sexta-feira. Um novo levantamento será divulgado em cerca de um mês, quando for possível que os clientes tenham como entrar em contato com as companhias de seguros.
Maior também que as perdas no segmento rural em 2022, com perdas de R$ 8,8 bilhões, pois apenas o agro foi afetado, e do impacto da pandemia, que não foi um evento da natureza e durou muitos anos, com mais de R$ 7,5 bilhões de indenizações pagas. Já o evento no Sul afetou várias regiões e várias carteiras de negócios. Em automóvel, praticamente 90% tem seguro para eventos climáticos. Já em residência, Oliveira diz que é muito baixo o índice de contratação de seguro para alagamento.
São muitos ramos de seguros afetados e cada um deles tem suas especificidades. Grandes riscos muitas empresas ainda estão alagadas e ainda é complexo estimar valores. O papel principal das seguradoras é indenizar seus segurados. “Ainda temos uma parte grande dos segurados que sequer entraram com pedido de indenizações. Neste momento se prioriza a urgência de salvamento de pessoas e dos bens”.
Quando a água ceder, é que será possível chegar aos locais e fazer um levantamento das perdas. Por enquanto, o que se tem de forma prática é que as seguradoras criaram diretorias para cuidar de tudo que envolve a tragédia do Sul, com procedimento rápido de pagamento dos sinistros mais simples. Em média, os pagamentos estão sendo pagos em até 48 horas, dispensando vistorias e outros aspectos burocráticos.
A CNseg ressaltou que o setor tem tomado medidas efetivas e um comprometimento grande com seus clientes e não clientes. “Algumas empresas têm prorrogados para junho os vencimentos dos pagamentos e a vigência das apólices. Além disso, as seguradoras têm ações beneficentes em parceria com instituições com o foco de auxílio as vítimas”, comentou.
“Este evento demostra a urgência do Brasil se organizar para termos um sistema de prevenção de desastres mais estruturado, alertas, treinamento social para as pessoas saberem reagir. Temos de ter obras preparadas para resistir para evitar que os mais vulneráveis sejam tão prejudicados”, disse. Ele lembrou o seguro catástrofe, que a entidade sugeriu há dois meses, que se já estivesse implementado, seria uma ajuda importante para as vítimas.
“Eventos climáticos serão cada vez mais frequente e mais severos. Não acreditamos que acontecerão com frequência como este, com uma duração muito longa. Já estamos entrando na terceira semana e a situação ainda é muito complexa, com a água voltando a subir novamente ontem”, disse. “O Rio Grande do Sul se tornou um estado muito suscetível a eventos climáticos e é preciso continuar o debate sobre a importância de se preparar para os efeitos das mudanças climáticas. O Japão, por exemplo, treina anualmente as pessoas para lidar com tsunamis. Temos de ter isso como alerta e não baixar a guarda”, reforça Oliveira.
Segundo a Defesa Civil do RS, o número de mortos em decorrência das enchentes no estado era de 163 na noite de quinta (23). Ainda há 64 pessoas desaparecidas e outras 806 feridas. O órgão aponta que 21,5% dos gaúchos foram afetados pela tragédia, que afetou 95% das cidades do Rio Grande do Sul.