RIMS 2024: o seguro deve ser customizado para capturar as exposições de risco”, afirma Christian Mendonça

Christian Mendonça, head de riscos e seguros da Norsk Hydro no Brasil, acompanha de perto todas as tendências sobre gerenciamento no mundo. Esta é a décima segunda vez que o executivo participa do principal evento de gestores de riscos do mundo promovido pela RIMS, associação que reúne os profissionais dos EUA. Desta vez sua participação é como palestrante no RISKWORLD 2024, realizada entre 5 a 8 de maio, em San Diego, Califórnia.

“O processo de contratação de seguros permite e motiva as organizações a mapearem e melhor se protegerem das principais exposições de riscos a seus negócios e operações, sendo que em vários casos as seguradoras estabelecem pré-requisitos mínimos de proteção para aceitação de riscos”, afirma ele, que atua no segmento financeiro há mais de 20 anos e dá para perceber que é apaixonado pelo que faz.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida pelo executivo ao Sonho Seguro:

Como você vê o papel do seguro na mitigação de riscos?

O seguro, muitas vezes, é visto como única ferramenta existente para se proteger e mitigar riscos, o que é uma visão bastante errônea e que, infelizmente, está presente na mente de muitas pessoas. O seguro, de fato, é uma das principais ferramentas de proteção e recuperação financeira frente aos riscos e incertezas que diferentes empresas, entidades e das mais variadas atividades econômicas, podem contratar para obterem uma proteção financeira contra as eventuais perdas materiais, de receita e responsabilidades a que seus negócios, ativos e operações estão expostos. No entanto, uma proteção “reativa”, e que irá fornecer a indenização após o sinistro já ter acontecido. Porém, o processo de contratação de seguros permite e motiva as organizações a mapearem e melhor se protegerem das principais exposições de riscos a seus negócios e operações, sendo que em vários casos as seguradoras estabelecem pré-requisitos mínimos de proteção para aceitação de riscos. Portanto, e para mim, o seguro é um instrumento muito importante de ser considerado por qualquer organização, mas que acima de tudo, deve ser muito bem customizado e implementado de forma a capturar as reais e principais exposições de risco das organizações, e também considerando o nível de preparação e maturidade das organizações em gerenciar, mitigar e aceitar os próprios riscos.

Qual o papel que você e sua equipe desempenham como “guardião do patrimônio” da empresa?

Na Hydro, eu e minha equipe representamos o Departamento de Seguros da Hydro na região, e temos o privilégio de atuar de forma corporativa, em todas as áreas de negócio de nossas operações na América do Sul, e de forma matricial entre diferentes disciplinas. Desta forma, temos o mandato de sermos os responsáveis por prover as melhores soluções de seguro as diferentes operações e negócios da Hydro na região, adequadas as estratégias de curto, médio e longo prazo de nossa organização, e moldadas e customizadas ao mapeamento, apetite de risco e principais exposições de nossas operações. Além disso, somos responsáveis por implementar localmente, desenvolver e aprimorar a aderência de nossas plantas e operações ao Hydro Loss Prevention Standards, que é um compilado de boas práticas e normas locais e internacionais que estabelecem o padrão de segurança, de sistemas protecionais e de procedimentos mandatórios as operações de todas as plantas da Hydro globalmente. Esse processo não apenas estabelece as recomendações de melhorias de risco, como atualiza nossa matriz de exposição a risco, e nos possibilita acesso a dados e informações de extrema qualidade para realizarmos negociações de seguro adequadas, customizadas e competitivas a nossa organização.

Sua empresa lida com uma série de riscos complexos. Quais são os mais críticos? E quais são os riscos futuros que você considera mais importantes – tanto como uma oportunidade para as seguradoras criarem soluções quanto em termos de proteção da empresa?

São vários os riscos aos quais nossas operações e plantas estão expostos, os quais mapeamos e estabelecemos diferentes soluções para reduzi-los ou mitigá-los. De forma objetiva, e considerando as principais exposições operacionais, eu diria que a característica de conectividade e de relação de dependência que nossos ativos detêm entre si aqui no Brasil, e a correlação dos mesmos com algumas operações internacionais, estabelecem uma relação de interdependência importante. Fora isso, riscos associados ao espectro ESG são importantes (especialmente em nosso segmento) e, apesar de muito bem tratados e gerenciados em nossas operações locais e internacionais, ainda carecem de melhores soluções e diferenciações do mercado segurador

Como você equilibra os riscos que a sua empresa deve assumir e os que vai transferir para o mercado de seguros?

Como dito anteriormente, através de avaliações de risco bastante criteriosas, mapeamento dos riscos mais vultosos, análise das soluções de transferência de riscos e sua competitividade na relação de custo-benefício, bem como o apetite de risco interno e a melhoria de nossas operações e segurança operacional. Isso estabelece internamente o que chamamos de análise TCOR, ou Total Cost of Risk, onde através da mesma conseguimos mensurar as melhores opções, alternativas e soluções que resultem em contratações equilibradas entre transferência de riscos ao mercado segurador, e retenção interna de riscos

Como define a sua jornada profissional até agora?

Extremamente prazerosa e enriquecedora! Dentro do mercado de Riscos e Seguros tive a oportunidade de passar por diferentes empresas e diferentes posições da trinca Seguradora, Corretor e Segurado. Comecei como Segurador, logo passei ao universo dos Corretores, onde apreendi muito e, especialmente, a trabalhar de maneira consultiva e diferenciada aos clientes, e não apenas de forma transacional e comercial. Isso alavancou minhas relações profissionais e conhecimento, fazendo com que grandes empresas nacionais e multinacionais me convidassem para assumir suas áreas de Gestão de Riscos e Seguros, posição esta (de Segurado) a qual mais tempo desempenho em minha história no mercado de Riscos e Seguros. Nem tudo foram flores, e tive diversos momentos de grandes desafios a serem superados. Mas acredito que todos eles, e junto a grandes equipes e colaboradores fantásticos, moldaram meu perfil profissional e alavancaram minha rede de relacionamento, experiencia, conhecimento e preparo, me tornando o profissional que sou hoje, e que ainda tem um caminho bastante longo a ser trilhado nesse nosso fascinante setor.

Um dos desafios dos gestores de riscos é que a importância do gerenciamento de risco seja mais valorizada na alta direção da empresa. Você concorda? Quais as ações que poderiam levar o seguro para a pauta ao comando e aos conselheiros de um grupo econômico? 

Concordo totalmente! Na Hydro, felizmente não enfrentamos essa situação, e temos acesso bastante amplo e frequente a alta direção da empresa, incluindo comitês de risco periódicos. Inclusive, uma curiosidade: A Hydro detém a Seguradora / Resseguradora Cativa em operação mais antiga do mundo, chamada Industriforsikring, atuante desde 1920 e com sede em Oslo, o que nos orgulha bastante. Porém, reconheço que esse cenário que temos na Hydro, infelizmente, não é regra, mas sim exceção, e muitas empresas ainda carecem do próprio investimento e atenção a seus Gestores de Risco e, em muitos casos, nem Gestores de Risco elas detém. Felizmente, é um cenário que vem mudando, e temos visto crescimento em número de Gestores de Risco serem designados em diferentes empresas e de diferentes setores. Que siga assim e que esse movimento seja bastante acelerado, uma vez que é saudável para todos.

Que conselhos daria ao gestor de risco?

Tive um diretor global que gostava de usar uma frase, a qual extremamente adequada a sua pergunta, e como eu acredito deva ser a atuação de qualquer Gestor de Riscos: “Stay safe and add value” (Esteja seguro e agregue valor). A posição de Gestor de Risco normalmente é uma posição corporativa, de área central e de suporte as áreas de negócio. Profissionais com perfis reativos, ou mais acomodados, tendem a não aparecer nem prosperar nessas funções, apesar de estarem fazendo bons trabalhos, pois não chegam a ser percebidos como ativos estratégicos das organizações e, consequentemente, sem a correta identificação de seus valores. Assim, o ideal é o Gestor de Risco ser pró-ativo, pensar sempre fora de sua zona de conforto, interagir e atuar com frequência junto as áreas de negócios e operações, buscando entender os riscos, novos rumos, novos projetos, novas operações. Desta forma o profissional terá a capacidade (e privilégio) de ter uma visão do todo, e poder identificar os riscos intrínsecos a cada negócio, e aqueles que se interagem entre áreas, permitindo uma atuação muito mais consultiva e de agregação de valor as organizações em suas propostas de transferência e retenção de riscos. É aquela velha máxima: Quem não é visto, não é lembrado!

O que mais te chama atenção no RIMS? Já participou outras vezes?

O RIMS e a RISK WORLD é simplesmente a maior organização de Gestão de Riscos do Mundo, e que promove o maior evento de Gestão de Riscos e Seguros do mundo. Ou seja, quem é alguém, ou quer ser alguém nesse nosso mercado, tem que estar aqui. Nesse ano completo já meu 12ª. Conferência Anual RIMS, e seguirei atendendo outras certamente. Pra mim, o maior valor deste evento é poder encontrar, interagir, negociar e se relacionar, com grande parte dos líderes mundiais de nosso mercado, ampliando e qualificando nosso network de forma incrível e muito relevante. Em qual outro lugar é possível, em um espaço de 4 dias, encontrar centenas de líderes globais de players relevantes de nosso mercado, bem como trocar experiência com milhares de profissionais de diferentes segmentos de toda indústria de Riscos e Seguros mundial? Essa, para mim, é a principal razão de atender a esse evento. Fora isso, as sessões de palestras e de compartilhamento de conhecimento são sempre enriquecedoras, e principalmente abordam temas sempre quentes e de tendências no mercado de Gestão de Riscos e Seguros.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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