Artigo: O protagonismo do mercado de seguros diante das mudanças climáticas 

Por Fátima Lima, diretora de sustentabilidade da Mapfre

O relógio está correndo em relação às mudanças climáticas. De acordo com dados da Organização Meteorológica Mundial (OMM), após nove anos consecutivos de temperaturas em níveis recorde, 2023 foi o ano mais quente já registrado na história. Por isso, não é exagero afirmar que as mudanças climáticas são o maior desafio que a humanidade enfrenta atualmente.

Para evitar impactos ainda piores para as atuais e futuras gerações, não há solução sem reduzir drasticamente as emissões de gases de efeito estufa e acelerar a transição para fontes de energia renovável. Mas os planos atuais ainda são insuficientes e não recuperam o tempo perdido. 

Num ano marcado por eventos climáticos extremos, a COP 28 – Cúpula Climática da ONU realizada em Dubai, no final de 2023 – buscou estratégias para enfrentar os desafios climáticos globais. Após intensas negociações, os quase 200 países presentes chegaram a um acordo marcando o “início do fim” da era dos combustíveis fósseis.  

Embora o documento tenha feito um apelo para que os países abandonem rapidamente esses sistemas, a ausência de um compromisso explícito para eliminação ou redução gradual dos combustíveis fósseis revela as lacunas na busca por soluções concretas para um problema que se acumula. Alcançado, justamente durante o ano mais quente já registrado na história, o acordo representa uma resposta inicial ao descumprimento dos objetivos do Acordo de Paris, indicando que ainda há um longo caminho a percorrer para limitar os efeitos da emergência climática, em especial o compromisso de tentar limitar o aquecimento da Terra em 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais. 

Para o setor de seguros, as mudanças climáticas são uma ameaça real. Precisamos entender o impacto dessas variáveis no negócio e acompanhar o que vem sendo discutido em nível global para que possamos nos orientar sobre investimentos futuros e, assim, tomar decisões seguras. Essa não é uma jornada fácil porque pressupõe que pessoas e organizações saiam da sua zona de conforto e pensem além daquilo que estão habitualmente acostumadas a entregar. Uma alternativa fundamental é a prevenção. Prevenir ainda é uma das formas mais seguras para evitar colapsos ambientais em um cenário de profundas mudanças como o que vivemos atualmente. E o seguro cumpre esse papel na sua essência, pois funciona como uma garantia na ocorrência de qualquer evento do tipo.

Outra opção é direcionar os investimentos com o objetivo de acelerar a transição energética para fontes renováveis de energia. Vivemos hoje em estado de alerta, que deve pôr fim às usinas térmicas a carvão e à produção de energias fósseis, transferindo suas subvenções às energias renováveis܂Vivemos em uma era de plena transformação socioambiental. As mudanças climáticas já afetam economias importantes e a transição para uma economia de baixo carbono está fazendo com que novos mercados surjam e outros desapareçam܂Se antes esse era um tema restrito a eventos internacionais como a COP, agora cada vez mais os efeitos das mudanças climáticas fazem parte do dia a dia das pessoas, que têm presenciado fortes ondas de calor e chuvas intensas e começam a entender a relação desses fenômenos com as alterações climáticas e o aquecimento global.

As intempéries climáticas não são uma novidade. Há alguns anos elas integram o mapa de riscos globais com maior impacto e probabilidade, capazes de afetar a prosperidade mundial. Ou seja, fazem parte da lista de riscos severos que impactam a sociedade e a economia, levando empresas a repensar suas atividades e a buscar novas formas de atuação. 

Segundo o Relatório de Riscos Globais 2023 produzido pelo Fórum Econômico Mundial, os riscos ASG (ambientais, sociais e de governança) estão entre as principais preocupações dos líderes mundiais. Tanto em relação aos próximos dois anos como na próxima década, dos 10 principais riscos apontados pelo estudo, oito estão relacionados às questões ambientais e sociais.

De maneira geral, todos (incluindo o setor de seguros) têm a responsabilidade de fazer sua parte para frear o avanço das mudanças climáticas, promovendo a inovação e o investimento em tecnologias verdes e freando o avanço das emissões de gases de efeito estufa geradas pelas energias fósseis e o desmatamento.

Como aquecimento global como pano de fundo, as catástrofes naturais estão ocupando o centro das preocupações das companhias de seguros em todo o mundo. Na visão das seguradoras, a questão ambiental (e sua variável climática) sempre foi considerada um risco financeiro em sua essência e extremamente relevante, uma vez que em nosso negócio oferecemos coberturas para riscos relacionados a fenômenos climáticos como secas e chuvas intensas.

Por isso, graças à sua expertise em antecipar e prevenir riscos, as seguradoras têm cada vez mais relevância para o entendimento e a gestão sustentável dos negócios e das cidades. Ou seja, diante das mudanças climáticas cada vez mais frequentes (como ondas de calor com temperaturas muito altas, estiagens mais intensas e chuvas), temos que fazer nossa parte para frear o avanço desses fenômenos e nos preparar para apoiar setores estratégicos, como o agronegócio, por exemplo.

Nosso papel é estudar e refletir sobre como essas questões relacionadas ao clima vão se comportar daqui para frente, para evitar prejuízos e minimizar os cenários de risco, principalmente os impactos nas carteiras. Daí a importância de investir cada vez mais na identificação dos níveis de vulnerabilidade, a partir de estudos científicos e trabalhos técnicos.

Esse é o caminho. O investimento em estudos para que possamos identificar quais são as vulnerabilidades que os negócios terão que enfrentar em relação aos impactos negativos e adversos das mudanças climáticas. E, nesse cenário, o seguro deve ser visto como um importante instrumento de gestão de riscos climáticos, capaz de manter a coesão social e a sua resiliência em cenários de caos.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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