Seguro contra perdas causadas por hackers volta à mesa de negociações

Insurtech Bluecyber levanta R$ 7 milhões para expandir oferta de seguro cibernético no Brasil, com planos de expansão para a América Latina

Eis o mais recente artigo publicado no Infomoney

De olho no crescente interesse da população com a proteção para ataques de hackers, a insurtech Bluecyber Seguros atraiu investidores e concluiu uma rodada pre-seed no valor total de R$ 7 milhões, liderada pela gestora de venture capital Invisto, com participação da Bossa Invest e investidores estratégicos do mercado de seguros.

Eles vislumbram um crescimento exponencial do seguro cibernético no Brasil e na América Latina. Trata-se do risco mais temido pelas empresas. Exemplos não faltam que justifiquem investimentos em proteção. São inúmeros. Só para citar um dos mais comentados pelos profissionais especialistas no assunto, em 2020, usando o login de um único funcionário, um hacker conseguiu mover-se dentro dos sistemas de computador de uma empresa de bebidas e fechar toda a operação.

A seguradora e as resseguradoras tiveram de desembolsar US$ 2 milhões para a companhia. Isso inclui quase US$ 1 milhão em receita perdida, US$ 600 mil em resgate para voltar online e honorários para advogados e especialistas em direito digital. O negócio tinha comprado uma apólice com um limite de US$ 10 milhões e estava pagando apenas US$ 21 mil em prêmios por ano, com uma franquia de US$ 25 mil.

Diante de prejuízos incalculáveis, com eventos catastróficos, causando dezenas de bilhões de dólares em danos, o mercado de re/seguros se retraiu para estudar mais como ofertar gestão e proteção de riscos. Depois de quase três anos com reajuste pesados e coberturas restritivas, pesquisas mostram um cenário mais promissor. Os preços dos seguros de segurança cibernética começaram a se estabilizar após anos de aumentos trimestrais nas taxas.

Porém, com condições de aceitação ainda severas. Quem não aceita as regras de proteção, por exemplo, paga cinco vezes mais. As restrições à cobertura de seguros cibernéticos – especialmente exclusões de guerra –, são a realidade deste potencial mercado. A preocupação com o potencial de mais catástrofes pós-pandemia, a guerra na Ucrânia, a epidemia de ransomware e o aperto dos reguladores, acionistas e outras partes interessadas relevantes fizeram com que muitas seguradoras repensassem a gestão de cenários que consideram potencialmente catastróficos.

Isso é considerado relevante pelos especialistas, pois muitas seguradoras reviram coberturas e a forma como as cláusulas são detalhadas, impondo mais transparência ao que está e não está coberto pelo seguro. Por outro lado, o campo do contrato dedicado a exclusões se ampliou.

Segundo o executivo, há um expressivo potencial de crescimento no Brasil. O mercado global de seguro cibernético segue com grande expectativa de crescimento. Segundo dados da Munich Re em 2019 o mercado global de Seguro Cyber movimentou US$ 5,8 bilhões e em 2022 saltou para US$ 11,9 bilhões. E as previsões são de fechar na casa de US$ 22 bilhões em 2025 e US$ 33,3 bilhões em 2027.

No mercado americano, segundo dados da NAIC (National Association of Insurance Comissionaire) no fechamento de 2022 o seguro cyber registrou vendas de US$ 9,7 bilhões em prêmios emitidos, refletindo um crescimento de 48% do período anterior e totalizando e 3,9 milhões de apólices.

No Brasil, o tema começa a ganhar corpo com algumas seguradoras testando o mercado com apoio dos resseguradores. Os números ainda são tímidos se comparados com o mercado americano, mas as expectativas são animadoras. Em 2019, o ano em que a Susep estabeleceu um ramo específico para cyber, o total de prêmio emitido foi de R$ 21 milhões e 2023 fechou com R$ 206 milhões.

O capital aportado na Bluecyber viabilizou a aquisição da ISMAC (www.ismac.io), startup que desenvolveu uma plataforma de Serviços de Segurança Gerenciados (MDR), que permite empresas, de todos os tamanhos e setores, contarem com uma plataforma de segurança da informação personalizável e de baixo custo.

“Com a aquisição da ISMAC, a Bluecyber incorpora uma plataforma de detecção e resposta a ameaças cibernéticas, que utiliza inteligência artificial e aprendizado de máquina para identificar e mitigar riscos em tempo real”, conta Eduardo Rocha, cofundador e CEO da Bluecyber.

A Bluecyber é uma MGA integral, no estilo americano, ou seja, desenvolve seus produtos, os canais de distribuição e recolhe os prêmios, sempre registrando suas apólices em parceria com uma seguradora regulamentada pela Susep, que no Brasil é a Seguros Sura. O foco da companhia está na proteção digital de PMEs e famílias em toda a América Latina. “A expectativa é fecharmos 2024 com 10 mil assinaturas de proteção digital em vigor”, conta.

Além de coberturas relacionadas a vazamento de dados que cobre indenizações a titulares de dados, multa de LGPD, honorários advocatícios, roubo de identidade digital, despesas com advogados para processo contra causadores de bullyings entre outros, a assinatura de proteção digital oferece Help Desk para assuntos tecnológicos do dia a dia de famílias em PMEs, disponibiliza antivírus sem custo adicional para ser instalados em todos os dispositivos do assinante. Oferece também monitoramento de vulnerabilidades em websites e nos dispositivos.

A estratégia de distribuição é baseada em canais tradicionais, principalmente os corretores de seguro, assim como também via canais não-tradicionais, como bancassurance e afinidades, em um formato 100% digital. 

A Bluecyber pretende expandir as equipes de desenvolvimento, subscrição e comercial, além do investimento em pesquisa e desenvolvimento para simplificar e massificar a proteção da vida digital de PMEe e famílias em toda América Latina, através de soluções via assinatura mensal, que incluem assistências, monitoramento de segurança, gerenciamento de risco cibernético, resposta a incidentes automatizadas e indenizações financeiras em casos de incidentes.

“Com a crescente sofisticação das ameaças cibernéticas, é fundamental que as empresas estejam preparadas para enfrentar os desafios de segurança digital. A ISMAC traz uma tecnologia de ponta, que nos permitirá antecipar e mitigar riscos, protegendo os ativos e a reputação de nossos segurados”, afirma Rocha. A expectativa é expandir as operações para outros países da América Latina ainda em 2024 em parceria com a Seguros Sura.

Daniel Arruda, fundador da ISMAC, e agora responsável pela gestão de risco e compliance da Bluecyber, enfatiza que “essa solução permite que a empresa monitore continuamente sua carteira de segurados, detectando e respondendo a incidentes de segurança de forma ágil e eficiente, minimizando o impacto de ataques e entregando mais valor para o segurado, além de diminuir a frequência e severidade dos sinistros.”

“Estamos entusiasmados com as oportunidades que a plataforma ISMAC pode nos agregar” comenta Claudio Macedo, cofundador da Bluecyber, que tem 36 anos de marcado segurador no Brasil e Europa e foi pioneiro na corretagem de seguro cibernético no Brasil desde 2017. “Estamos confiantes de que esta nova fase será um divisor de águas na indústria de seguros cibernéticos, trazendo soluções inovadoras e abrangentes para canais de distribuição, principalmente os corretores de seguros”, adiciona.

A ISMAC foi uma das startups aceleradas pelo AlperTech Startups em 2022, iniciativa de inovação da Alper Seguros. A Bluecyber e ISMAC se conheceram e se aproximaram no ambiente do INOVABRA, ecossistema de inovação mantido pelo Bradesco.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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