“Follow the money” é uma das estratégias da corretora de re/seguros WTW para avançar em 2024

“O mercado de seguros possui uma série de soluções e produtos que podem ser oferecidos aos clientes, mas é preciso, antes disso, entender o risco do consumidor”, afirma Eduardo Takahashi, “country líder” para a operação do Brasil

2024 é um ano importante para o setor de seguros. Será preciso muita garra para superar os resultados extraordinários que praticamente todas as companhias registraram, incluindo corretoras de seguros, seguradoras e resseguradoras obtiveram em 2023. Um misto de colheita de investimentos em tecnologias e talentos, taxa de juros elevada, ampliação do mercado de consumo com lançamento de produtos inovadores e ausência de grandes perdas causadas por catástrofes naturais ou pelo homem.

Para a corretora de seguros WTW, a terceira maior do mundo, o ano promete ainda mais adrenalina. Depois de um período em que esteve envolvida numa das maiores fusões dos últimos tempos com a AON, com acordo desfeito, a Willis entra em 2024 leve e preparada para a disputa no Brasil. Até 5 anos atrás, a concorrência entre corretores se limitava a cinco. Depois de diversas fusões e aquisições com capital nacional, estrangeiro e entrada de novos investidores no setor, é possível contar mais de 20 corretoras de re/seguros preparadas para conquistarem os maiores contratos no país.

“Fizemos um grande evento no dia 23 de janeiro. Fomos prestigiados e tivemos a honra de receber mais de 45 de nossos líderes globais e regionais de riscos corporativos em São Paulo para celebrarmos os excelentes resultados de 2023, planejarmos as ações estratégicas que executaremos em 2024 e reforçarmos o compromisso de continuar investindo em nossas capacidades e nossos talentos. O encontro foi uma oportunidade de compartilharmos experiências e estratégias, mas principalmente de reforçarmos nosso compromisso e foco total com o atendimento de excelência aos nossos clientes”, conta Eduardo Takahashi, “country líder” para a operação do Brasil.

Na pauta do encontro temas relevantes sobre recursos naturais, “supply chain” e seus desafios logísticos e a estratégia de investimentos no desenvolvimento do País no painel “Follow the Money”. “Acreditamos que uma gestão de riscos mais inteligente é essencial para as empresas que buscam prosperar em um mundo cada vez mais complexo e volátil”, comenta.

Leia abaixo os principais trechos da entrevista concedida ao Sonho Seguro.

Quais foram as principais tendências destacadas durante o evento?

Nos inspiramos na temática global da WTW ‘A Smarter Way to Risk’, ou uma abordagem mais inteligente para o risco, e aproveitamos o início do ano com a presença de mais de 45 líderes globais e regionais da WTW aqui no Brasil para ‘Desbloquear as perspectivas de riscos para 2024 para nossos clientes (Unlocking 2024 perspectives)’.

Com esta visão, identificamos cenários de risco e antecipamos tendências nos mais diversos segmentos de indústria, cada qual com suas particularidades, e de uma maneira assertiva, agregamos valor aos clientes com ‘insights’ e soluções para darmos sustentabilidade e resiliência aos seus negócios. Neste evento, especificamente, escolhemos 3 grandes temas estratégicos que englobam a nossa visão de oportunidades para a região e especialmente para o Brasil.

O primeiro painel, que chamamos carinhosamente de ‘Follow the Money’, ou como entender o fluxo de investimentos no País em projetos, industrialização, infraestrutura, fusões e aquisições, focou nos temas de financiamento e garantias, modelagem de riscos em construção e projetos e trouxe uma visão global e regional de boas práticas e de comportamento do mercado global de riscos e seguros.

O segundo painel, chamado ‘Supply Chain e os Desafios Logísticos’, trouxe um olhar estratégico sobre os desafios e a complexidade da movimentação de cargas em territórios continentais como o Brasil, nos seus mais diversos modais e com riscos de difícil gestão, como o roubo de carga, como exemplo.

O terceiro e último grande tema foi relacionado aos Recursos Naturais, sendo a América Latina uma das regiões mais prósperas no mundo em recursos minerais e energéticos, principalmente em energia renovável, e justamente por isso, neste primeiro painel, focamos em ‘Transição Energética’.

Pode comentar cada uma delas?

Follow the Money e a Infraestrutura: a tendência na infraestrutura está intrinsecamente ligada ao expressivo desenvolvimento de grandes obras no Brasil, impulsionado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e ao grande fluxo de investimentos em transportes, rodovias, aeroportos, ferrovias, energia, logística, mineração, petróleo e gás. Essas iniciativas, como projetos de construção civil e de infraestrutura pública, destacam a importância do seguro Garantia, por exemplo, que emerge como uma ferramenta essencial para mitigar riscos, assegurando a conclusão bem-sucedida de projetos e consequentemente o pagamento do financiamento obtido para realização destes projetos. Além disso, o seguro Garantia desempenha um papel crucial na atração de investimentos, proporcionando uma rede de segurança robusta para todas as partes envolvidas e junto com um ‘pacote’ completo de soluções de cobertura para riscos de construção, transportes, operação e responsabilidades traz o conforto ao investidor sobre o retorno do seu investimento.

Cadeia de Suprimentos e os desafios logísticos: O advento da pandemia, das recentes situações de conflitos internacionais e instabilidades políticas no mundo e o avanço da tecnologia e digitalização do comércio em geral nos mostrou a fragilidade da nossa cadeia de suprimentos global e a sensibilidade ao risco de ruptura desta cadeia aumentou consideravelmente. Além de tudo isso, no Brasil, ainda contamos com uma série de outros desafios de distância, infraestrutura precária, instabilidade social impactando no tão famigerado risco de roubo de cargas e é nossa obrigação buscar soluções inovadoras, tecnológicas e de valor aos nossos clientes. As recentes mudanças na Lei de Carga no Brasil adicionam uma camada adicional de complexidade, demandando soluções ágeis e personalizadas para se adaptar a esses novos cenários normativos. A gestão eficaz dos riscos nesse contexto torna-se crucial para a continuidade das operações e a sustentabilidade do setor.

Transição energética: A transição energética se destaca como um campo de vastas oportunidades de negócios, impulsionado pelo aumento da demanda por Green Energy e veículos elétricos, por exemplo. No entanto, para explorar plenamente essas oportunidades, o setor precisa se ajustar às novas tendências. Projetos de infraestrutura, como usinas eólicas, representam empreendimentos de grande porte que exigem soluções inovadoras e específicas para garantir o sucesso nesse cenário dinâmico. A adaptação proativa a essas tendências emergentes é essencial para posicionar as empresas na vanguarda da transição para fontes de energia mais sustentáveis. O Brasil tem um enorme potencial com sua matriz energética essencialmente vindo de renováveis, o que representa uma enorme oportunidade e pode servir de exemplo ao mundo de como contribuir para a agenda climática global. Saber usar a agenda ESG a nosso favor fará toda a diferença se conseguirmos associar cada uma das 3 letras dentro da visão de impacto para Riscos, Pessoas e Capital, criando uma matriz ‘9-Box’ de objetivos e soluções a serem perseguidos em cada uma dessas ‘caixinhas’.

As notícias sobre o setor sinalizam que 2024 será um ano mais movimentado em negócios, com investimentos saindo da gaveta. É isso mesmo?

De fato, observamos uma perspectiva otimista para 2024, com a expectativa de que investimentos que estavam represados se concretizem. Essa dinâmica é impulsionada por diversos fatores, como as oportunidades identificadas nas tendências mencionadas anteriormente, além de uma mudança favorável no cenário econômico e político. A previsão é de movimentação significativa em vários setores, beneficiando a construção civil, o mercado financeiro, logística, tecnologia e outros segmentos, tanto do ponto de vista de riscos quanto de pessoas e capital.

Quais os principais segmentos da economia brasileira beneficiados?

Diversos setores serão diretamente beneficiados por essa retomada de investimentos. Destaco a construção civil que já vem de uma curva de crescimento faz alguns anos e que receberá um impulso significativo com os projetos de infraestrutura em andamento e os que estão por vir. O mercado financeiro, incluindo bancos e instituições financeiras, também experimentará um aumento na demanda por soluções de seguros, especialmente diante do foco crescente em proteção contra riscos cibernéticos, novas possibilidades de alívio de capital com instrumentos de seguro de crédito e garantia, além de continuar apostando na massificação de produtos para pessoa física atrelados à eventual aumento na oferta de crédito com a redução gradual da taxa de juros. Não podemos esquecer do setor mais produtivo no País que é o agronegócio que continua muito forte e muito resiliente a despeito de todas as intempéries dos últimos anos e que pode ser um fator decisivo para a safra deste ano. O seguro precisa ser melhor entendido por este segmento. E cabe a nós liderarmos este processo de educação e de busca de melhores e mais inovadoras soluções no mercado de cobertura para riscos paramétricos. 

Recentemente, o governo lançou uma linha de crédito para modernização do parque industrial brasileiro e também acredito que muitas empresas se beneficiarão deste instrumento para buscar eficiência em suas linhas de produção com muita tecnologia e inovação, que também traz um cenário de riscos diferentes e emergentes que precisamos endereçar. Mineração e energia de maneira geral já são setores muito fortes e resilientes e continuam investimento fortemente para agregar valor ao seu negócio ao mesmo tempo que investem em diversificação mais fortemente na agenda de transição energética para que aumentarem a resiliência e sustentabilidade de seus negócios no longo prazo. Além disso, os setores de saúde, previdência e vida, farmacêutico, logística e de tecnologia estarão na linha de frente, aproveitando as oportunidades geradas pelas mudanças nas tendências e nos investimentos.

Quais os principais alertas para os clientes em gestão de risco?

Estamos observando uma mudança na percepção de riscos nos negócios brasileiros. A atenção está migrando para uma cultura mais voltada para a proteção de dados e questões ESG (ambientais, sociais e de governança). Os principais temas de risco incluem a transição energética, investimentos industriais, digitalização e riscos tecnológicos, além de eventos climáticos extremos. A automação crescente e os ataques cibernéticos impulsionam a necessidade de seguros cibernéticos. O plano de financiamento do governo para indústrias abre oportunidades para seguros ligados a projetos. A frequência crescente de eventos climáticos extremos destaca a importância de seguros climáticos, especialmente sob pressão de preocupações ESG.

Podemos dizer que o mercado de resseguros está menos hard?  E afirmar que está soft para clientes sem sinistros recentes?

O mercado de resseguros é essencialmente um mercado de acesso ao capital e funciona basicamente com os mesmos conceitos de um mercado financeiro quando falamos da equação risco x retorno. Os ciclos acompanham os acontecimentos e sinistralidade nas diferentes indústrias e regiões e, portanto, é difícil dizer especificamente sobre um determinado produto ou indústria, mas podemos dizer que há uma tendência de um aumento de capital em resseguro que acompanha a queda da taxa de juros de maneira global, o que faz com que os resseguradores sejam mais criteriosos na avaliação dos riscos, mas por outro lado, contam com mais capacidade para ofertar para os riscos de bom histórico.

E tudo isso regado a sustentabilidade…

Além das tendências e oportunidades mencionadas, é crucial ressaltar a importância crescente da sustentabilidade e da inovação nos negócios e o olhar cada vez mais voltado para o foco no cliente e em suas necessidades específicas. Em síntese, no evento ‘A Smarter way to risk: unlocking 2024 perspectives’, reforçamos a importância de uma abordagem inteligente na gestão de riscos, que vai além da simples proteção financeira. Compreender a fundo as necessidades dos clientes, adaptar estratégias inovadoras às demandas específicas da indústria e simplificar a linguagem de risco são fundamentais. Em um mercado internacional desafiador, a expertise das corretoras e consultorias se destaca, garantindo soluções de mitigação eficazes. A WTW reafirma seu compromisso em oferecer uma visão especializada, contribuindo para a eficiência na gestão de riscos diante da evolução dinâmica do cenário econômico e empresarial brasileiro.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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