As seguradoras, que administram uma carteira de investimentos de mais de R$ 1,5 trilhões, estavam de olho na decisão do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central. Por unanimidade, a decisão nesta quarta-feira (31) foi reduzir a taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 11,75% ao ano para 11,25% ao ano. A decisão foi unânime.
Este foi o quinto corte seguido na taxa básica de juros, que começou a recuar em agosto de 2023. Em 11,25%, a taxa permanece no menor nível desde março de 2022 – quando estava em 10,75% ao ano.
John Liu, diretor de investimento da Seguradora Zurich, diz que a conjunção de fatores internos e externos propiciou que o Copom mantivesse o ritmo do corte de juros, iniciado em 2023. “Com cenário de juros em queda, se espera mais estímulos para o consumo e investimentos, o que beneficia o setor de seguros”, disse.
A mediana das projeções para a inflação de 2024 voltou a cair na semana passada (de 3,87% para 3,86%). Outros indicadores positivos sinalizam uma perspectiva de crescimento do PIB do país, e a mediana das previsões para a evolução do Produto Interno Bruto para 2024 subiu de 1,59% para 1,60%, segundo o Relatório Focus do Banco Central.
Segundo ele, no cenário do mercado internacional, um ponto de atenção é o aumento das tensões geopolíticas. “Além das situações já existentes na Ucrânia e Palestina, problemas no Mar Vermelho estão elevando os fretes marítimos. Por conta dos ataques aos navios no Iêmen, as empresas mudaram as rotas no Oriente Médio”, comenta.
“Olhando para 2024, esperamos que continue nesta tendência conjunta de crescimento e resiliência econômica do Brasil, o que permitiria não apenas a continuidade do ritmo de cortes da Taxa Selic como também propiciaria um contexto favorável para o crescimento de seguros como prestamista, automóvel, residencial, entre outras modalidades para pessoa física e empresas”, acrescenta.
Em meio às discussões óbvias sobre o impacto da queda de juros na economia, Nuno David, diretor da MAG Seguros, destaca a relevância para o mercado de seguros no Brasil. “Mais crucial que flutuações econômicas ou políticas, o crescimento desse setor é condicionado pela baixa penetração do seguro de vida na população brasileira. A queda da taxa de juros, ao impulsionar a economia, desencadeia um ciclo positivo e estimula o avanço da classe média brasileira, um fenômeno contínuo desde o plano real. Esse crescimento favorece a ascensão de milhões de pessoas, impulsionando uma busca virtuosa por proteção financeira para atender necessidades básicas. Este movimento não se limita à busca por moradia, alimentação e lazer, mas se estende à preservação das conquistas alcançadas para as famílias”, afirma.
A redução de meio ponto percentual na taxa Selic não é o principal motor desse fenômeno, mas um sinal de crescimento econômico continuado e consistente da classe média, acrescenta o diretor da MAG. Para ele, esse panorama confirma a perspectiva de que o mercado de seguro de vida está destinado a se expandir. Embora o ritmo seja mais lento em comparação com outras economias globais, o caminho é de um crescimento sustentável.
“Essa tendência valida nossa compreensão de que, mais do que uma simples resposta a flutuações de taxas de juros, o mercado de seguros prospera em consonância com o avanço socioeconômico do país. Portanto, há confiança em um futuro contínuo de expansão para o setor”, comenta Nuno David.
Ginne Siqueira Diniz, superintendente de Investimentos da BB Previdência, uma das principais entidades de Previdência Fechada Complementar do País e que faz parte do conglomerado Banco do Brasil, prevê mais cortes. “Diante do comportamento da inflação, que está abaixo do limite superior da meta de 4,75%, a entidade monetária deverá promover mais cortes nas próximas reuniões subsequentes, e com a mesma magnitude, chegando ao patamar de 9% no final do ano”, afirma.
Segundo a executiva, apesar do cenário internacional adverso e das incertezas quanto a condução da política fiscal, a melhora da atividade econômica e o arrefecimento da inflação corroboram para o processo de queda da taxa básica de juros. A expectativa do mercado é que a Selic encerre o ano em 9%, de acordo com o Boletim Focus do BC.
Embora a BB Previdência tenha alocações majoritariamente em ativos que se beneficiam da queda da taxa básica de juros, como é a previsão para 2024, o atual cenário também tem levado a instituição a posicionar suas carteiras em outras categorias de ativos, favorecidos pela redução da Selic. “Contudo, a BB Previdência está compondo a carteira com ativos de baixo risco que possam proteger a rentabilidade, caso o cenário apresente uma reversão inesperada”, conclui Diniz.