Americanas confirma fraude. Como ficam os seguros de crédito, de garantia e de D&O?

A Americanas divulgou nesta manhã fato relevante sobre o desligamento da diretoria afastada após o relatório demonstrar fraude nas demonstrações financeiras. Pela primeira vez a varejista admitiu que ocorreu sim fraude contábil, comentada muita vezes em reportagens da grande mídia por especialistas em diversos segmentos.

No comunicado, a Americanas assume que o erro que culminou no rombo de R$ 20 bilhões, foi fruto da antiga administração da empresa, que incluía o ex-CEO, Miguel Gutierrez e três ex-diretores. De acordo com a Americanas, o conselho de administração e os conselheiros jurídicos apresentaram um relatório contendo achados preliminares acerca dos fatos narrados, no fato relevante anunciado em 11 de janeiro.

E agora, como ficam os seguros de crédito, de garantia e de responsabilidade civil dos executivos, apólice conhecida como Directors & Officer (D&O)? Vamos começar pela pior situação do ponto de vista do segurado, do cliente.

Segundo a mídia, a apólice de D&O tem cobertura de R$ 50 milhões liderada pela seguradora Zurich, de acordo com informações arquivadas na CVM. Como a fraude é um fato citado com veemência em todo o processo, a empresa perde a cobertura. Até que seja julgado, no entanto, as despesas e serviços prestados aos executivos eventualmente acionados por acionistas, devem ser pagos.

De acordo com advogados entrevistados pelo Sonho Seguro, a cobertura do D&O precisa ser avaliada pela conduta individual de cada segurado, isto é, cada executivo cujo ato de gestão está sendo objeto de questionamento pelas autoridades competentes. Um senso comum é que cabe somente ao Judiciário avaliar a natureza jurídica da conduta do executivo, ou seja, se foi um ato fraudulento ou uma conduta dolosa.

“Qualquer avaliação das seguradoras antes de o Judiciário analisar em definitivo a questão é precipitada e, a meu ver, não pode amparar uma negativa de cobertura. Seguradora não tem jurisdição”, explicou um advogado que pediu anonimato. Outro advogado já é bem mais categórico em relação ao D&O: “É bem provável que as seguradoras não paguem e declararem perda de direito”.

Em relação ao seguro garantia e de crédito as seguradoras podem continuar contabilizando as perdas, pois os pedidos de indenização seguem amparados. “No garantia, o segurado não pode ser prejudicado pelo tomador. E, no crédito, Americanas é devedora. Não pode prejudicar o segurado”, afirmou.

Estimativas do setor indicam que deverão ser pagas de R$ 2 bilhões a R$ 3 bilhões em indenizações aos fornecedores da companhia que haviam contratado seguro de crédito. É um valor significativo, uma vez que o ramo arrecadou cerca de R$ 800 milhões no ano passado, conta o InfoMoney.

O segundo mais afetado é o seguro garantia judicial, mas só perde se a Americanas falir. O que não é algo previsto para acontecer, diante de todo o trabalho de recuperação que vem sendo feito pelos acionistas. Segundo fontes do setor, a Americanas, era complicada no quesito “pagadora de impostos”. Questionam tudo e judicializam tudo, o que fez deles grandes usuários do seguro garantia judicial fiscal. A exposição é altíssima. Estimada entre R$ 4 bilhões a R$ 6 bilhões. “Se a empresa falir, será uma ‘hecatombe’ (massacre, matança, carnificina) no seguro garantia.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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