Fonte: Fitch
Os recentes eventos ocasionados pelas fortes tempestades tropicais, que resultaram em tragédia em diversos estados e municípios brasileiros, devido a enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra, testam novamente o perfil do Brasil para riscos de catástrofes naturais e podem afetar as seguradoras do país que estão mais expostas a coberturas de propriedades e automóveis.
O Brasil é comumente reconhecido por apresentar riscos de catástrofes naturais mais baixos do que os dos países vizinhos da América Latina, devido à sua localização geográfica. O país está menos exposto a fenômenos como terremotos e tsunamis, provocados por movimentos na crosta terrestre, bem como a furacões, tufões e ciclones, em razão da baixa temperatura de seus mares. Entretanto, as mudanças resultantes do aquecimento global nos últimos anos têm tornado cada vez mais comuns eventos extremos no país, como chuvas muito intensas e volumosas em curto espaço de tempo – o que, em conjunto com a urbanização desordenada, potencializa a ocorrência de desastres ambientais em diversas regiões do litoral brasileiro.
Apesar de enchentes, alagamentos e deslizamentos de terra serem o tipo de desastre natural com o maior número de fatalidades, estes eventos representaram, em conjunto, cerca de 18% dos problemas ambientais do Brasil entre 2013 e 2022, segundo relatório da Confederação Nacional de Municípios (CNM). O evento climático mais comum no país, por sua vez, é o de estiagem/seca, que representa em torno de 40% dos problemas ambientais.
De acordo com o relatório “Weather, Climate and Catastrophe Insight – 2023”, da gestora de risco Aon, enquanto o Brasil continua enfrentando os problemas relacionados à seca, outros eventos referentes a enchentes e inundações vêm impactando o país de forma significativa. As catástrofes naturais, segundo o documento, resultaram em uma perda econômica de aproximadamente USD5,5 bilhões, sendo USD4 bilhões relacionados à seca e o restante, a temporais e inundações. Além do impacto financeiro, as tempestades foram responsáveis por cerca de 460 fatalidades no país em 2022.
O aumento das catástrofes naturais no período de chuvas no Brasil pode afetar negativamente a rentabilidade e a capitalização de seguradoras mais concentradas e expostas a coberturas de propriedades e automóveis. Isto porque estes eventos devem se refletir no crescimento do número de sinistros que não eram previstos para estes ramos, tendo em vista que os valores segurados destes segmentos de negócio geralmente possuem baixa cobertura de resseguro no país. Estes efeitos podem impactar os ratings de Força Financeira de Seguradoras (FFS), já que o desempenho financeiro, a capitalização e a alavancagem são os principais direcionadores de rating considerados pela Fitch na análise de seguradoras.
Segundo a Federação Nacional de Seguros Gerais (FenSeg), os recentes eventos provocados pelos temporais no litoral norte de São Paulo durante o Carnaval fizeram disparar o acionamento de seguros de automóvel, com cerca de três mil pedidos de atendimento em 15 seguradoras. Entretanto, o impacto total financeiro da tragédia deve ser limitado, devido à baixa penetração de seguros no país. No Brasil, estima-se que apenas 30% da frota de automóveis possuem algum tipo de seguro; já para os ramos de vida e propriedade, este indicador fica em torno de 15%. Nos últimos meses, as seguradoras brasileiras com cobertura de automóveis vinham recuperando gradativamente sua rentabilidade e seus índices de sinistralidade, que haviam sido impactados pela inflação nos custos de reposição de peças, sobretudo no primeiro semestre de 2022. Os eventos recentes, portanto, representam um desafio a mais para esta recuperação.