Fitch: perspectiva positiva para o setor de seguros na América Latina em 2023, com desafios generalizados

A perspectiva da Fitch para o setor de seguros no Brasil é neutra para 2023, em linha com a Perspectiva Estável do rating soberano. As seguradoras brasileiras permanecem altamente influenciadas pelo soberano, devido à significativa exposição aos títulos do governo brasileiro e à concentração das operações no Brasil.

“Nossas perspectivas para o setor de seguros brasileiro incorporam os impactos da inflação nos custos de sinistros, principalmente para as seguradoras não vida, as tendências positivas dos indicadores de crescimento de prêmios do setor no 1S22 e as perspectivas sobre as principais variáveis macroeconômicas que sustentam o setor de seguros no Brasil”, I forma em comunicado.

A Fitch espera que a inflação caia para 6,5% no final do ano e para 5,2% no ano de 2023. No entanto, isso ainda estaria acima da meta do banco central. O Banco Central do Brasil elevou sua taxa básica de juros para 13,75% em agosto de 2022, e a Fitch acredita que isso representa o fim de seu ciclo de aperto.

Índice de sinistralidade e inflação

As seguradoras não vida correm maior risco de uma ação de rating negativa devido ao impacto adverso da inflação de sinistros nas margens e no capital, particularmente aquelas com maiores concentrações de linhas de negócios sensíveis à inflação. Apesar da tendência constante de crescimento de prêmios no setor de seguros, a sinistralidade foi pressionada a partir do 1S22, e esperamos que essa pressão diminua, mas a persistência da inflação ainda pode afetar a sinistralidade do setor.

Ambiente Operacional e Qualidade de Ativos

Em julho de 2022, a Fitch revisou a perspectiva do rating soberano brasileiro de negativa para estável, embora os desafios fiscais e de crescimento persistam. As perspectivas de crescimento também dependerão dos planos e sinalizações econômicas do novo governo eleito, principalmente no que diz respeito à política fiscal e à participação dos estados na economia. As carteiras de investimento das seguradoras da região são compostas principalmente por títulos de renda fixa públicos ou privados locais, portanto, o risco soberano também pode afetar diretamente a qualidade desses ativos.

Taxa de Juros e Desempenho Financeiro

A Fitch estima que a pressão inflacionária deve sustentar a manutenção dos juros em patamares mais elevados por mais tempo, o que deve impulsionar os resultados financeiros das seguradoras brasileiras, uma vez que a maior parte das carteiras das seguradoras está exposta a títulos públicos ou privados influenciados pela taxa Selic.

Ambiente de preços e penetração

A implantação do Open Insurance, sistema de compartilhamento de dados do setor em 2023, pode trazer novidades aos consumidores e aumentar a competitividade do setor, bem como a implantação de novas tecnologias. Por outro lado, a Fitch espera que a atividade econômica desacelere no restante de 2022 e 2023 como resultado do aperto da política monetária doméstica e do crescimento global mais lento. O crescimento dos prêmios no mercado de seguros apresentou índices sólidos, com crescimento de 16% no 1S22. Apesar disso, menor crescimento econômico pode afetar produção prêmios nos próximos períodos.

Saúde, um mercado com perspectiva neutra

A perspectiva para o setor de saúde no Brasil é neutra em 2023, de acordo com relatório da Fitch Ratings publicado hoje. O volume de exames e procedimentos deve crescer a taxas mais moderadas do que as observadas no biênio 2021-2022, quando a demanda ainda estava aquecida em decorrência do represamento provocado pela pandemia de Covid-19 e da variante Ômicron, no início deste ano.
A recuperação das margens operacionais das companhias do setor de saúde deve ocorrer de forma mais lenta que o inicialmente esperado, devido a um ambiente de negociações de preços ainda duro e a uma base de custos acima dos níveis pré-pandemia. Os movimentos de fusões e aquisições também devem desacelerar, uma vez que as empresas tendem a buscar equilibrar seus balanços e a recuperar suas margens.

A longo prazo, os fundamentos de demanda se mantêm sólidos, apoiados no envelhecimento da população, no elevado mercado endereçável de beneficiários (apenas 25% da população possuem planos de saúde privados) e nos contínuos avanços na descoberta de novos tratamentos.

“O setor de saúde passou por grandes transformações nos últimos dois anos, e o retorno aos níveis pré-pandemia deve ser mais lento que o inicialmente esperado. A demanda deve se manter aquecida em 2023, porém o ambiente de negociação de preços entre prestadores de serviços e operadoras de saúde se mantém pressionado, podendo ter reflexos no capital de giro das empresas, além de limitar maiores avanços em sua rentabilidade.”, afirma Tatiana Thomaz, analista sênior da Fitch.

América Latina

Fitch Ratings espera que o crescimento do mercado de seguros na América Latina permaneça positivo em 2023, mas em níveis mais modestos alinhados com as projeções do PIB. “Esperamos que o desempenho financeiro da região apresente resultados mistos com melhora em alguns mercados, mas com desafios generalizados. Esperamos que o desempenho financeiro da região apresente resultados mistos com melhora em alguns mercados, mas com desafios generalizados”, comentou Eduardo Recinos, Diretor Sênior, em nota.

A expectativa é de que o desempenho financeiro da região exiba resultados mistos com melhora em alguns mercados, mas com desafios generalizados. Os desafios estão nos segmentos não vida devido à alta inflação persistente, desvalorização da moeda e aumento dos preços do resseguro. No entanto, o desempenho geral da região continua sendo desafiado devido à incerteza nos ambientes macroeconômicos, instabilidade política e crescentes temores de uma recessão global”.

A perspectiva de 2023 para o setor de seguros da América Latina é neutra na maioria dos mercados com base no perfil estável da indústria e ambientes operacionais (IPOE). A perspectiva do setor considera o crescimento dos prêmios alinhado com o crescimento econômico, a normalização das taxas de perda de vida e saúde para os níveis pré-pandêmicos e os ajustes de preços nas linhas de negócios não vida que podem beneficiar o desempenho da subscrição. No entanto, a volatilidade do mercado financeiro pode afetar a lucratividade em alguns mercados.

A Fitch espera que os setores de seguros na Colômbia, El Salvador, Peru e Não Vida no Chile se deteriorem, considerando que o menor crescimento econômico, as desvalorizações cambiais e a persistência de altos níveis de inflação podem continuar afetando os custos de sinistros do ramo Não Vida, especialmente o ramo de automóveis que podem não ser totalmente compensados por ajustes de preços. Os ratings soberanos e seus potenciais efeitos nos IPOEs influenciarão alguns setores de seguros, uma vez que as carteiras de investimentos permanecem expostas a títulos públicos e as operações estão concentradas nas economias domésticas.

Apenas um setor de seguros tem uma perspectiva de melhoria do setor – Guatemala. Isso se baseia na revisão para cima em sua Perspectiva de rating soberano para Positiva de Estável, o que pode levar a um ajuste favorável em seu IPOE. O setor também pode se beneficiar de boas condições econômicas, pois espera-se que o país tenha a taxa de crescimento do PIB mais forte da América Central em 2023, o que deve se traduzir em crescimento de prêmios favorável e melhor desempenho de subscriçao.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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