Até o Padre Fabio de Melo reclama do preço para renovar o seguro de carro

Mais de 270 mil pessoas curtiram o post, que registrava mais de 8,1 mil comentários em dois dias no ar

Enquanto todos comentavam sobre os novos ministros e os motivos que levaram o Brasil a sair da disputa dos jogos, Padre Fábio de Melo, que tem mais de 25,8 milhões de seguidores no Instagram, mostrou seu susto e pesar ao ler a mensagem do corretor de seguros sobre a renovação do seguro de carro. Com a música de fundo “Socorro Deus”, ele posta o print da mensagem do corretor de seguros:

Ele tem razão. O seguro de carro encareceu substancialmente, ainda mais se considerarmos que o poder de compra do trabalhador diminuiu. Para alguns, chega a ser até inviável. E qual a explicação do setor para isso? Aumento dos custos de indenizações e reparos.

Segundo tem dito em entrevistas o CEO da Porto, a maior seguradora de carros do Brasil, o reajuste do seguro foi necessário para equilibrar a rentabilidade da carteira. A seguradora previa pagar um valor X ao cliente que tivesse perda total do carro. Mas com a inflação teve de pagar um valor que em alguns casos chegou a ser 40% superior, o que gerou prejuízos. A justificativa é a falta de peças para as montadoras entregarem carros zero quilômetro nas concessionárias, o que aumentou a demanda — e o preço — dos carros novos e dos usados. Além do custo maior para reparar veículos com perda parcial.

Segundo Santos, o impacto no valor de mercado de seminovos já está voltando a um patamar adequado. Ainda elevado, mas deixou de subir. Em sua opinião, a indústria agiu de forma responsável fazendo adequação de preços, porém o consumidor sentiu no bolso. E como sentiu. Muitos deixaram de fazer o seguro ou buscaram opções mais acessíveis.

As vendas de seguro automóvel da Porto alcançaram R$ 5,1 bilhões no terceiro trimestre, com alta anual de 25%. De acordo com a Porto, o crescimento reflete os reajustes de preços realizados. A frota segurada total apresentou leve recuo, com queda de 1,8% na comparação com o terceiro trimestre do ano passado e recuo de 0,3% frente ao segundo trimestre deste ano. A base de veículos segurados ficou em 5,67 milhões ante 5,78 milhões um ano antes. 

Antonio Trindade, presidente da Federação Nacional de Seguros Gerais, também cita a inflação e falta de peças. “As companhias venderam um contrato calculando um valor de indenização e tiveram de pagar outro maior. Os preços foram reajustados para o equilíbrio da carteira. Mas já percebemos a normalização da situação e acreditamos que em 2023 os preços do seguro de carro fiquem estáveis”, disse Trindade.

Estáveis no pico de alta? Para alguns sim, para outros talvez não. Tudo vai depender da análise do perfil e da temperatura da concorrência entre as seguradoras. Se alguma companhia precisa fazer caixa, é no seguro de carro que ela encontra o mais rápido retorno para elevar as vendas, por este produto ser muito procurado pelos consumidores, que temem sair de casa sem uma proteção financeira que os livre de danos causados a terceiros e também ao próprio bem.

De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA-IBGE), no acumulado dos últimos 12 meses considerando setembro deste ano, a alta é de 43,63% na média nacional. A última variação negativa foi em junho do ano passado, quando o seguro caiu 1,59%. Segundo o Índice de Preços do Seguro Automóvel (IPSA), realizado pela TEx, a variação mensal dos preços do seguro auto é determinada de acordo com gênero, região, faixa etária e idade do veículo. Em janeiro deste ano, ao contratar o serviço para um automóvel de R$ 50 mil, o cliente pagava R$ 2.850 pelo seguro, na média do cálculo. Em outubro, o preço ficou em R$ 3.250. Uma diferença de R$ 400 no bolso dos motoristas.

Mas esta é apenas uma média. Os consumidores com carros até cinco anos de uso e sem registro de acidentes, devem sofrer menos. Já aqueles com veículos mais velhos e com registro de acidentes, certamente serão mais penalizados com alta de preços. Mas como de praxe, se o consumidor não aceitar o preço e passar a cortar o seguro, o preço tende a cair. A certeza que temos é que haverá muita guerra de preços em 2023 e que o consumidor deve ficar atento e pedir aos corretores de seguros uma avaliação mais vantajosa na negociação.

O post do Padre Fabio mostra que as pessoas estão muito atentas ao seguro de carro. Mais de 270 mil pessoas curtiram o post, que registrava mais de 8,1 mil comentários em dois dias no ar (sexta a domingo), alguns deles de corretores de seguros prometendo uma melhor negociação. Um seguidor tenta amenizar, mas é uma voz solitária no sofrimento dos brasileiros com as contas a pagar. “Padre, pense pelo lado bom. Já que a seleção não venceu, o seguro vence.” E as respostas, unânimes, criticam e mostram o peso do seguro no orçamento: “Chutou a cabeça do defunto”. “E ainda enfiou o chumaço de algodão na goela”.

Havia uma expectativa de que as insurtechs apresentariam preços mais baratos que as apólices tradicionais, com os seguros flexíveis ainda. Mas a realidade que se vê é que os consumidores não compraram ainda a ideia dos seguros liga e desliga, que monitoram o como os motoristas dirigem e onde trafegam. O modelo foi autorizado há um ano pela Superintendência de Seguros Privados (Susep), órgão federal que regulamenta o setor. Há contratos que cobrem, por exemplo, apenas roubo e furto ou apenas colisões. As seguradoras tradicionais, no entanto, lançaram versões mais enxutas, que apresentam bom desempenho de vendas, como na Liberty Seguros, que criou a marca Aliro Seguros, numa versão mais acessível ao consumidor, e na Porto, que tem na marca Azul opções de seguros com coberturas mais restritas e, por isso, mais barato.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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