Crescimento moderado na América Latina em meio a crescentes ventos contrários 

Muito mudou no último ano. Alcançando uma desaceleração da COVID-19 e enfrentando os efeitos das mudanças climáticas e questões políticas globais, a economia mundial está sob pressão crescente. O novo relatório sigma “Inflationary recessions re-price risk: global economic and insurance outlook 2023/24” prevê um crescimento do PIB mundial de 1,7% em 2023, à medida que as recessões inflacionárias se desenrolam nas principais economias.

O relatório de mercado da América Latina do Swiss Re Institute prevê um crescimento moderado do PIB para 1,3% no próximo ano, abaixo dos 3,1% esperados para este ano. As condições financeiras mais apertadas, os preços de commodities mais baixos (mas ainda altos) e a desaceleração econômica global pesarão no crescimento regional.

“Do nosso ponto de vista, a economia global esfriará visivelmente sob o peso da inflação e dos choques das taxas de juros. A reavaliação do risco na economia real e nos mercados financeiros é, na verdade, saudável e positiva a longo prazo”, comenta Jérôme Haegeli, economista chefe do grupo Swiss Re. Taxas livres de risco mais elevadas devem significar maiores retornos para investimentos na economia real. Nestes tempos desafiadores – e para o período de recuperação econômica à frente – o setor de seguros pode mostrar seu valor, pois oferece resiliência financeira em todos os níveis da sociedade”. 

De acordo com o Swiss Re Institute, as principais economias, especialmente na Europa, provavelmente enfrentarão recessões inflacionárias nos próximos 12-18 meses, em meio a taxas de juros mais altas. Prevê-se que o crescimento global do PIB desacelere para 1.7% em 2023, ante 2.8% em 2022. 

O Swiss Re Institute prevê 5.4% de inflação média anual do IPC global em 2023 e 3.5% em 2024, abaixo dos 8.1% em 2022. Apesar da esperada moderação do ritmo, a inflação deverá permanecer volátil e persistentemente acima das médias históricas. Para as seguradoras, a inflação é um desafio pois corrói o crescimento dos prêmios nominais, tem impacto na demanda global e cria custos mais altos de sinistros em linhas de seguro não-vida. 

  • Qual o cenário para o Brasil?

  • Esperamos um crescimento econômico moderado de 0.4% no Brasil no próximo ano, abaixo dos 2.6% estimados para este ano. A atividade econômica foi mais intensa do que o esperado em 2022 devido às condições externas favoráveis, com o aumento das receitas de exportação devido aos preços mais altos das commodities e uma nova rodada de transferências de dinheiro do governo para as famílias impulsionou o consumo.
  • A agenda de reformas permanece incerta e os encargos da dívida persistem. Esperamos que a inflação desacelere em 2023 para uma média de 6.4%, de uma estimativa de 9.7% em 2022, mas ainda acima da meta do banco central de 3.25% (a quarta vez consecutiva). O Brasil tem lutado contra uma inflação alta há mais de um ano, mas acreditamos que os preços atingiram o pico no segundo trimestre de 2022 e as pressões inflacionárias começaram a diminuir.
  • Prevemos que os prêmios totais crescerão 3% em termos reais em 2023, abaixo dos 4.3% estimados em 2022. O crescimento foi impulsionado por não-vida e isso continuará, embora esperamos que o crescimento dos prêmios de vida se fortaleça também no próximo ano. O mercado de seguros tem se mostrado mais resiliente do que o esperado, refletindo a atividade econômica favorável, o endurecimento das tarifas devido à inflação e a maior conscientização do público sobre o seguro de vida pós-pandemia.
  • Inovação, transformação digital e condições regulatórias mais favoráveis como o Open Insurance (o compartilhamento padronizado de dados e serviços por meio da abertura e integração de sistemas) têm impulsionado importantes mudanças no mercado nos últimos anos. Estes impulsionadores continuarão a criar novas oportunidades de negócios para aumentar a penetração no mercado e o crescimento acima da tendência. Nossa pesquisa global com consumidores de 2022 constatou que mais de 50% dos entrevistados no Brasil planejam usar mais os canais digitais para suas necessidades relacionadas com o seguro.
  • Prevemos que os prêmios de L&H aumentarão 2.3% em 2023, acima dos 1.1% estimados em 2022. A alta inflação corroeu crescimento nominal dos prêmios de vida, com o crescimento negativo dos produtos de risco compensado pelos produtos de poupança no primeiro semestre. O alto desemprego limitará a demanda por seguro saúde (1 a 2%), que em grande parte vem de planos de benefícios do empregador.
  • Projetamos um crescimento acima da tendência nos prêmios não vida de 4.5% em 2023, após um forte crescimento em 2022 (estimado 12%). O crescimento deste ano foi impulsionado pelos prêmios de automóveis, devido aos preços mais altos dos veículos e uma recuperação nas vendas de veículos (cerca de 30% de novos registros em agosto passado). No entanto, os aumentos de preços dos veículos provavelmente diminuirão à medida que as cadeias de produção se normalizarem.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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