Seguros e previdência: pesquisa apresenta o novo perfil da geração 50+ 

Planejamento é a palavra de ordem: estudo do Data8, apresentado durante o X Fórum Nacional da Fenaprevi, mostra que longevidade traz desafios, mas abre oportunidades

As mudanças impostas pela pandemia também afetaram o padrão de comportamento de consumo de homens e mulheres com mais de 50 anos (os chamados “50+”). É o que indica uma pesquisa inédita conduzida pelo Núcleo Data8, da consultoria Hype 50+, apresentada durante o X Fórum Nacional de Seguro de Vida e Previdência Privada da Fenaprevi, realizado no início do mês em São Paulo/SP.

“O estudo buscou entender as diferenças encontradas nos novos ciclos dessa faixa da população brasileira no momento em que caminhamos para o fim da crise sanitária, e que certamente provocou novos comportamentos e mudanças no dia a dia profissional, na vida pessoal e também na forma de consumir dessa geração”, explica a especialista no mercado de longevidade e sócia-fundadora do Data8 Hype 50+, Clea Klouri.

De acordo com a pesquisadora, está na hora de aposentar o conceito de “velho” que já está ficando para trás, em especial por meio de discussões na mídia. Ela defende o combate ao chamado “etarismo”, que é a discriminação contra pessoas com base na idade, e chama atenção para o termo “Middlescence”, relacionado ao período ou condição da meia-idade e que representa o que é hoje a nova cara da maturidade, num perfil de 45 a 65 anos.

Segundo o IBGE, dados deste ano apontam que já são quase 55 milhões de brasileiros acima de 50 anos, ou seja, 25% da população brasileira. O mercado formado pelos “50+” movimenta, aproximadamente, dois trilhões de reais só no País. No mundo, o valor ultrapassa 15 trilhões de dólares.

Características dos 50+ 

O crescimento do número de consumidores maduros dá o tom da urgência das discussões de inclusão em vários setores da sociedade. “Essa é a primeira vez que até quatro gerações das famílias coexistem, e essa característica transforma toda a dinâmica das relações, principalmente, todo o planejamento financeiro”, afirmou Clea.

Segundo a pesquisa, 39% dos brasileiros “50+” dizem que são a única fonte de renda de sua casa, e 73% dos brasileiros “55+” dizem que vivem do seu próprio sustento, sem depender de filhos e/ou netos. 

Além disso, 60% dos brasileiros “50+” dizem que não se sentem com a idade que têm. Já 40% dos brasileiros “65+” afirmam que vão viver mais de cem anos. 

Os números revelam também que a parcela madura da população tem adquirido cada vez mais autonomia digital, além de indicar que sua participação na internet já não é nada desprezível. 

Segundo o Data8, 77% dos brasileiros “50+” acessam a internet todos os dias, e 43% dos brasileiros “50+” compraram produtos e/ou serviços pela internet nos últimos 12 meses. E 7 de cada 10 brasileiros “50+” usam as redes sociais para se conectar profissionalmente.

Paralelamente à uma maior conectividade, o perfil de consumo também ganhou destaque. De acordo com o estudo, pessoas maduras no Brasil tendem a buscar prazeres imediatos na vida, a aproveitar o agora. 

Novos perfis de consumo

A pesquisa mapeou em 2021 cinco perfis inéditos de consumidores brasileiros acima de 50 anos. São eles:

Autossuficientes: se preparam para quando se tornarem dependentes, a fim de custear uma estrutura que não impacte a família;

Sábios: conquistaram reconhecimento e poder de influência dentro do seu grupo social, seja por uma carreira profissional bem-sucedida, seja por uma experiência e bagagem de vida que os diferencia dos demais;

Agregadores: perfil mais tradicional que costuma agregar pessoas da família ao entorno de si e cuidam de parentes, inclusive financeiramente;

Cuidadoras: pessoas que se responsabilizam diretamente por parentes, quase sempre vivem com um ou mais membros da família e se dedicam a cuidar dos familiares, inclusive parando de trabalhar para isso. São pessoas normalmente mais estressadas e que demandam apoio emocional;

Exploradores: buscam viver de maneira mais livre, sem amarras familiares e explorando as possibilidades da maturidade, investindo apenas em si. Neste perfil as pessoas tendem a gastar mais do que ganham.

Longevidade vs planejamento financeiro

Para Clea, apoio emocional e educação financeira são fatores-chave para a melhora da qualidade de vida de todos esses perfis.

O estudo do Data8 traz ainda um alerta: existe o desafio comum de que ninguém se preparou financeiramente para a extensão da vida, em especial no que diz respeito à aposentadoria. 

Mas, Clea complementa explicando que esse novo perfil de pessoas tem trazido iniciativas para lidar e/ou custear a vida dos “maduros”. E para ilustrar apresentou projetos, startups e iniciativas de marketing focados em pessoas 50+, incluindo marketplaces adaptados. 

“Com a extensão da vida, os novos ciclos apresentam desafios, mas um campo de muitas oportunidades de viver diversas vidas dentro desta. E o planejamento se torna ainda mais essencial em uma trajetória não linear”, defende.

Senioridade nos EUA

Srinivas D. Reddy, convidado internacional trazido pela Fenaprevi especialmente para o Painel da parte da tarde sobre longevidade e planejamento, trouxe um pouco do cenário da senioridade nos Estados Unidos. 

Segundo o vice-presidente sênior de soluções de previdência e renda do Principal Financial Group, a população de idosos/aposentados é grande e tende a aumentar ainda mais nos próximos 7 anos. 

Ele conta que neste contexto, há duas novas questões no país norte americano: a primeira, onde os atuais aposentados não contam mais com o apoio das empresas, como acontecia até os anos 70. E a outra é o aumento da expectativa de vida e, consequentemente, do período de usufruto da aposentadoria, o que deve impactar financeiramente as provedoras de previdência privada.

Outro ponto desafiador para Reddy é o comportamento do cidadão em relação às economias. Embora a maioria das pessoas saiba que é mais prudente guardar recursos ou investir em previdência privada antes de pensar em qualquer outra despesa, a prática quase sempre é diferente da teoria. E as empresas precisam considerar isso.

Para transformar este comportamento, é importante estruturar bem as informações sobre as opções de mercado, para que o consumidor tenha mais chances de fazer a escolha certa. Isso também requer um trabalho de informação e educação, utilizando todos os recursos disponíveis, como comunicação visual, comparações e estatísticas.

Reddy destacou ainda o papel da ciência na longevidade, mas chama atenção para o fato de que dessa maneira, vive-se mais, mas não se vive melhor. Há mais problemas de saúde que demandam outros cuidados, logo, mais despesas. Para um cidadão sem cobertura previdenciária adequada, e que isso leva à escolhas difíceis sobre onde empregar a renda disponível e que problemas resolver primeiro.

Há ainda outras questões a serem consideradas, como a perda de espaço no mercado de trabalho, os limites físicos, o crescente índice de divórcios entre idosos que ao pararem de trabalhar encontram dificuldades incontornáveis no convívio, e também o declínio cognitivo. De acordo com o painelista, estes são pontos que compõem o cenário econômico projetado para o futuro do setor previdenciário nos EUA.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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