MAPFRE Economics eleva previsão de crescimento real do PIB do Brasil para 1,1% em 2022  

Em maio, área de pesquisas da seguradora havia ajustado o crescimento para 0,7%, mas indicadores econômicos do primeiro semestre geraram novas estimativas para o País

Fonte: Mapfre

A MAPFRE Economics — área do Grupo MAPFRE dedicada a pesquisas e análises sobre seguros, previdência, macroeconomia e finanças – elevou, em sua atualização da pesquisa “Panorama Econômico e Setorial: Perspectivas para o 3º Trimestre 2022”, a previsão para o crescimento real do PIB do Brasil. A partir de indicadores econômicos do primeiro semestre, o levantamento aponta que a economia brasileira crescerá 1,1% este ano – em maio, a área de pesquisas da seguradora havia previsto crescimento de 0,7%.

De acordo com o estudo, o consumo interno está se comportando bem, assim como as exportações, beneficiadas pelos maiores preços das matérias-primas. “Alguns indicadores de atividade ainda surpreendem pelo lado positivo, como as vendas no varejo. Esse efeito é estimado pela demanda que não pôde ser atendida durante a pandemia e que acumulou capital”, comenta Manuel Aguilera, diretor-geral da MAPFRE Economics.
 

Ainda segundo o levantamento, a economia brasileira desacelera no segundo semestre do ano devido à inflação mais alta e às taxas de juros oficiais ainda em patamares mais altos. “Para 2023, esperamos um crescimento do PIB de 1,0%, que dependerá da evolução da inflação doméstica e dos preços das matérias-primas nos mercados internacionais”, prevê Aguilera.
 

Para a MAPFRE Economics, mesmo com o anúncio do governo brasileiro em reduzir impostos, os itens mais afetados pela inflação são combustíveis automotivos, gás e alimentos. Na avaliação da área de pesquisas, a inflação futura pode subir, principalmente, porque os preços dos combustíveis ainda estão em patamares mais baixos em relação aos mercados internacionais. “Os altos preços do petróleo e de outras matérias-primas beneficiam as exportações, embora, devido à limitada capacidade de refino, o Brasil seja um importador líquido de combustíveis refinados. Acreditamos que a contenção de preços em 2022, por meio de auxílios governamentais está subvalorizando a inflação de 2022 em detrimento de 2023”, avalia o executivo. 

Na análise da MAPFRE Economics, a política monetária do Banco Central de aumento da taxa de juros (Selic) terá um efeito defasado e, por enquanto, não está conseguindo limitar a inflação, porque enfrenta um efeito global de compressão da oferta. Assim, um aperto excessivo da política monetária poderia agravar ainda mais a desaceleração. “Ao nível dos riscos para a economia brasileira, a inflação agrava a possibilidade de desaceleração econômica e desvalorização da moeda. Os cortes de impostos planejados e a ajuda em curso para combater a inflação continuarão a pressionar o déficit e a dívida pública”, comenta Manuel Aguilera. 


Previsões para o mercado segurador brasileiro

Como apontado pela área de estudos da MAPFRE, mantêm-se as previsões para um abrandamento da economia como consequência do aperto da política monetária, embora as expectativas melhorem ligeiramente com uma previsão de crescimento real do PIB de 1,1% em 2022. A fragilidade do crescimento econômico num contexto de restrições das condições de financiamento poderá atenuar o crescimento do mercado brasileiro de seguros Não Vida, após a recuperação registada no ano anterior. Os problemas nas cadeias de suprimentos globais continuam afetando a produção de automóveis e os novos registros de veículos, que continuarão a pesar no negócio de seguros de automóveis. 

A inflação, por sua vez, não está completamente sob controle, o que obrigou o Banco Central a apertar sua política monetária com novos aumentos das taxas de juros. Este ambiente de taxas de juros é favorável ao desenvolvimento do negócio Vida e rendas vitalícias enquanto instrumento utilizado pelas famílias para se protegerem da subida da inflação, embora o seu baixo rendimento disponível possa reduzir a sua capacidade de poupança. Nas curvas de taxas de juros sem risco, o estudo da MAPFRE Economics observa um achatamento da curva em junho, apresentando uma ligeira inclinação negativa nas suas primeiras divisões, o que poderá favorecer o desenvolvimento de produtos lastreados em títulos soberanos de curto prazo (VGBL e PGBL), muito comuns neste mercado.


Perspectivas para a economia mundial
 

O relatório “Panorama Econômico e Setorial: Perspectivas para o 3º Trimestre 2022” aponta que, ao longo do segundo trimestre de 2022, a economia global continuou caminhando para um cenário de deterioração da atividade e taxas de inflação mais altas. Isso levou a MAPFRE Economics a aplicar uma redução em suas previsões para o ano inteiro em seu cenário base, de 3,6% para 3%, e “com um aumento de sinais sobre uma possível recessão”.

Para traçar este cenário, a MAPFRE Economics contabilizou uma confluência de eventos: tensões nas cadeias de suprimentos, cujo principal componente está na China após a continuação de políticas de tolerância zero contra o Covid-19; o consequente contágio à cadeia de valor global, que deixa a recuperação de uma oferta ainda mais limitada; o alongamento do componente geopolítico, que aprofunda a crise alimentar e energética; e os bancos centrais apertando suas políticas monetárias em resposta a um ambiente inflacionário de persistência incerta, que começa a permear as expectativas dos agentes, por meio de uma contração de rendimentos reais, e que estabelecem as bases “para que certas vulnerabilidades sejam integradas a um regime inflacionário estruturalmente mais elevado”.

Esses fatores terão, segundo os analistas da MAPFRE Economics, um impacto maior na zona do euro do que nos EUA. Na região do euro, permanece a expectativa de crescimento, no cenário base, de 2,7% e 1,8% para 2022 e 2023, respectivamente (ante 2,9% e 2,7% anteriormente). “As restrições continuam sendo seus altos problemas de dependência energética e acessibilidade, bem como pressões de preços. Acrescenta-se a essa política monetária desfavorável que reequilibra a demanda agregada e reativa o risco de fragmentação, levando a uma influência negativa no comportamento dos gastos públicos com assimetrias por país”, explica Manuel Aguilera.


Impacto no setor de seguros mundial

O relatório da MAPFRE Economics, como de costume, inclui uma análise de como as previsões afetam o desempenho do setor de seguros. Os analistas reconhecem que o aperto da política monetária reduzirá a demanda agregada, esfriando a economia em um ambiente de inflação mais alta e duradoura do que o esperado, que diminui o poder de compra das famílias e as margens corporativas. No entanto, e embora o ambiente seja complexo para o setor de seguros, dada a sua correlação do negócio com o futuro econômico, a MAPFRE Economics considera que surgem oportunidades de negócios em seguros tradicionais de poupança de vida e anuidades com garantias de taxa de juros, e algumas linhas de negócios, como seguros de saúde, podem continuar a ter um bom desempenho diante do estado de saturação em que os sistemas públicos de saúde estão.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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