Fonte: ECO
O aumento das perdas não apenas por catástrofes naturais, mas também pelos chamados perigos secundários, aqueles eventos de média dimensão como incêndios, tempestades, inundações ou granizo, juntamente com os impactos da pandemia e a incerteza econômica, forçam muitas grandes resseguradoras a mudarem seu mix de negócios para linhas de acidentes e especialidades, onde o movimento de preços ainda é positivo, de acordo com o novo relatório da agência de rating AM Best denominado Global Reinsurance: More Stable and Improved Results Following Shift from Property Catastrophe Risks , divulgado dia 15 de agosto.
De acordo com o relatório, uma maior frequência de eventos catastróficos nos últimos cinco anos exerce uma pressão significativa sobre o nível de confiança que os analistas de risco depositam nas ferramentas de modelação, um componente-chave no processo de cálculo de prêmio. Além disso, as resseguradoras percebem que, não apenas o ambiente de subscrição se tornou menos previsível, como a ação dos governos tem um enorme impacto nas condições de mercado. “Uma das razões por trás da abundância de capital foi o ambiente de baixas taxas de juros”, diz Carlos Wong-Fupuy, diretor senior da AM Best. “Agora que os bancos centrais estão a tentar controlar a inflação o acesso a capital está mais apertado, os temores de recessão aproximam-se e a desvalorização de ativos está a prejudicar os balanços de uma maneira que as perdas por catástrofes até agora não foram capazes de fazer.”
Mesmo com os aumentos das taxas, a maioria das resseguradoras ainda não considera os preços atuais dos riscos de catástrofes imobiliárias suficientemente altos para compensar o nível contínuo de incerteza. Para as companhias, as linhas primárias de acidentes e especialidades são mais atraentes, porque geram comparativamente padrões mais estáveis e previsíveis. A inflação social e económica continua a ser um problema, mas as margens atuais incluídas nos prémios recompensam os resseguradores adequadamente pelo risco assumido. O relatório também faz notar que a natureza de longo prazo das linhas de acidentes oferece a oportunidade de gerar retornos de investimento e reduzir drasticamente o risco de liquidez.
“Embora as linhas de acidentes e especialidades não sejam imunes ao risco de acumulação, como os verificados em grandes eventos como a pandemia ou a invasão da Ucrânia, são consideradas mais geríveis e menos frequentes em comparação com uma catástrofe natural que afete imobiliário”, diz Wong Fupuy, acrescentando que “os perigos secundários tornaram-se mais proeminentes do que nunca.”
A AM Best considera o resseguro global como muito bem capitalizado e disciplinado. Várias iniciativas de realinhamento acontecem há pelo menos três anos e, embora a pandemia tenha desacelerado os resultados desses esforços, o segmento global de resseguros gerou um índice combinado em 2021 abaixo de 100% pela primeira vez em cinco anos, com 96,4%, e um retorno sobre o capital próprio de 9,2%, em comparação com os 2,3% de 2020. Segundo a AM Best, as seguradoras continuam a investir recursos significativos para enfrentar riscos em rápida evolução e as empresas mais bem avaliadas pela agência demonstraram capacidade de adaptar seus negócios às condições de mercado e gerar lucros sustentados.
As resseguradoras permanecem “inovadoras devido ao seu nível de sofisticação na seleção de riscos, na formação de preço, no desenvolvimento de produtos e na gestão de capital” e, por essas razões, a AM Best mantém perspetiva estável para indústria global de resseguros.
Ao mesmo tempo, a AM Best reconhece que a força e a relevância de cada fator que sustenta as suas perspetivas continua em mudança, com o perfil de negócio a alterar-se para refletir a crescente complexidade do ambiente de risco em nível global.
“A incerteza informada está no centro de uma carteira de riscos seguráveis”, afirma Wong-Fupuy. “No final, o equilíbrio entre a volatilidade da experiência recente e as margens incluídas nas taxas atuais é o que determina o apetite pelo risco. Para certos tipos de riscos, como catástrofes naturais, essa volatilidade recente tornou-se muito onerosa ou, para algumas resseguradoras, inaceitável.”