Nova gestão da CNseg tem como foco a comunicação e a tecnologia para impulsionar o crescimento de seguros

Em 2021, a indústria de seguros avançou 12%, mesmo diante de uma aguda crise econômica, para mais de R$ 306,4 bilhões. E a previsão para 2022 é de até 15%

Depois de um período de muitas transformações no mercado segurador nos últimos seis anos, Marcio Coriolano divide as atividades que comandou à frente da CNseg – Confederação Nacional das Seguradoras. Dyogo Oliveira assume como presidente executivo e Roberto Santos, CEO da Porto Seguro, a presidência do conselho diretor no triênio 2022 a 2025.

Uma coisa ficou clara na coletiva que os três concederam na manhã desta terça-feira a um grupo de jornalistas da mídia especializada: a estratégia está no consumidor, pois sem ele o mercado de seguros, por mais que invista em tecnologia disruptiva, produtos e serviços, canais de distribuição e renovação do arcabouço regulatório, não crescerá. O cliente precisa entender o produto, ter dinheiro para adquirir e seguir comprando proteções financeiras se tiver uma boa experiência. 

O recente caso da NetFlix, que revolucionou o mundo de vídeos há mais de uma década, hoje enfrenta problemas como a redução de clientes pela primeira vez em 10 anos. As dificuldades econômicas dos consumidores resultaram na renúncia do serviço de assinatura, uma vez que há outras empresas que oferecem soluções alternativas à Netflix. Sejam elas oficiais, como Apple ou Amazon, como também as piratas e os compartilhamentos de senhas. Cerca de 100 milhões de usuários usam contas compartilhadas com amigos, parentes e conhecidos.  Além disso, o anúncio de reajuste da mensalidade lhe custou 600 mil cancelamentos nos EUA e Canadá. Na Rússia, outros 700 mil. A projeção é perder 2 milhões neste ano. 

Mas o setor de seguros está numa situação muito mais confortável que a Netflix, neste momento. De crescimento. Em 2021, a indústria de seguros avançou 12%, mesmo diante de uma aguda crise econômica, para mais de R$ 306,4 bilhões. E a previsão para 2022 é de vender até 15% mais. Isso porque o setor caminha a largos passos na comunicação para contar aos consumidores, inclusive na palma da mão — algo imprescindível em um pais que tem mais celulares do que habitantes — todos os beneficios desta revolução silenciosa que se instalou no setor nos últimos anos e foi acelerada pela pandemia, com o digital virando a regra do mercado.

Com mais concorrentes e mais ofertas, muitos consumidores passaram a testar os produtos e serviços em vida. Antes, pouco era usado se não ocorresse uma perda total. Hoje não. Praticamente todos os seguros ofertam beneficios. Desde um encanador para um cano estourado como para um executivo acusado por má gestão. Além de trabalharem para melhor diariamente as ofertas, a luta está em baixar o custo do seguro, tanto via redução de custos administrativos e comerciais, como em personalizar o risco para atrair bons clientes e manter a rentabilidade atraente para o acionista aportar mais capital para o crescimento.

Ser caro ou barato vai depender de cada um. Muitos já entenderam o que Santos explicou sobre preço: quanto maior o risco, maior o preço. “Temos preços diferentes para cada tipo de risco, de produto, de regiões. A tecnologia nos permite uma precificação mais assertiva”. Sendo assim, uma pessoa que dirige bem seu veículo, paga menos. Um imprudente, mais. E mesmo quem nunca usou, conhece alguém que precisou da seguradora para sair de uma situação dificil. E com base na experiência observada no entorno de amigos e redes sociais, faz suas escolhas.

Muitos consumidores também já sentiram na pele o que é comprar algo que parece seguro, mas não é, como as associações de proteção veicular, que vendem seguro sem ser seguradoras, como mostram as queixas em órgãos de defesa do consumidor. Outra vivência que ajudou a explicar na prática ao consumidor o que é seguro foi a pandemia. Mais de 180 mil pessoas foram indenizadas por perdas causadas pela Covid-19, o que as fez entenderem a importância de se ter uma proteção financeira para saúde, para vida, para dívidas, para a aposentadoria. Oliveira lembrou os números: o setor pagou mais de R$ 6 bilhões em indenizações por Covid-19. 

Sendo assim, os três foram unânimes em afirmar que o norte da nova gestão é seguir o que as outras vinham fazendo: com que o setor contribuía mais para proteger a sociedade. “Temos uma agenda de projetos de infra-estruturas, de mudanças climáticas, de proteção ao produtor rural, de riscos cibernéticos e de responsabilidade civil. É isso que queremos discutir com a sociedade. Como podemos contribuir mais”, reforça Oliveira. E isso passa pela diversificação e criação de produtos e serviços mais eficientes, que atendam a demanda de governos, empresas, famílias, indivíduos. E, principalmente, pela comunicação. Se comunicar melhor com seus públicos-alvo tem trazido retornos significativos, como mostra o crescimento do setor nos últimos anos.

A tecnologia é um dos sustentáculos deste plano de expansão. “Não tenho um número para dizer, mas sei que são centenas de milhões de reais investidos pelas empresas e associadas”, disse ele, ao comentar os desafios do Open Finance, que inclui o Open Banking e Open Insurance. Segundo ele, cerca de 85% do mercado já cumpriu a etapa de desenvolvimento de APIs de produtos. “Agora temos a segunda fase com API de dados de segurados e a integração com o marketplace que ofertará os produtos aos corretores e clientes. Aqui é onde entra em vigor a SISS,  Sociedade Iniciadora de Serviços de Seguros, regulamentada em novembro passado, mas ainda sem qualquer candidato inscrito.

O mercado aberto é um tema bem-visto pelos três entrevistados. Citaram que precisam apenas alguns ajustes pontuais: no prazo e na SISS. “A SISS não tem uma natureza perfeitamente esclarecida. A interpretação é dúbia”, comenta Oliveira. “Ao mesmo tempo que é participante da infraestrutura, que congrega e agrega diversos bancos de dados, ela participa do mercado. Isso precisa ser melhor definido no conceito e na resolução”, acrescenta ele, afirmando que atuam em sintonia com o mesmo propósito da Susep: seguro tem de ser bom para o consumidor.

Com a lição de casa bem feita e muito ainda em andamento, uma vez que tudo se renova com muita agilidade, o crescimento do setor de seguros seguirá o ritmo ditado pela economia brasileira. ” Temos uma agenda positiva. É como quando olhamos para o horizonte. Nunca chegamos nele. Mas o horizonte te remete para frente. E é isso que esta gestão mira. Levar o mercado para um outro patamar. O patamar que ele merece”, afirma Santos. avaliou que o setor segurador, apesar de não ter alcançado ainda a total sofisticação de outros países, é bastante diversificado. “Temos um mercado plural e competitivo. Um dos principais focos da gestão será mostrar para a sociedade essa transformação”, acrescentou Oliveira.

Questionado sobre um percentual alvo para o setor atingir em relação ao PIB, Oliveira e Santos afirmam: “Há 20 anos, quando começamos a acompanhar o setor, se falava em algo como 0,5%. Hoje, 6%. Então, melhor do que prever um número, que depende do crescimento econômico, queremos enfatizar nosso objetivo de ter uma contribuição maior. E através disso, o mercado vai se desenvolver”, diz Oliveira, seguido por Santos.

O economista Oliveira foi escolhido após processo seletivo, iniciado no último trimestre de 2021, quando Coriolano informou que iria seguir para novos desafios. Traz em sua trajetória profissional gestão nas áreas pública e privada, incluindo seguros, como o cargo de ex-ministro do Planejamento no governo Michel Temer, o que lhe deu a presidência do CNSP, ex-presidente do BNDES e também foi membro do conselho do IRB Brasil Re.

Roberto foi eleito em chapa de consenso junto com o novo Conselho. Está há mais de 15 anos no grupo Porto. A nova função não é novidade para ele. Foi primeiro vice-presidente do Conselho Diretor do mandato que se encerra. 

E Marcio Coriolano disse em recente entrevista que para um ex-regulador, executivo e profissional de seguros com trajetória ao longo de 29 anos, ter participado da liderança de uma entidade com o peso e responsabilidade da CNseg exige muita reflexão sobre o futuro. “Planejamos antecipadamente e detalhadamente a renovação da condução da Confederação, e tenho muito orgulho dessa transição que fizemos. Pretendo doravante cuidar dos meus afazeres pessoais e familiares, sem pretender deixar de oferecer a minha contribuição dessa experiência acumulada onde puder ser útil para os seguros.”

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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