O economista Eduardo Giannetti citou 3 certezas para o mundo pós pandemia no evento Potencialize, realizado pela MAG Seguros nesta sexta-feira, 14: o crescimento do endividamento do mundo, a redução de globalização, e que vamos viver num mundo digitalizado. “O crescimento no pós pandemia exige estagnação das dividas de governos, empresas e famílias. Também aprendemos que a globalização deixa todos muito suscetíveis, com 85% dos insumos médicos fornecidos por China e Índia. E a digitalização, era um caminho já vinha sendo percorrido, mas foi acelerado de 20 anos para 2 anos. Todos nos passamos por um curso intensivo das ferramentas de digitalização”, disse.
Depois das 3 certezas, Giannetti citou 3 incertezas. O Omicron é o inicio do fim ou o fim do início?, questiona. Como saem as economias depois de passar pela UTI? A dúvida é como atravessa a convalescência. Vai ter recaídas depois deste grande período de anormalidade, com crescimento das dívidas?
Outra incerteza diz respeito ao comportamento humano. Os estudiosos, depois de uma grande adversidade, mostram que há duas tendências que se contrapõem. A primeira é que diante da incerteza, o reforço do comportamento prudencial, como aversão a risco, não assumir compromissos de longo prazo.
A outra incerteza é que o ser humano demanda, num período pós crise, algum tipo de revanche para aproveitar a vida quando volta a normalidade. “Isso aconteceu depois da gripe espanhola. Queriam desfrutar a vida. Sabendo que ela é tão incerta, passam a viver o momento e agarrar os prazeres que estão ao nosso alcance”, citou Giannetti.
A situação no Brasil, afirma o economista, tem duas coisas que se combinam e que demandam atenção. Estamos numa economia com inflação alta, acima de 10%, e ao mesmo tempo uma economia em desaceleração e estagnação, com PIB negativo. Isso é chamado de estagflação. Aliado a isso, o desemprego segue com dados dramáticos. O emprego voltou para quem tem maior escolaridade, mas não voltou para a população com menor escolaridade, o que traz um agravamento do quadro social do Brasil.
Giannetti reforça que o mercado de trabalho será cada vez mais exigente de qualificação. “As pessoas qualificadas já retomaram ao emprego. Isso não acontece para quem não tem qualificação. Vamos ter políticas para tentar reduzir esse fosso que se tornou mais largo em quem tem e não uma situação de emprego, com direitos protegidos. Quase metade da população vive a margem da economia formal. Vamos incorporar esses brasileiros à economia. Não podem ser privados deste direito. No Brasil é um privilégio ter carteira assinada e um emprego formal e isso precisa mudar”, afirmou.
Também temos uma valorização das commodities, mas que veio acompanhada de uma forte desvalorização do real, com perda de 30% do valor em relação ao dólar, durante a pandemia. Turquia e Argentina nos superam. A resultante disso é a inflação. Para conter a inflação, o BC aumenta os juros. Só que como a dívida brasileira cresceu durante a pandemia, é muito grave o aumento dos juros. Esta situação não é sustentável por muito tempo. O grande desafio é como garantir que esta dívida se estabilize e passe a cair, e que reconquistemos o ciclo de queda de juros.
Entre as incertezas para o Brasil em 2022, Giannetti citou que será um ano de grande volatilidade. “A nossa incerteza pelo ponto de vista fiscal e uma eleição muito disputada mexem com os humores dos agentes econômicos. Outra certeza é a herança a ser recebida pelo novo governo, que é muito complicada, com inflação acima da meta, juros elevados e desemprego”, disse.
O lado positivo é que se houver um bom encaminhamento de um governo para outro teremos um choque de credibilidade. Investidores já se posicionam com novo governo responsável e com um programa de recomposição podemos ter recuperação expressiva em 2023.
“Por tudo que sabemos, podemos argumentar que o primeiro ano do mandato será decisivo para a sequência dos outros anos. Pois é na lua de mel que um governo tem condições de dar início a reformas importantes que o país demanda. Se não usar este período inicial, dificilmente conseguirá fazer adiante com a depreciação do capital político, um quadro que vem se repetindo há anos”, alertou. “É fundamental que não o Brasil perca esta janela de oportunidades que depois se fecha”.