“Vivemos hoje a urgência do presente, quando nunca antes a questão do clima foi tão dramática. Recentemente, o IPCC, o painel sobre o clima da ONU, alertou que 2021 seria, como está se confirmando, um ano de eventos climáticos extremos. Eventos como as inundações na Alemanha e na Bélgica, durante o verão europeu, e as ondas de calor e incêndios no Canadá e nos Estados Unidos são alguns exemplos que reforçam a urgência em reduzir as emissões de gases do efeito estufa. Felizmente, o setor de seguros tem demonstrado um papel estratégico no gerenciamento dos riscos climáticos, tendo incorporado a agenda ASG há anos”, afirmou a jornalista e editora da Revista Plurale, Sônia Araripe, durante o painel “Contribuição do Setor de Seguros para o Clima”, que moderou na Conseguro 2021, evento da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg).
O presidente do Grupo de Trabalho de Riscos Climáticos da GFIA, a Federação Internacional das Associações de Seguros, Christian Pierotti, lembrou que na Europa, o maior setor econômico é o de seguros, o que reforça seu papel em contribuir com a agenda de sustentabilidade. “É um setor que protege as pessoas, as empresas e, portanto, a economia, tendo um papel-chave para mitigar riscos”.
Pierotti informou que as enchentes na Alemanha causaram perdas, em termos de infraestrutura, de 30 bilhões de euros, além de vidas humanas. “São vários os eventos atribuídos ao aquecimento global que precisam das seguradoras para mitigar as consequências. E a tendência é de que os eventos cresçam em frequência e severidade, o que será um enorme desafio para todos”, comentou.
O superintendente de Sustentabilidade da SulAmérica, Tomás Carmona, lembrou que o setor de seguros vem se organizando para responder a estes desafios desde a Rio+20 quando foram lançados os Princípios para Iniciativa de Seguros Sustentáveis (PSI, na sigla em inglês). “Existe uma convergência das seguradoras e dos reguladores para discutir a sustentabilidade dentro da lógica do seguro e também como investidor institucional com potencial para dar uma contribuição direta ao tema”, comenta Carmona.
Na visão do executivo, o pano de fundo do debate é o gap de proteção das sociedades em relação ao percentual que ainda não tem seguros, e que precisa ser reduzido. “O Brasil é o país que tem o maior número de seguradoras e resseguradoras signatárias do PSI e isso é fruto da consciência de todos e do trabalho da CNseg para engajar o setor nessa discussão”. Carmona citou como exemplo de riscos de saúde que tendem a crescer em função das mudanças no clima, como os problemas respiratórios, infecciosos e alergias. “O impacto é inevitável e o desafio é medir todos esses impactos e trazê-los para a lógica de subscrição. ”
O economista e coordenador estratégico do Climate Reality Project no Brasil, Sergio Besserman, apresentou dados alarmantes sobre a necessidade de o mundo acelerar o passo na direção da economia do baixo carbono. Embora nas últimas três décadas a consciência e os projetos voltados ao meio ambiente venham ganhando espaço, metade das emissões de gases de efeito estufa ocorreram neste período e de forma crescente. “Na COP26, no final do ano em Glasgow (Escócia), será demonstrado que pouco foi feito em relação à meta de US$ 100 bilhões investidos em financiamento climático, mas gasta-se US$ 500 bilhões para distorcer os preços da economia de mercado global com subsídios diretos aos fosseis”, afirmou o especialista, acrescentando que tudo que tem ocorrido no clima é apenas “a ponta do iceberg” e que a situação vai piorar ainda mais.
Na visão de Besserman, que também é membro Conselho Consultivo do Museu do Amanhã, para a humanidade ter alguma chance de cumprir a meta de reduzir o aumento da temperatura de 2 graus para 1,5, é preciso diminuir as emissões à metade até 2030 e zerar as emissões liquidas até 2050. “Uma empresa percebida como incapaz de acompanhar a transição nesta velocidade corre severo risco de perda de valor e até de desaparecer. Elas estão nos portfólios dos investidores e terão seu valor corrigido. Demoramos muito e agora não haverá aterrissagem suave”, alertou.
Quem se mostrou um pouco mais otimista foi o diretor da Autoridade do Desenvolvimento Sustentável da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Paulo Protásio, responsável pela organização da Conferência Rio+30 em 2022, que marcará os 30 anos da ECO92. “Eu entendo que o momento atual é de ver oportunidades e não de lamentar o que não foi feito. Precisamos fazer um compromisso de transformação que atinja todas as áreas, ambiental, econômica, financeira, sociedade e governos”, comentou. “É possível buscar desenvolvimento sustentável. Vinte e um países demonstraram, ao longo dos últimos anos, que dá para aumentar o PIB e reduzir emissões. O quadro é grave, mas há muita esperança”. Protásio, que também foi o responsável, na época por trazer a ECO92 para o Rio de Janeiro, afirmou que o Governo do Estado, por meio da Autoridade do Desenvolvimento Sustentável, está de braços abertos para o setor de seguros para ajudar a pensar os caminhos para o desenvolvimento sustentável.
Olhando em perspectiva, Sergio Besserman também pontuou oportunidades únicas para o Brasil liderar esta agenda de desenvolvimento sustentável. “Nossa geografia favorece uma matriz energética limpa e barata, seremos campeões no uso da biomassa e temos a maior biodiversidade do mundo. São alguns elementos que nos credenciam a isto”, afirmou. “A infraestrutura do Brasil é precária e precisamos investir, já em bases sustentáveis. Em países desenvolvidos, esta infra é moderna e terá que ser refeita sob novas bases com prejuízos enormes”. Na visão do economista, o país tendo esta consciência e investindo em pesquisa e desenvolvimento, terá uma inserção na economia global de forma mais competitiva e relevante.