Fonte: Valor Econômico
Os executivos de seguradores especializadas em grandes riscos e seguros financeiros estão de olho nos investimentos do setor de energia. Segundo dados do Ministério de Minas e Energia, o Brasil continuará expandindo a sua matriz energética, com investimentos da ordem de R$ 400 bilhões previstos para os próximos dez anos. “A venda de seguros no setor elétrico não arrefeceu com a pandemia.Pelo contrário. Nos instiga a criar coberturas e serviços diferenciados usando a tecnologia para atender diferentes tipos de riscos deste segmento que se moderniza”, afirma Pedro Mattosinho, diretor de garantia da Fator Seguradora.
Nos últimos dois anos, mesmo diante de uma crise pandêmica, o setor de energia registrou investimentos de US$ 30 bilhões provenientes de 17 países, segundo dados do ministério de Minas e Energia. A maior demanda deste setor é pelo seguro garantia. O mais conhecido é o completion bond, que garante que o projeto financiado seja concluído dentro dos valores e prazos projetados. Depois do seguro garantia contratual, vem o de garantia judicial e os tradicionais seguros de engenharia, de responsabilidade civil, incluindo o Directors & Officers (D&O) para executivos, e apólices para mitigar perdas com o dia a dia operacional das usinas.
Apesar de não haver a abertura de informações detalhadas sobre o quanto o setor de energia gera em vendas para as seguradoras, a representatividade é relevante. “Isto porque os projetos de energia, seja no mercado livre ou no mercado regulado, fomentam uma enorme gama de outras contratações e subcontratações, além de serviços de mão de obra e projetos afeitos aos respectivos projetos”, informa Roque de Melo, presidente da comissão de garantia da Federação Nacional de Seguros Privados (FenSeg).
Segundo João Di Girolamo, responsável por seguro garantia na Swiss Re Corporate Solutions Brasil Seguros, um dos produtos que tem apresentado forte demanda é para proteger investidores no mercado livre de comercialização de energia, regido pelas normas da Câmara de Comercialização de Energia (CCEE). “Ele tem cada vez mais se destacado no mercado de seguro garantia, seja para o mercado de consumidor final, ou ainda para as comercializadoras de energia, que transacionam grandes volumes de energia, gerando novas oportunidades para o mercado segurador”, afirma. Tal contrato é conhecido como Power Purchase Agreement. A apólice garante ao vendedor da energia, tido como segurado, que o comprador, chamado por tomador, honrará os compromissos de pagamentos previstos no contrato de compra e venda de energia.
A redução na arrecadação financeira das distribuidoras, a renegociação de contratos e a deterioração na qualidade creditícia com o impacto em toda a cadeia que envolve o setor instigam as seguradoras a buscarem soluções que atendam esta realidade. “Notamos um crescimento gradual de acionamento da apólice para a modalidade de compra e venda de energia. No entanto, não chegamos a ter nenhum sinistro de fato concretizado para essa modalidade. Em todos os casos, os tomadores acabaram liquidando os débitos com o segurado”, conta Roberto Hernández, diretor executivo de Seguros Corporativos da Zurich no Brasil, cujo portfólio tem uma representação de 5% para o setor de energia, comparado com 1% em 2020.
Henrique Machado, responsável por Linhas Financeiras na Pottencial Seguradora, conta que a maior parte das situações das inadimplências decorrentes da pandemia foram solucionadas através de renegociações entre as partes, com a revisão de prazos ou de preço. “A Pottencial integrou diversas renegociações, visando o cumprimento das obrigações contratuais garantidas, bem como as repactuadas, a fim de garantir tranquilidade e conforto às partes no momento adverso”, afirma. Uma das soluções é seguro paramétrico com cobertura por baixo índice de pluviosidade, que já é tema em pauta na Aneel. Especialistas sugerem que o setor elétrico analise a imposição desse tipo de seguro às geradoras com baixa capacidade de estocagem, como as usinas a fio d`água, solar e eólica.
Camila Jarlicht Chut, head do Seguro Garantia da Austral Seguradora, prevê grandes oportunidades para o mercado com a retomada dos investimentos, tendo em vista os leilões já previstos até o final do atual ano e primeiro semestre do próximo. Estão programados ainda para 2021 dez leilões de geração elétrica, dois leilões de transmissão de energia, três de petróleo e gás, e quatro leilões no setor de mineração. “Novos entrantes e novas estruturas de financiamento como a participação de empresas estrangeiras e fundos de investimento alteram os antigos perfis de risco e a subscrição das seguradoras. Por isso investimos em ter um time de especialistas”, diz Camila.
Paulo Mantovani, diretor de Energia e Mineração da corretora Marsh Brasil, alerta que é imprescindível que as apólices de seguros estejam dimensionadas de forma correta. “É necessário revisitar as apólices atuais de construção e operação das usinas, a fim de atestar se as prerrogativas que foram adotadas para a colocação do risco no mercado estão de acordo com o momento atual. Se o preço estiver muito abaixo da cotação do mercado, é preciso aumentar o valor das apólices”, recomenda.