Crise hídrica gera negócios para o setor, avalia diretor da Fator Seguradora

Richard Mendes Leone, diretor técnico de Property & Commercial Lines da Fator Seguradora, a crise hídrica traz duas vertentes para as seguradoras: gerenciar riscos dos clientes e ofertar seguros para os investimentos na ampliação da rede energética do Brasil

Apesar do agravamento da crise hídrica, a pior dos últimos 91 anos, o mercado segurador afirma que este cenário ainda não entrou na agenda de “preocupações” e sim de “oportunidades” de negócios. Riscos de apagões, que eram considerados irrelevantes por analistas, começam a entrar no radar de riscos considerando-se as perdas que afetam todos, como empresas paralisarem linhas de produção, comercio online ter vendas reduzidas por falta de acesso a internet e até mesmo cancelamento de voos por falta de energia. 

Segundo Richard Mendes Leone, diretor técnico de Property & Commercial Lines da Fator Seguradora, a crise hídrica traz duas vertentes para as seguradoras: gerenciar riscos dos clientes que tem apólice de lucro cessantes e eventuais acidentes que possam ocorrer em máquinas e equipamentos afetados por oscilação energética, e ofertar seguros para os novos investimentos. “Dependendo da situação futura dos reservatórios, pode não haver geração suficiente para atender os momentos de forte demanda do sistema elétrico. E isso deixa claro a urgência de investimentos neste setor”, avalia.

Com o ONS autorizando o despacho de usinas termelétricas para garantir a segurança energética do país, a geração das usinas hidrelétricas é reduzida com objetivo de desacelerar o esgotamento dos reservatórios durante o período seco. Os riscos cobertos pelos seguros de lucros cessantes são as perdas geradas pela paralisação total ou parcial nos negócios do segurado resultante de dano material. Ou seja, se não houver um dano material, a simples paralisação das plantas por falta de recursos naturais, não acionará o seguro de lucros cessantes.

Com o acionamento das termoelétricas neste momento de falta de recursos naturais, a partida e o desligamento das máquinas ao longo do ano, geram tensões em seus eixos, que podem ocasionar quebra de máquinas, que por sua vez causará prejuízos às seguradoras tanto em danos materiais como em lucros cessantes. Um outro ponto de atenção das seguradoras está no mercado de spot de energia. As geradoras podem precisar comprar energia no mercado de curto prazo para honrar seus contratos, o que pode acionar a cobertura de lucro cessante do contrato de seguro.

Segundo o advogado especializado em responsabilidade civil, Walter Polido, boa parte dos seguros ofertados no Brasil tem o não fornecimento ou a falha no fornecimento de energia elétrica como risco excluído pelas apólices de Responsabilidade Civil Operacional das empresas geradoras, distribuidoras e vendedoras de energia. “Então, a questão da crise hídrica é algo bem complexo, mas que não deverá afetar as seguradoras que atuam no segmento”, avalia.

Assim, o foco dos executivos de seguros está nos investimentos. De acordo com estudos divulgados pelo governo, a participação da geração de energia vindo das hidrelétricas caiu de 67% em 2014 para 62% em 2021, puxado por uma maior participação da energia eólica, com 10% (4% em 2014) e outras fontes renováveis. “Se houver investimentos estratégicos, como a construção de hidrelétricas com reservatórios para reduzir a dependência das chuvas, o risco de apagões será reduzido. Outra opção são os investimentos em fontes renováveis de energia, como solar, eólica e biomassa para complementar a geração energética de maneira limpa, respeitando o meio ambiente”, comenta Leone. 

Rodrigo Belloube, CEO da Munich Re, compartilha da mesma opinião. “Lucros cessantes são geralmente muito pouco comercializados. O sistema energético no Brasil se auto-protege com compensações de um Estado para o outro. Já investimentos são uma necessidade inequívoca e daí surge sempre a oportunidade de novos negócios, principalmente em seguros de Riscos de Engenharia (incluindo RC e Transportes) e Garantia”, diz. 

“Atualmente, os investimentos em construção de PCHs e de parques fotovoltaicos são os que mais demandam programas de seguros”, comenta o diretor da Fator Seguradora. Segundo dados do governo e de especialistas, o setor de energia demanda investimentos de R$ 2,7 trilhões nos próximos 10 anos. Já para petróleo, gás natural e biocombustíveis, outros R$ 2,3 trilhões. Desses valores, R$ 365 bilhões para geração centralizada, geração distribuída e transmissão de energia elétrica; R$ 89,6 bilhões em empreendimentos de transmissão no período de 10 anos, além de 40 mil quilômetros de novas linhas de transmissão devem ser erguidas até 2030. 

Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR) aponta que o Brasil acaba de ultrapassar a marca histórica de 9 gigawatts (GW) de potência operacional da fonte solar em usinas de grande porte e pequenos e médios sistemas instalados em telhados, fachadas e terrenos. Desde 2012, a fonte já trouxe mais de R$ 46 bilhões em novos investimentos ao País e gerou mais de 270 mil empregos acumulados. De acordo com a associação, somente na geração própria de energia, o setor solar pode trazer mais de R$ 139 bilhões em investimentos e gerar mais de 1 milhão de novos empregos ao Brasil até 2050, com o marco legal proposto pelo PL nº 5.829/2019. 

“Estamos atentos a este movimento no setor elétrico e nos preparando para a demanda dos investidores. A Fator Seguradora atua com todo o ciclo de investimento, desde o seguro garantia de performance, passando por riscos de engenharia, apólices que cobrem riscos que podem paralisar a obra; seguro construção, para acidentes nos parques; e, por fim, o seguro operacional, que garante perdas durante o dia a dia do parque energético”, finaliza Leone.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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