Muitas tem sido as conversas sobre os danos causados pela navio Ever Given, que ficou encalhado de 23 a 29 de março no Canal de Suez, causando um congestionamento de mais de 400 navios. O acidente provocou a paralisação da hidrovia e trouxe dificuldades para as linhas de abastecimento global nos últimos dias. Somente no no dia 2 de abril o fluxo de navios no canal voltou ao normal. A hidrovia transporta até 13% do comércio marítimo global e 10% dos embarques de petróleo por via marítima. Cerca de US$ 400 milhões em carga normalmente fluem pelo canal a cada hora, de acordo com a empresa de análise de dados dos Estados Unidos, Dun & Bradstreet.
Quem paga o prejuízo com o atraso na entrega das mercadorias? Tem seguro? Quais as apólices existentes neste caso? Para responder essas questões, o blog Sonho Seguro procurou a Munich Re, uma das resseguradoras do mundo. Leia os comentários do especialista Henrique Cabral, head de Marine para a América Latina:
Apesar da Evergreen Line ser uma empresa de Taiwan, os donos do navio cuja bandeira é do Panamá, são japoneses e colocam a apólice de cascos nesse mercado com o limite entre US$ 100 milhões e US$ 140 milhões. Curiosamente, o mercado japonês tem sua renovação em primeiro de abril e como não há ainda valores estimados concretos sobre quais possíveis danos o Ever Given possa ter sofrido nesta cobertura, as apólices estão sendo renovadas sem saber o real impacto deste sinistro. Tudo dependerá da extensão dos danos do casco do navio, principalmente na parte de baixo, que tocou o solo.
A carga em si, a bordo do próprio navio e dos demais que foram afetados no congestionamento, não é alvo de grande preocupação do mercado, pois somente casos de perecíveis podem ter sofrido danos e poucos devem contar com cobertura não vinculada a danos externos. Caso seja declarada avaria grossa do Ever Given, então os donos das cargas serão chamados a dividir o risco e é muito provável que isto aconteça nos próximos dias. Ainda não há informações sobre o seguro de Ports & Terminals da autoridade portuária do Canal de Suez, pois também seria um possível afetado.
A maior dúvida é no P&I, onde estão cobertos danos a terceiros e custos de salvamento. A grande dúvida neste caso é quais serão os custos com os danos ao próprio Canal e o os custos de lucros cessantes resultantes do acidente. No caso do Ever Given, o P&I está a cargo da UK P&I Club e a maior preocupação é pelos dias parados que obviamente podem implicar em somas astronômicas. O que muito se debate hoje é se todos os mais de 300 e navios afetados no congestionamento podem alegar interrupção de negócios por ter o Canal bloqueado, algo que afetaria sobretudo o mercado de P&I, que já vem sofrendo bastante nos últimos anos, mas não se sabe ainda os desdobramentos disso e se realmente irá se concretizar. Não há uma estimativa de perdas até o momento e a Munich Re, por política interna, não divulga valores nesses casos.