“É preciso estar aberto ao aprendizado contínuo para termos longevidade profissional”, afirma Guilherme Perondi

"Numa iniciativa de inovação, aceitar que as coisas podem não sair como planejado não pode significar "direito garantido de errar", especialmente em empresas maiores, onde insucessos podem custar caro", afirma diretor executivo da Swiss Re Corporate Solutions (SRCS) Brasil

Falar sobre inovação, contar as centenas de ideias que borbulham na cabeça de todos, participar de webinars sobre o tema são ações rotineiras hoje no dia a dia do mercado segurador. A impressão é que o oxigênio do mundo se concentra na inovação, citada como condição sine qua non para a sobrevivência, tanto de empresas como de indivíduos.

Metodologias e tecnologia estão disponíveis para todos os níveis hierárquicos e para todo o ciclo de processos de uma seguradora a um preço, digamos, acessível. O desafio está em realmente transformar as lições em aprendizados na prática. Para ajudar os profissionais do setor que são confrontados com os desafios da  transformação dos modelos de negócio — praticamente quase todos que converso diariamente –, conversei com Guilherme Perondi Neto, diretor executivo responsável pela área comercial e de negócios standard da Swiss Re Corporate Solutions (SRCS) sobre o tema.

Desde 2020, ele lidera uma iniciativa de transformação no companhia  e tem diversos aprendizados pessoais para compartilhar, os quais ele separou em verdades e mitos. “A indústria de seguros ainda vai avançar muito no seu movimento de transformação digital e nós temos a sorte de estarmos participando desse momento. Mas é preciso estar aberto ao aprendizado contínuo para termos longevidade profissional”, afirma o executivo. Acompanhe os principais trechos desta conversa: 

Você liderou uma equipe num processo de transformação do modelo de negócios, que culminou numa nova área da companhia. Comente um pouco sobre isso. 

Em 2020 tive o privilégio e o desafio de liderar uma equipe multidisciplinar em uma iniciativa de transformação na Swiss Re Corporate Solutions no Brasil. A iniciativa era, na verdade, um squad de profissionais super talentosos emprestados de áreas como vendas, tecnologia, subscrição, operações, jurídico, comunicações e marketing unidos pelo objetivo de validar a premissa de que é possível reconfigurar recursos existentes na empresa e, utilizando metodologias ágeis de gestão de projetos, impactar efetivamente o negócio a curto prazo. Quem trabalha ou já trabalhou em uma seguradora de grande porte, em especial multinacionais, certamente entende o desafio para uma equipe pequena ter efetividade em curto prazo considerando as dificuldades que modelos matriciais trazem para colaboração efetiva entre as áreas e autonomia para decidir e implantar novos processos, produtos, sistemas e modelos de negócio. Nos primeiros oito meses tivemos sucesso em desenhar e validar 10 projetos que ajudaram a companhia criar novas competências digitais, otimizar processos, avançar em estratégias de marketing digital, adotar inteligência artificial para melhorar a experiência do corretor e do cliente e implantar um novo modelo de distribuição. A prova de conceito deu certo e a partir deste ano somos uma nova área de negócio da companhia com escopo ampliado, porém mantendo o modelo ágil de trabalho. 

E o que aprendeu nesta experiência? 

Que é uma jornada e não um projeto e a experiência tem servido para validar alguns mitos e verdades que eu trazia, mas também para mudar minha visão sobre outros. 

Uma das verdade é que sem suporte efetivo da liderança, iniciativas transformacionais têm pouca chance de sucesso, não é? 

Líderes de verdade têm uma visão de futuro para empresa, acreditam nela e transpiram seu compromisso para todos colaboradores dando apoio real às equipes que se aceitam o desafio de inovar. E aí que começa a verdadeira transformação e temos sorte de ter essa liderança na companhia aqui no Brasil. Claro que a equipe precisa corresponder com um plano de negócio concreto, e não uma lista de desejos aspiracional. Nenhum projeto de inovação corre como o esperado e nos momentos de incerteza o voto de confiança da liderança é o combustível para a equipe reencontrar o caminho e avançar. 

Outra verdade é que a tecnologia não é o diferencial.

Verdade, atualmente há soluções e ferramentas acessíveis para muitos dos desafios internos, como otimização de processos, ou externos para melhorar a experiência dos clientes. Na minha opinião, não é da tecnologia que vem o caminho para a transformação. O conhecimento efetivo do negócio combinado com a capacidade de ouvir e entender clientes e parceiros de negócio é a chave para “ler” o que precisa ser construído. Então, e somente então, entra a tecnologia como solução.

Você comentou que outra verdade é que a equipe é tudo…

Realmente sem uma equipe alinhada e com autonomia nada anda. Meu conselho é usar toda sua capacidade de influência para montar melhor equipe possível, mesmo que venham  fazer falta à suas áreas de origem por um período. Assegure que os escolhidos compartilham sua visão e aceitem o desafio, inclusive de um potencial fracasso, que faz parte do risco de toda iniciativa nova. Nada substitui o valor de um time competente e com vontade de aprender caminhos novos para eles e para a companhia. Tendo a sorte de liderar um time assim, estimule a colaboração, empodere, dê suporte e visibilidade, transformando a iniciativa em um celeiro de talentos e um lugar seguro para eles explorarem seu potencial.

Outro ponto importante é aceitar o fracasso. É possível?

É importante aceitar desde o início o risco real de falhar  mas daí fazer tudo para evitá-lo. Grandes empresas monitoram de perto as novidades e, mesmo em tempos de home office, novos projetos com visibilidade são sempre assunto para a hora do café. Haverá cobrança implacável, especialmente daqueles que não são entusiastas da iniciativa, mas também daqueles que depositaram esperanças em ver algo novo surgir. Numa iniciativa de inovação, aceitar que as coisas podem não sair como planejado não pode significar “direito garantido de errar”, especialmente em empresas maiores, onde insucessos podem custar caro. Uma iniciativa de inovação que não dá certo gera aprendizados, mas também impacta a autoconfiança equipe e pode gerar resistência para o patrocínio de novas ações. 

Vamos aos mitos. Profissionais mais jovens são mais abertos à mudança. Isso realmente é um mito?

A crença de que profissionais com mais tempo de casa ou mais experientes são mais resistentes à mudança é perigosa. Para mim, nem sempre a idade é a variável determinante para a adesão à mudança; o nível de engajamento é tão relevante quanto. Acho importante conhecer o clima corporativo do momento do projeto; quanto mais baixo, maiores serão os esforços para aceitação de novidades e mudanças. Em qualquer cenário, engaje e incentive a participação de todos envolvidos; todos querem ser parte das mudanças, mas ninguém gosta de se sentir efeito colateral delas.

A agilidade também está na coluna de mito. Como assim? Métodos Ágeis não funcionam melhor em projetos de tecnologia?

Os métodos ágeis surgiram e foram aperfeiçoados pelas áreas de tecnologia da informação das empresas onde são hoje mais maduros e experimentados, mas são muito eficazes para projetos de transformação de negócios. Digitais ou não. O modelo ágil sozinho não faz mágica nem substitui a qualidade das pessoas conduzindo a iniciativa, mas bem aplicado certamente amplifica seu impacto por isso recomendo que todos aprendam com eles o quanto antes. A agilidade de negócios e suas ferramentas, inclusive os quick wins, são muito úteis no processo de mudança.

Você citou a estratégia de Quick Wins. Explique melhor. 

Uma das várias vantagens dos frameworks ágeis é a possibilidade de fazer entregas relevantes para o negócio desde o início da iniciativa, por isso, os Quick Wins, que são oportunidades de avanços concretos em pouco tempo, podem ser bem impactantes. Demonstrar desde cedo como o projeto de inovação acelera o negócio ajuda a construir credibilidade perante a empresa e autoconfiança para a equipe, reduzindo a expectativa enquanto as ações de maior impacto estratégico vão sendo construídas.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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