IRB recupera índices regulatórios e consegue avançar com faturamento

Presidente do Conselho destaca o levantamento de R$ 4,8 bilhões em um espaço de seis meses e a volta ao equilíbrio de resultados

O IRB reportou em 2020 um prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão. Excluindo-se os efeitos one-offs run- off, resultou em perdas de R$ 476,2 milhões. O faturamento chegou a R$ 9,6 bilhões em 2020, a despeito do processo de re-underwriting implementado a partir de julho do ano passado, que impulsionou a não renovação de contratos de grandes volumes, negócios esses que apresentaram margens expressivamente negativas.

Em vendas, o IRB atingiu R$ 9,5 bilhões em prêmios emitidos, volume 12,7% maior do que o observado no ano anterior. Os prêmios emitidos no Brasil somaram R$ 4,874 bilhões, 1% acima de 2019. Já os prêmios no exterior totalizaram R$ 4,721 bilhões, com aumento de 28,0% em relação a 2019, decorrente em parte da variação cambial no período.

Em 2020, o resultado financeiro e patrimonial totalizou R$ 125,2 milhões — recuo de 86,6% em relação ao ano anterior decorrente da redução das taxas de juros. As provisões técnicas cresceram R$ 3,1 bilhões no ano passado, alcançando R$ 13,5 bilhões — alta de 29,7% em relação aos R$ 10,4 bilhões do final de 2019. As despesas com retrocessão — operações de transferência de riscos entre resseguradores — cresceram 89,6% para R$ 4,220 bilhões, refletindo o hard market, com consequente redução da oferta” de capacidade.

No ano passado, os sinistros retidos totalizaram R$ 5,812 bilhões, crescimento de 55,0% em relação ao mesmo período de 2019. O índice de sinistralidade total apresentou aumento de 35,9 pontos percentuais, saindo de 66,4% para 102,3%. “Foi um trabalho extenso e cuidadoso de nossa diretoria, focado em fazer o IRB recuperar os índices regulatórios e que culminou com uma forte demonstração de confiança do mercado”, diz Werner Suffert, CFO e diretor de Relações com Investidores da companhia.

O CEO Antonio Cassio dos Santos complementa: “Prova disso foi o levantamento com êxito de cifra equivalente a R$ 4,8 bilhões em um espaço de seis meses. Ressalte-se ainda a volta ao equilíbrio de resultados, com crescimento no faturamento total da companhia”. Segundo ele, este foi o período mais duro de toda a sua carreira como CEO.

O IRB cancelou contratos que tinham resultados muito ruins de forma consistente. Em seis meses, a equipe do ressegurador analisou 500 contratos. “Cancelamos as principais operações de vida de resultados do exterior, que vinham com índice combinado acima de 120%; cancelamos também quase todo o portfólio de aviação”, afirmou o executivo.

De acordo com os executivos, os efeitos da covid-19 foram pequenos, ao contrário de outras resseguradoras que tem divulgado relevante queda nos resultados de 2020 em razão da pandemia. No IRB, em sinistros foram R$ 12 milhões na carteira de seguro de vida e ainda não se sabe como ficará a carteira de lucros cessantes, que é a mais onerosa para as resseguradoras internacionais. Segundo advogados consultados pelo blog Sonho Seguro, no Brasil a discussão de as seguradoras devem pagar lucros cessantes está em andamento. Segundo eles, que pediram anonimato, são poucas discussões, porém de valores muito significativos.

Os acionistas do IRB Brasil Re vão decidir sobre a continuidade de Antonio Cassio dos Santos como CEO ou presidente do conselho em até três semanas, informou Santos na teleconferência com jornalistas. A mudança é um movimento deflagrado pelas regras do Novo Mercado da B3 que prevê que um executivo só pode acumular as duas funções por um ano, prazo que será completado no fim do próximo mês no caso do atual executivo-chefe e “chairman” do grupo. Segundo Santos, a União é quem define o presidente do conselho de administração, enquanto o colegiado é responsável pela nomeação do CEO.

O balanço do IRB Brasil Re traz muitas explicações de tudo que foi feito para a nova administração arrumar desde que assumiu em março de 2020. Há termos pouco conhecidos do público em geral, mas que estão explicados no relatório divulgado para que “tudo fique a disposição dos interessados”, ressaltou Santos.

“Enfrentamos o desafio de superar uma crise de credibilidade motivada por irregularidades identificadas pela divulgação de informações inverídicas sobre a base acionária da companhia em março de 2020, pela instauração da fiscalização especial da Susep em maio, devido à insuficiência de ativos garantidores das provisões técnicas do IRB, naquele momento da ordem de R$ 1 bilhão, e em junho pelo refazimento das demonstrações financeiras de 2019/18 que trouxeram à luz a real situação econômico-financeira da empresa”.

Definições

  1. (A)  Negócios descontinuados (run-off): são os principais negócios que foram cancelados ou não renovados pela gestão a partir de30.06.2020.
  2. (B)  Negócios continuados (run-on): são os negócios que constituem o portfólio de contratos vigentes da empresa.
  3. (C)  Efeitos one-off: são os efeitos considerados não recorrentes e que impactaram o período.
  4. (D)  Run-on normalizado: são os negócios continuados (run-on) excluindo os efeitos não recorrentes (one-off).

Segundo comunicado, o principal impacto one-off no período foi relacionado à reversão do crédito tributário da sucursal de Londres. Em anos anteriores, foi constituído crédito tributário diferido referente aos prejuízos acumulados durante décadas, na sucursal de Londres. A administração do IRB previa a retomada das operações da sucursal no prazo de dez anos, o que permitiria a utilização do referido crédito.

No entanto, em razão das presentes condições de mercado, com o agravamento da crise motivada pela segunda onda da Covid-19, e após avaliação de consultoria tributária/estratégica, a administração do IRB concluiu ser pouco provável a recuperação de tal crédito tributário. Com isso, em dezembro de 2020 a companhia reverteu o crédito tributário, conforme preconizado nas normas contábeis.

O conselho do IRB ressalta no balanço que a liquidez regulatória é a melhor desde dezembro de 2018. “Enquadramento com êxito na data base de 31/12/2020, com superávit de R$ 167 milhões, após a margem de segurança regulatória”, explica.

Os ativos financeiros atingiram R$ 8,3 bilhões, maior nível histórico alcançando. Segundo o comunicado, em anos anteriores, foi constituído crédito tributário diferido referente aos prejuízos acumulados durante décadas, na sucursal de Londres.

O ressegurador também conseguiu R$ 4,8 bilhões em recursos levantados entre 01/07/2020 e 31/12/2020 para fazer frente à questão do desenquadramento de liquidez regulatória.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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