O propósito da seguradora digital é ter operações cada vez mais rápidas e eficientes, consumidores cada vez mais satisfeitos e profissionais engajados
A Pier, primeira insurtech autorizada a operar como seguradora digital no Brasil, inicia 2021 com muito gás. A empresa acaba de receber seu CNPJ para operar como seguradora digital e pretende transformar a indústria de seguros com um modelo de negócio inovador. Começou vendendo seguro celular por meio de aplicativo, há três anos, e já consegue pagar indenização em 38 segundos. Em 2020, passou a vender seguro de carro que já está disponível em todo o Brasil. Tem como concorrente aproximadamente 50 seguradoras tradicionais e cerca de duas dezenas de startups. Todas em busca de profissionais diferenciados.
Um dos principais desafios deste sonho de disrupção aliado à rentabilidade é ter uma equipe comprometida com um trabalho árduo. E como motivar jovens “gênios” da tecnologia a ter a experiência emocional de executivos com anos de experiência no mercado? A resposta para isso tem sido unir o propósito de entregar um produto que faz a diferença para a sociedade, com o empenho total em ter uma cultura empresarial respeitosa e também criar um plano de benefício de recompensa financeira pelos resultados obtidos.
Parece uma conjunção impossível em um mundo capitalista. A boa notícia é que tal aposta em inovar velhos hábitos e crenças tem dado certo. “Nosso esforço está em trazer um modelo mais humano e vantajoso para todos: acionistas, colaboradores e clientes”, diz o CEO, Igor Mascarenhas. A Pier aposta no que o mundo chama de sociedade do conhecimento, onde a produtividade de um profissional deve ser medida por seus resultados e não pelo tempo que ele passa na empresa.
A prova viva disso são dois “gênios”. Íntimos da tecnologia, a baiana Alice Iglesias, 32 anos, Head de Operações e Produtos, e o sorocabano Flávio Altinier, 28 anos, Lead de Engenharia de Dados, usam o máximo de dados para entregar um trabalho de forma assertiva e ágil. Mesmo jovens, já aprenderam que apesar de as startups trabalharem sob um modelo diferente das seguradoras tradicionais, os investidores querem o mesmo de ambas: crescimento conjugado com rentabilidade.
Alice e Flávio se formaram na Unicamp e passaram cerca de dois anos fora do Brasil para avaliarem melhores valores de vida e oportunidades profissionais. Ele foi para os Estados Unidos e ela para a Europa. Flávio conta que quando chegou na Universidade de Cornell, em 2016, encontrou diversos grupos de estudos. “Tinha 24 anos e estava ainda buscando respostas sobre o que queria ser ou fazer. Então, entrei em vários clubes de conhecimento. Fiz desde um curso para aprender a lavar e enfeitar bichos para o mundo agropecuário até cursos de astronomia”, conta.
Apenas como referência, Cornell é uma das universidades mais famosas do mundo, ao lado de Brown, Columbia, Dartmouth, Harvard, Princeton, Yale e Universidade da Pensilvânia. Fundada em 1865, por Ezra Cornell, um empresário e educador norte-americano que acreditava que qualquer pessoa tinha o direito de estudar o que quisesse, a universidade oferece ao aluno diversidade, em todos os sentidos, tendo como lema que qualquer pessoa pode encontrar instrução em qualquer estudo. “Lá eu ouvia várias línguas. Conheci pessoas de todas as partes do mundo. Tive o privilégio e a oportunidade de trabalhar com as melhores mentes do mundo, além de receber mentoria “dos feras” do mercado de algoritmos”.
Para fechar com chave de ouro seu período de um ano nos EUA, Flávio usou as férias de Cornell para fazer estágio na NASA. Sim, essa mesmo que está pensando. National Aeronautics and Space Administration ou Administração Nacional da Aeronáutica e Espaço. Uma agência do Governo Federal dos Estados Unidos responsável pela pesquisa e desenvolvimento de tecnologias e programas de exploração espacial. O que aprendeu lá? “Muito. Mas o melhor foi descobrir o que eu realmente queria: voltar para o Brasil e ajudar os brasileiros utilizando tecnologia”, conta.
Voltou para a Unicamp, onde tinha trancado a matrícula no terceiro ano. Terminou o curso de ciências da computação e conseguiu um estágio no Ifood. Lá seu projeto foi ajudar o app de delivery a encontrar os restaurantes ideais para lugares específicos, com a meta de fazer o Ifood se estabelecer solidamente em novas regiões. Vale lembrar que a empresa se transformou em um marketplace para restaurantes que possuem frota própria, e conecta entregadores àqueles sem estrutura para o delivery. Tudo isso usando recursos de inteligência artificial para calcular rotas, estimar tempo de entrega, encontrar o entregador disponível mais perto da loja.
Depois de dois anos, foi fisgado pelo desejo de fazer uma nova disrupção. Só que agora no mercado de seguros. Aceitou o convite de Mascarenhas para ser sócio da Pier. “Fui o sexto profissional a chegar numa startup de proteção para celular, com 150 clientes. Hoje a equipe é formada por 80 pessoas, tem 20 mil clientes em celular e 1 mil em automóvel. Tem muito espaço para disrupção em dados no mercado de seguros. Atualmente temos pelo menos uns 20 modelos para colocar para rodar e por isso atuo agora mais como um multiplicador do que como um executor”, afirma ele, que trabalha cerca de 8 horas por dia para poder curtir sua vida pessoal, com sua namorada e sua pet Jujubinha.
Alice privilegia a liberdade. “Amo cachorros, mas a minha liberdade é prioritária”, diz ela, que acaba de sair do apartamento onde morava, pois ele já estava cheio de coisas desnecessárias, segundo Alice. Ainda sem saber onde vai morar em 2021, sabe que vai viajar. “Fizemos todas as entregas. Conseguimos ser selecionados pela Susep para o Sandbox. Conseguimos ser a primeira a receber a autorização. Ampliamos a atuação da seguradora incluindo automóvel ao portfólio antes limitado à proteção de celular. Agora em 2021 vamos intensificar nossos esforços no Seguro Auto, para que ele seja sempre mais um produto inovador, que agrega valor para a sociedade na forma como é oferecido e indenizado. Já conseguimos pagar uma indenização em apenas 38 segundos”.
Alice decidiu cursar engenharia elétrica para “construir trens que levitavam”. Aprendeu muito ao sair de Salvador para morar em Campinas, interior de São Paulo. Logo se juntou a outros quatros baianos. Por pouco tempo. Aproveitou o programa de intercâmbio da universidade e conseguiu uma bolsa de estudo na França, de dois anos, para estudar engenharia de telecomunicações com ênfase em gestão de projetos e sistema de informação. “A única palavra que entendia era ‘télécommunications’. Passava mais tempo aprendendo francês do que sobre as matérias do curso. Aprendi com a França muito sobre diversidade e pontos de vista diferentes. Sem certo ou errado, e sim diferentes. A viver sob outra perspectiva”.
De volta ao Brasil, Alice trabalhou na consultoria McKinsey e acabou recusando um MBA em Harvard, EUA, mesmo com a pressão de familiares, amigos e mentores profissionais, pois já tinha como certo seguir uma carreira onde pudesse empreender. “Sempre tive um pé no empreendedorismo voltado ao impacto social transformador da sociedade. Participei de um projeto para melhorar a gestão do sistema de saúde de Salvador e aqui foi onde descobri que amava impacto social e, também, tive um papel relevante no Guiabolso, que se propunha a mudar a vida dos brasileiros ao ajudar no controle da vida financeira e ofertar crédito acessível por meio de um aplicativo. Saber que estou fazendo a diferença na vida das pessoas faz meus olhos brilharem. Para mim não basta construir uma empresa grande e lucrativa, meu sonho é construir uma empresa que de fato contribua para a sociedade de alguma forma”, conta ela, que entrou como head de engajamento e acabou sendo uma das principais líderes para solucionar os desafios do dia a dia.
Mas daí, os olhos brilharam para a proposta de Mascarenhas, que conheceu nos tempos de Unicamp. “Ele tem um sonho grande. De mudar uma indústria fazendo o certo. Isso me motiva. Se um dia a Pier perder o propósito, eu saio”, diz a única mulher entre o grupo de heads na Pier. Seu principal desafio é fazer com o que o time tenha mais voz, mesmo em decisões mais estratégicas. O melhor momento. “Se o gestor simplesmente for lá e fizer, a equipe perde a chance de ter a experiência da tentativa com erro e acerto. É neste ponto que busco aprimorar as minhas aptidões continuamente com estudo e mentorias de executivos que admiro”, diz.
A pausa para os líderes da Pier vai desde 5 minutinhos para uma rápida meditação como alguns dias para uma viagem para recarregar a energia para seguir. Alice, por exemplo, prepara duas viagens para 2021. “Vou para o México estudar espanhol em março e para a Patagonia em outubro descer um rio de caiaque e acampar”, disse ela, que reconhece que 2020 foi um ano puxado para toda a equipe, pessoalmente e profissionalmente. Ela admite que é a intuição quem dá a palavra final quando está dividida em uma decisão. “Às vezes é preciso lidar com o imprevisto ou com o próprio ego. Nestes momentos, me recolho dentro do meu coração em meditação para buscar uma conexão que vai além do pensamento racional”.
Nas três últimas vezes que precisou se reconectar, Alice, que tem desde criança o esporte como seu maior aliado para o desenvolvimento humano, em 2019 foi esquiar em Bariloche, fez explorações no Jalapão e foi conhecer as diversas religiões existentes na Índia. Em outubro de 2020 esteve em um retiro em Ubatuba, litoral norte de São Paulo, intercalando ioga e surf. “A viagem para a Índia foi incrível. Conheci diversas religiões, mas escolhi o budismo, pois ele nos ensina a espiritualidade com o olhar para dentro, enquanto outras religiões têm um simbolismo de olhar e esperar por deuses externos”.
Flávio conta que aprendeu na prática a olhar e agir. “Em uma startup, se você quer se sentar tem de montar a cadeira. Se quiser participar do programa de stock option, um tipo de remuneração variável que vende ações da empresa para colaboradores a preços abaixo do mercado, tem de agregar soluções para que a startup alcance sucesso. Se ficar esperando uma solução mágica ou que alguém lhe apresente uma fórmula pronta, lá se foi o timing certo”, comenta ele.
Uma coisa a história nos mostra. O uso de ferramentas tecnológicas e a dinâmica dos negócios transforma os líderes em um multitarefa, com habilidade para influenciar a maneira com que todos tomam decisões ágeis e certeiras. E se errar, começa de novo. Rápido. A aposta em combinar tecnologia da informação com a capacidade de intuição dos líderes é uma estratégia vencedora. Afinal, os dados mostram um caminho. Para saber a resposta, é preciso usar a intuição, algo que aflora somente quando a mente aquieta. E é neste silêncio que se consegue perceber os aspectos sutis que movem uma organização capitalista e assim conseguir manter o propósito da Pier, que é ter operações cada vez mais rápidas e eficientes, consumidores cada vez mais satisfeitos e profissionais engajados.