Dentre os pontos levantados durante live estão a aprovação de reformas, garantia de continuidade de um programa de renda básica e as formas de redução do déficit primário
Na quinta-feira (5), Bruno Funchal, secretário do Tesouro Nacional, Pedro Nery, doutor em Economia pela UnB e consultor do Senado, e Patrícia Pereira, estrategista da MAG Investimentos, se reuniram durante live para debater o cenário fiscal brasileiro. Com a mediação do Arnaldo Lima, diretor de Estratégias Públicas do Grupo Mongeral Aegon, os especialistas discutiram a saúde econômica do País e trouxeram projeções para os próximos meses, incluindo o nível de endividamento do Brasil e como é possível ter o financiamento de uma renda básica de cidadania sem comprometer a sustentabilidade dos gastos e o teto fiscal.
Segundo Funchal, em 2020, os gastos previstos com a pandemia são da ordem de R$ 584 bilhões e projeta-se um déficit para o final de 2020 de mais de R$ 871 bi, sendo o Brasil um dos países que mais gastaram entre os emergentes, de acordo com o FMI. Portanto, é preciso discutir o dia seguinte da pandemia e as reformas fiscais necessárias para garantir a saúde econômica nacional. “Nenhuma política pública consegue ser sustentável se o País não estiver fiscalmente organizado”, completa o secretário, que adiantou ainda a agenda dos próximos meses para que isso aconteça, incluindo discussão da Reforma Tributária, do Novo Marco Legal do Trabalho, Pacto Federativo, Reforma Administrativa, dentre outros.
Para os próximos meses, o foco deve ser diminuir o déficit primário, mantendo uma trajetória sustentável da dívida, além de garantir a continuidade de políticas de renda básica, segundo Nery. “Cerca de dez milhões de pessoas deixaram de trabalhar esse ano por conta da pandemia e, com o fim do auxílio emergencial em dezembro, a gente precisa de recursos para evitar que essas pessoas caiam na pobreza e consigam voltar para o mercado de trabalho”, afirma o economista. Ainda segundo Nery, o governo deve buscar ter uma qualidade dos gastos, gastando mais com quem ganha menos, combatendo a desigualdade e buscando um uso mais eficiente dos recursos.
Traduzindo esse contexto para o bolso do investidor, de acordo com Patrícia, existem dois cenários a serem desenhados. No primeiro, as reformas são aprovadas e o Brasil segue em um caminho de austeridade, mantendo a Selic em um patamar baixo de forma sustentável, onde o investidor terá que continuar tomando risco para conseguir um retorno maior para sua renda. A outra possibilidade, porém, é de que o País não consiga recuperar a política fiscal responsável, principalmente se a hipótese de uma segunda onda da pandemia, que começa a aparecer na Europa, se fortaleça. Nesse caso, será necessário subir a Selic de maneira mais forte e rápida do que no primeiro cenário, ainda que a hipótese de que a taxa de juros volte aos dois dígitos siga descartada. “Se isso acontecer, podemos acabar não sendo destino de investimento, principalmente vindo do exterior”, conclui Pereira.