Infraestrutura é um setor chave para a retomada do crescimento econômico

Segundo especialistas participantes do webinar da MAPFRE, o desafio é atrair capital externo. Para isso, é preciso ter segurança jurídica e modernização do arcabouço regulatório

O governo precisa fazer a sua parte para que o Brasil atraia recursos para investimentos em infraestrutura, um setor que tem um papel significativo na recuperação das economias maduras e em desenvolvimento, diante do enorme potencial de geração de empregos. Esta foi a questão central do webinar “Infraestrutura: uma perspectiva em construção”, tema da 3ª edição da Jornada Global Risks MAPFRE, realizado no dia 10 de novembro. 

Apesar dos investimentos em infraestrutura terem se retraído em todo o mundo, o Brasil tem uma perspectiva positiva. Isso porque há mais de cinco anos praticamente não se investe, o que faz o Brasil um país alvo dos investidores estrangeiros. “Cerca de 16% da população não tem água encanada, o transporte público é caro demais para uma parcela da população e pouco atrativo para outra, e 24% das rodovias asfaltadas estão em más condições”, enumerou Francilene Rodrigues de Freitas, superintendente de riscos industriais e financeiros da MAPFRE Brasil, citando apenas alguns dos problemas básicos e urgentes do país.

Carlos Branco, gerente regional de seguros América Latina da Cargill, deu alguns exemplos do quanto a falta de infraestrutura atrapalha a vida dos empresários e, consequentemente, do governo brasileiro. “É inegável que melhorar a infraestrutura traz impacto positivo nos produtos e nos preços. Viemos há pouco tempo centenas de caminhões no Porto de Paranaguá para descarregar a safra de soja. Há 2 anos, as mídias mostravam a BR 163 com centenas de caminhões atolados na lama pelas chuvas. Isso tem custo para produtores, exportadores e reflexos na nossa economia interna”, afirmou. 

Segundo ele, seria possível reduzir em 3 a 5 dólares o custo por tonelada de soja exportada com melhores condições de mobilidade, tornando o Brasil mais competitivo. Outro gargalo citado pelo executivo da Cargill foi o armazenamento. “A falta de silos de milho fez com que o preço do óleo subiu 65% no mercado local no período da pandemia, diante de uma forte demanda externa”.

Estudos apontam que além dos EUA, a China pode aportar recursos na infraestrutura no Brasil – que também tem um histórico importante de participação em projetos no país.  Levando-se em conta os investimentos realizados nos últimos anos, os governos da Espanha, França, Itália, Alemanha e Colômbia reforçaram seu posicionamento no mercado brasileiro de infraestrutura, o maior da América Latina, com aquisições, fusões ou pagamento de outorgas. A aposta é que esse movimento cresça nos próximos anos. 

Nas para que o Brasil deixe de ser uma oportunidade para a receber os investimentos que tanto precisa, tem de fazer uma imensa lição de casa. O grande desafio está em como atrair recursos privados, uma vez que os governos estão pressionados por gastos com saúde, educação e benefícios sociais, como aposentadorias. Aperfeiçoar os marcos legais e regulatórios aplicáveis é condição sine qua non, afirmam os participantes do webinar. “Os investidores precisam ter certeza de que não serão surpreendidos por mudanças nas regras do jogo”, disse Elizângela Bayer Bemvides, gerente de Danos na Telefônica Corretora de Seguros. 

Além da segurança jurídica, Bemvides acrescentou a desburocratização. “As teles tem feito a parte delas. Apesar do aumento de 40% do tráfego de dados com o trabalho remoto, as teles se reinventaram para suprir a demanda. É preciso simplificar o arcabouço legal. Temos hoje 300 leis municipais para liberação de antenas. Isso dificulta a expansão da rede. Recentemente, em Porto Alegre, uma nova lei passou a desburocratizar esse tema e deveria ser observada por outros Estados”, sugeriu. Branco completou: “Falta segurança jurídica. A legislação tem de ser clara. As leis não são aplicadas como deveriam. Como garantir que o investimento será alocado, remunerado de forma adequada. Se não garantir, continuaremos sendo vistos apenas como uma oportunidade”. 

Como conclusão, todos afirmaram que a infraestrutura é o motor do crescimento sustentável do mundo, particularmente do Brasil. Segundo eles, é preciso investimentos em saneamento, logística, educação, telecomunicações e energia para deixar para trás o típico voo de galinha e ter realmente um crescimento permanente. Neste momento pós pandemia, em que todas as economias registram queda do produto interno bruto e taxas de juros baixas ou negativas, a aposta é que investimentos em infraestrutura podem desempenhar um papel fundamental no crescimento econômico. 

“Está cada vez mais fica claro que não é o setor público que vai liderar o investimento. A tendência é o setor privado tomar as rédeas e contribuir, em parceria com o público, para o ordenamento dos investimentos. Há muito espaço para parceria entre investidores locais, que têm expertise local, e estrangeiros, com conhecimento global. A carência é tão grande que há espaço para todos”, afirmou Lima. 

Branco concorda. “Uma das grandes vantagens da globalização é o capital não ter fronteiras. O governo brasileiro tem de fazer a sua parte, com uma reforma no arcabouço jurídico para dar confiança aos investidores. Precisamos do capital externo para gerar emprego aos que estão chegando, sem considerar os milhões de desempregados que temos hoje.”

E para apoiar os investimentos, há o seguro, frisou Francilene Freitas, da MAPFRE: “As seguradoras já desempenham um papel vital no apoio à resiliência e estabilidade em todos os setores da economia global, contribuindo com o desenvolvimento de soluções para os maiores desafios enfrentados por indivíduos, empresas e governos, especialmente durante grandes catástrofes e convulsões sociais. O setor de seguros está diretamente ligado à questão de mitigação de riscos e ainda tem muito a crescer no Brasil. Nesse cenário, com a experiência que vem adquirindo ao longo dos anos, o setor de seguros vem cada vez mais aderindo às práticas de desenvolvimento da infraestrutura. Já avançamos muito e ainda há muito a ser feito, principalmente frente às mudanças na legislação de licitações e co ncess&a mp;ot ilde;es”. 

O evento contou com abertura de Bosco Francoy, CEO da MAPFRE Global Risks Espanha, e Luiz Gutierrez, CEO de seguros da MAPFRE Brasil, que reforçaram o apoio do grupo MAPFRE a clientes e corretores. “Antes da pandemia já havia uma mudança nas taxas de resseguro para o segmento de construtoras pelo aumento da sinistralidade. Na MAPFRE, sabemos que a construção esta sujeita a ciclos. Temos uma visão de longo prazo para apoiar nossos clientes”, afirmou Bosco. 

Gutierrez reafirmou a relevância da infraestrutura no Brasil. “Estamos confiantes. Tenho certeza de que o Brasil alcançará a posição de destaque que merece, pois há muita capacidade. O Brasil tem inúmeras possibilidades, bons profissionais. E a MAPFRE tem muito orgulho de promover debates como este para compartilhar informações. Caminhar lado a lado para reconstruir nossa economia, com confiança e um setor de seguros juntos, para que mais brasileiros possam dormir tranquilos”. 

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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