Leve piora na projeção do PIB e alerta para alta da inflação estão no radar da CNseg

Após nove semanas com ajustes positivos nas expectativas para a queda do PIB este ano, a mediana das projeções dos agentes consultados no relatório Focus, do Banco Central, caiu de -5,28% para -5,31%

A contração da economia de 9,7% entre abril e junho, no auge dos efeitos econômicos da pandemia da Covid-19 e do isolamento social, trouxe ajustes nas projeções do PIB por parte dos especialistas consultados pelo Banco Central para o Boletim Focus, divulgado nesta terça-feira. Segundo Pedro Simões, economista do Comitê de Estudos de Mercado da CNseg, a Confederação das Seguradoras, a principal razão para a interrupção do movimento de alterações positivas, porém, está na revisão que sofreram os dados do 1o trimestre, em que a economia contraiu 2,5%, e não 1,5% como estava previsto”, afirma.

“Ajustes técnicos, feitos pelo IBGE, levaram a uma queda maior nos gastos do governo, com a redução da oferta de diversos serviços públicos no primeiro semestre em função do isolamento social. Isso não era esperado pelos economistas”, disse Simões, que assina o boletim Acompanhamento das Expectativas Econômicas semanal feito pela Superintendência de Estudos e Projetos (Suesp) da CNseg.

Outro ponto destacado novamente por Simões é a inflação. “A projeção do IGP-M e do IPCA continua subindo, ainda que em patamares muito diferentes, e a inflação está retornando às discussões”. Apesar de baixa em sua mensuração oficial para o consumidor, a inflação tem voltado ao radar dos analistas e deveremos ver alguns debates a respeito daqui para frente. “Nesta terça-feira o tema já vem estampado em manchetes de jornais, que evidenciam a alta de preços dos alimentos, fato atribuído ao dólar mais caro e à demanda externa”, cita o economista.

Leia a análise completa abaixo:

Após nove semanas com ajustes positivos nas expectativas para a queda do PIB este ano, a mediana das projeções dos agentes consultados no relatório Focus, do Banco Central, caiu de -5,28% para -5,31%. Isso ocorre após a divulgação do PIB do 2o trimestre, na última terça-feira, mostrando que a economia contraiu 9,7% entre abril e junho, no auge dos efeitos econômicos da pandemia da Covid-19 e do isolamento social.

Essa queda foi um pouco maior que o esperado por muitos analistas, ainda que tenha vindo em linha com o IBC-Br, do Banco Central. Houve quedas mais intensas que o esperado no consumo do governo e nos serviços prestados às famílias, em função, principalmente, de tratamentos estatísticos inéditos feitos pelo IBGE para mensurar os impactos da pandemia no período.

A principal razão para a interrupção do movimento de alterações positivas, porém, está na revisão que sofreram os dados do 1o trimestre, em que a economia contraiu 2,5% (revisados de contração de 1,5%), configurando uma recessão técnica (dois trimestres seguidos de queda do PIB), antes mesmo de o nível de atividade ter retornado ao patamar alcançado antes da recessão anterior (de 2015 e 2016).

Com esse resultado, o PIB brasileiro está 15,1% abaixo do pico, registrado no 1o trimestre de 2014. Pela ótica da oferta, apenas o setor agropecuário apresentou crescimento no período (0,4%), o que reforça o cenário positivo para o seguro Agro, como temos enfatizado em nossas análises. As perspectivas para o 3o trimestre continuam, de maneira geral, positivas, com o carregamento estatístico garantindo crescimento em todos os setores e bons sinais da indústria que, em julho, cresceu 8%, bastante acima do esperado.

Além disso, a retirada suave dos estímulos, com o Auxílio Emergencial estendido até dezembro em menor valor, é também favorável para a expectativa de crescimento. Na política, apesar das tensões comuns em um noticiário cada vez mais voltado para as eleições municipais, o orçamento de 2021 foi apresentado ao Congresso sem grandes sobressaltos e com sinais positivos no que se refere à manutenção do Teto de Gastos, com previsão de aumento nos gastos em defesa e assistência social, mas redução no orçamento de pastas ligadas a obras de infraestrutura. Assim, projetos de obras e transferências federais se moveram para o segundo plano, enquanto as reformas se moveram para o primeiro.

A proposta de reforma administrativa trouxe alguma decepção para aqueles que esperavam efeitos em prazo mais curto, mas justamente por isso aumentam as chances de sua aprovação. Já a projeção para o IPCA voltou a subir ligeiramente, para 1,78% ao final deste ano e, para o IGP-M, a projeção subiu para 11,72%.

Como temos discutido neste e em outros espaços há algum tempo, a inflação, apesar de baixa em sua mensuração oficial para o consumidor, tem voltado ao radar dos analistas e deveremos ver alguns debates a respeito nas próximas semanas. Evidentemente, isso afeta também as discussões sobre política monetária.

Na semana passada, o presidente do Banco Central afirmou que “não existe juros baixos e inflação baixa com fiscal desorganizado”, explicitando o grande risco da economia brasileira: a trajetória fiscal e suas consequências sobre a inflação e os juros. A projeção mediana para a Selic ao final deste ano continua em 2,0% e a possibilidade de que caia mais, nesse cenário de maior discussão sobre a diferença da inflação para diferentes setores, diminui. Tanto é assim que a projeção mediana das instituições Top 5 para a Selic subiu de 1,75% para 1,88%.

No calendário econômico da semana, destaque para o IPCA de agosto, na quarta- feira (09/09), para a PMC de julho, na quinta (10/09) e para a PMS também de julho, na sexta-feira (11/09).

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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