Decisões erradas podem prejudicar milhões de beneficiários de planos

Diretora executiva da FenaSaúde alerta para riscos de intervenções na saúde suplementar

Fonte: FenaSaúde

Os planos e seguros de saúde têm demonstrado seus méritos durante a pandemia, ao garantir cuidados e atendimentos aos beneficiários que precisam de atendimento – não apenas para covid-19, mas para as demais doenças. Também se mostram cada vez mais importantes por colaborar com o funcionamento de toda a cadeia de saúde do país, ajudando a desafogar o SUS. Por outro lado, os planos têm sido atingidos por medidas que, no intuito de proteger alguns, podem prejudicar todo o conjunto de usuários.

“Temos que tomar cuidado com iniciativas que são tomadas sem uma avaliação mais completa de suas consequências. No caso da saúde suplementar, algumas decisões miram o individual, o imediato, mas acabam prejudicando o coletivo, comprometem a vida de milhões de pessoas”, afirmou a diretora executiva da FenaSaúde, Vera Valente, durante a 7ª edição do fórum “A Saúde do Brasil”, realizado pela Folha de S.Paulo nesta quinta-feira, 27.

A saúde suplementar pode ser vista como uma caixa d’água que irriga todo o sistema de prestadores de serviços de saúde, como hospitais, laboratórios, clínicas, médicos e enfermeiros. Em média, 85% de tudo o que as operadoras arrecadam na forma de mensalidades pagas pelos seus beneficiários são repassados para remunerar os demais elos da cadeia. Isso significa quase R$ 1 bilhão a cada dois dias.

Intervenções mal calculadas podem trazer consequências severas para o equilíbrio deste sistema. “Decisões sobre produtos e tecnologias fora do rol, suspensão de reajustes, ampliação de cobertura sem a devida contrapartida, tudo isso compromete a relação contratual e a sustentabilidade do setor”, disse Vera. Tais interferências podem, ainda, colaborar para provocar a expulsão de usuários. “Essa evasão sempre leva a impacto expressivo no SUS”, completou. 

Ao comentar a recente decisão da ANS que suspendeu os aumentos das mensalidades até dezembro, a diretora executiva lembrou que, de maneira voluntária, as operadoras associadas à FenaSaúde suspenderam todos os aumentos de todos os contratos individuais, coletivos por adesão e de pequenas e médias empresas até 29 vidas por três meses, entre maio e junho. “Agora todos os reajustes estão congelados até o final do ano”.

O setor de saúde suplementar vem se preparando para desafios que já estão surgindo e devem se intensificar no pós-pandemia. Em um cenário de permanência, e até de agravamento, da crise econômica, a FenaSaúde defende novos modelos de coberturas, mais condizentes com a realidade atual do mercado de trabalho, para permitir que novos usuários consigam acessar os planos.

Vera Valente destacou, ainda, que a pandemia acelerou mudanças e deixou aprendizados, como a necessidade de maior foco na atenção primária à saúde e a rápida evolução da telemedicina, conquista que precisa ser preservada quando a modalidade for definitivamente regulamentação a partir de 2021 – a legislação atual só vale enquanto durar o estado de emergência de saúde pública.

“O modelo precisa sair do hospitalocêntrico, ser organizado de outra forma. É bom para o paciente, que não vai ao hospital, e reduz os custos do sistema como um todo”, afirmou Vera. “As pessoas estão vendo como é bom valorizar o autocuidado, ser responsáveis por sua própria saúde. A covid mostrou agravos maiores em pessoas com comorbidades”.

Neste ano, pela primeira vez, o seminário foi realizado em formato virtual, em razão da pandemia. Além de Vera Valente, o painel “Crise Econômica e Transparência” contou com a participação do médico infectologista e ex-secretário de Saúde do Estado de São Paulo, David Uip; do superintendente do HCor, Fernando Torelly; e do professor da Faculdade de Saúde Pública da USP Gonzalo Vecina. A mediação foi de Mariana Versolato, editora de Ciência e Saúde da Folha de S.Paulo.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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