Covid-19 impacta os seguros em abril de 2020

No período do primeiro quadrimestre de 2020 houve queda de 1,1% na receita, para R$ 80,2 bilhões

Em abril, o setor segurador registrou queda de receitas, influenciada pela Covid-19. A redução foi de 21,4% em relação ao mês anterior, março, e de 26,1% sobre abril de 2019. A arrecadação de prêmios no mês foi de R$ 15,7 bilhões, a menor observada desde fevereiro de 2016, sem Saúde e DPVAT. “Já era esperado o impacto trazido pelo primeiro mês completo afetado pelo distanciamento social e pela perda de mobilidade da população e dos fatores de produção”, destaca o Presidente da Confederação Nacional das Seguradoras – CNseg, Marcio Coriolano, no editorial da Conjuntura CNseg nº 23.

O resultado de abril repercutiu também, em menor grau, no desempenho do primeiro quadrimestre de 2020. No período, houve queda de 1,1% na receita- registrando R$ 80,2 bilhões – comparando-se aos quatro primeiros meses de 2019, período em que a arrecadação não teve crescimento significativo, até se consolidar e se tornar superlativa a partir de julho. Os números de abril parecem prenunciar um cenário mais complexo. “A arrecadação setorial, que se estima progressivamente comprometida pelas circunstâncias do novo coronavírus, será comparada com a boa evolução de receitas do segundo semestre do ano que passou e, portanto, poderá mostrar repetidas taxas de decréscimo relativo”, pondera o Presidente Marcio Coriolano.

O segmento de Cobertura de Pessoas, que representa mais da metade da receita total, foi o que teve maior contribuição para a retração dos negócios em abril. Sua queda, de 28,8% sobre março, deveu-se às restrições à mobilidade, o que comprometeu o acesso aos postos de distribuição dos produtos. No segmento de Danos e Responsabilidades, que responde por 37% de market share, a redução relativa foi de 8,8%.  Neste segmento, os ramos que mais pesaram na desaceleração foram o de Responsabilidade Civil (-21,2%), Garantia Estendida (-17,3%), Automóveis (-13,5%) e Crédito e Garantias (-12,7%). A Capitalização também foi afetada pela quarentena, recuando 18% em abril em relação a março. 

Na média móvel de 12 meses, a inclusão do resultado de abril provocou uma inflexão da curva de resultados, que baixou de 12,5%, em março, para 10,1%, variação de 2,4 pontos percentuais. “Já mirando em maio, a série estatística da arrecadação mostra que, caso ele repita a queda, na ótica de 12 meses o mergulho será maior, de 3,8 pontos percentuais”, observa Marcio Coriolano.

A Agencia Brasil informa que o resultado já era esperado e reflete os impactos da pandemia do novo coronavírus. Como o isolamento social para evitar a disseminação do vírus foi decretado em meados de março, aquele mês não refletiu a queda da produção e do consumo como ocorreu em abril. “Mas em abril, como o mês veio cheio, a queda foi forte”, comentou Coriolano. O presidente da CNSeg observou que a retração registrada no mercado de seguros não ficou muito distante da queda que tiveram a produção industrial e o varejo, no período. “A queda está em linha com o que aconteceu nos demais setores da economia, o que é natural”. O setor de seguros responde aos estímulos de produção e de consumo.

A queda de 26,1% comparativamente a abril do ano passado é explicada porque 2019 começou “meio tímido” para o setor segurador e só veio a crescer mais em relação a 2018 no segundo semestre, revelando taxas crescentes a cada mês, atingindo no final do ano expansão de 12,1%. No primeiro quadrimestre de 2020, em relação aos quatro primeiros meses do ano passado, houve queda de 1,1% na receita, que totalizou R$ 80,2 bilhões.

Marcio Coriolano acredita que a partir de maio e, mais fortemente, depois de julho, a comparação será feita com um ano difícil, impactado pela covid-19. Com isso, a expectativa é de taxas cadentes nos próximos meses, em termos de produção e volume, porque as políticas do governo não deverão ainda ter obtido o resultado previsto. O desempenho vai depender da flexibilização das medidas de distanciamento e da mobilidade dos consumidores.

Coriolano destacou um ponto importante para os resultados do setor, que é a circulação de pessoas e dos corretores que promovem a venda dos seguros e têm um papel importante na distribuição dos produtos. O presidente da CNSeg acredita, no entanto, que a retração que o setor vai sofrer por conta da pandemia terá alguma compensação mais à frente. “Não se sabe em que momento e em que condições”, manifestou. Mas tal como já começa a ocorrer em países da Europa, da América Latina e nos Estados Unidos, a percepção é que será despertado nos consumidores o sentimento da aversão ao risco.

Saneamento – Marcio Coriolano ponderou que para a geração mais nova, esta é a primeira vez que tem contato com uma pandemia dessa dimensão e com essas características. “E todo mundo sabe que a disseminação dessa doença (covid-19) tem a ver com as condições de saneamento”. Por isso, destacou que não é à toa que o novo coronavírus tem afetado mais as comunidades mais pobres das capitais, o que é muito preocupante. Daí a aprovação do marco legal do saneamento ser importante para garantir condições melhores de sobrevivência para as gerações futuras”.

Isso poderá contribuir para que as pessoas vejam o seguro como uma forma renovada de se protegerem não só da pandemia, mas de toda sorte de riscos que vão estar mais evidentes a partir de agora. “Eu acho que isso também desperta um sentimento de se proteger melhor. Abre a oportunidade para as pessoas terem produtos que vão surgir renovados, com coberturas diferentes e que vão se ajustar à perda de renda que a população teve”. O presidente da CNSeg avaliou que, nesse cenário de perda de renda e aumento do desemprego, apesar da inflação baixa, o mercado de seguros vai ter que observar bem o que esse consumidor novo vai querer em termos de proteção a riscos e também adaptar as coberturas ao bolso dessas pessoas.

Segmentos – O segmento de Cobertura de Pessoas, que representa mais da metade da receita total, foi o que mais contribuiu para a retração dos negócios em abril, registrando queda de 28,8% sobre março, devido às restrições à mobilidade gerada pela pandemia, o que comprometeu o acesso aos postos de distribuição dos produtos. Dentro da cobertura de pessoas, o destaque eram os planos de risco, que cobrem morte, invalidez e doença, e os planos mais tradicionais referentes à família e pessoas, como os seguros de vida. O crescimento de Cobertura de Pessoas vinha sendo superior ao dos demais ramos de seguros desde 2017.

De acordo com dados da CNSeg, o comprometimento da mobilidade afetou também os produtos de acumulação (previdência privada) como o Plano gerador de benefício livre (PGBL) e o Vida gerador de benefício livre (VGBL), que não puderam responder positivamente ao início do ciclo baixo da economia. No seguro VGBL, por exemplo, a queda encontrada em abril, em relação a igual mês de 2019, atingiu 51,3% e, no PGBL, foi de 7,4%.

No segmento de Danos e Responsabilidades, que responde por 37% de ‘market share’ (quota de mercado), a redução relativa foi de 8,8%. Neste segmento, os ramos que mais pesaram na desaceleração foram o de responsabilidade civil (-21,2%), garantia estendida (-17,3%), automóveis (-13,5%) e erédito e garantias (-12,7%). A capitalização também foi afetada pela quarentena, recuando 18% em abril em relação a março.

Segundo Marcio Coriolano a volatilidade vai continuar em função também do mercado financeiro, afetando o setor segurador. Observou, ainda que, também em função da pandemia, o resultado acumulado até março, que era de 12,5% positivos, caiu 2,4 pontos percentuais na média móvel de 12 meses encerrados em abril, atingindo 10,1%. “A gente presume que, quando chegar em maio, os dados vão cair mais”. A estimativa do presidente da CNSEG é que a taxa em 12 meses findos em maio sofrerá queda da ordem de 3,8 pontos percentuais.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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