Lucro global da Mapfre recua 32% no 1o. trimestre; no Brasil avança 18%

No Brasil, a depreciação do real (16,3%) afeta significativamente a evolução dos prêmios, que caíram 13,3%, para 838 milhões de euros. O lucro, no entanto, aumentou 18%, para 29 milhões de euros

O lucro líquido da Mapfre nos primeiros três meses deste ano recuou 32%, para 127 milhões de euros. O resultado foi reduzido pelo impacto do terremoto em Porto Rico no início do ano, cujo impacto chega a 54 milhões de euros, e pelos efeitos da tempestade Gloria, na Espanha, com um impacto de 14 milhões de euros. As moedas dos países emergentes também tiveram um impacto negativo, retendo mais de 6 milhões do resultado líquido. Excluindo o impacto desses eventos catastróficos, o resultado ajustado seria acima de 190 milhões de euros, com crescimento superior a 3%.

A receita, por sua vez, ficou em 7,3 bilhões de euros, 4,5% a menos que entre janeiro e março de 2019, e os prêmios caíram 4,7%, para 6 bilhões de euros. Essa queda é explicada principalmente pela depreciação em relação ao euro das principais moedas da América Latina e à lira turca (12%). De fato, a taxas constantes, a redução de receita e prêmios teria sido de 1,6 e 1,5%, respectivamente.

Embora o confinamento decorrente da crise do coronavírus tenha reduzido a contratação de novos seguros, a crise econômica e de saúde ocorreu na Europa e na América, principalmente no mês de abril, de modo que o efeito nas contas do primeiro trimestre será limitado.

No entanto, espera-se um aumento na taxa de sinistralidade nos ramos diretamente relacionados à doença, como saúde, morte e vida. A desaceleração econômica e o confinamento se traduzirão, no curto prazo, em uma redução de sinistros nas linhas de seguro automóvel e geral e, a médio e longo prazo, em uma redução na receita de prêmios.

O índice combinado da Mapfre no final de março era de 100%, aumentando 4,1 pontos. No entanto, o índice combinado da unidade de seguros é de 97,2%, o que representa um aumento de menos de um ponto, apesar do impacto do terremoto em Porto Rico.

A forte queda nas bolsas de valores e a depreciação das moedas em vários países emergentes afetaram o valor dos ativos e do capital do grupo. Assim, os ativos administrados diminuíram 6,9%, para 59,2 bilhões, e os fundos próprios atingiram 7,8 bilhões, 11,2% a menos que em dezembro de 2019.

O índice Solvência II ao final de dezembro de 2019 era de 187%, ante 195% em setembro. É importante ressaltar que tanto a posição de capital quanto a solvência do grupo permanecem excelentes, com exposição limitada ao risco de taxa de juros, dado o alto percentual (56%) de dívida soberana na carteira de investimentos da Mapfre. Os investimentos do grupo atingem 50,2 bilhões de euros, dos quais, além de 56% em dívida soberana, 18% são em renda fixa corporativa e 4% em renda variável.

O grupo também destaca a flexibilidade financeira e altos níveis de liquidez, aspectos que garantem a resiliência da Mapfre na situação atual: a maioria dos ativos financeiros é líquida e a posição de caixa é relevante (mais de 2,7 bilhões e 5% do total de investimentos) e, além disso, existem linhas de crédito disponíveis e financiamento bancário pré-negociado, mas não formalizado.

Brasil – No Brasil, a depreciação do real (16,3%) afeta significativamente a evolução dos prêmios, que caíram 13,3%, para 838 milhões de euros. O lucro, no entanto, aumentou 18%, para 29 milhões de euros, e o índice combinado melhorou 0,4 ponto, para 95%, o que mostra a resiliência dos negócios nessa região.

A Mapfre Brasil apresentou lucro de 29 milhões de euros (cerca de R﹩ 174 milhões) durante os três primeiros meses de 2020. O crescimento, estimado em 18%, não foi amplamente impactado pela pandemia do novo coronavírus, que começou a avançar de forma mais intensa no país a partir da segunda quinzena de março. 

Apesar no número positivo, a depreciação em 16,3% da moeda nacional frente ao euro, impactou nos prêmios da companhia, que recuou em 13%, totalizando 838 milhões de euros – ou mais de R﹩ 5 bilhões. Já a taxa combinada melhorou 0,4 pontos, passando para 95%, o que mostra a resiliência do negócio no país. 

Para Fernando Pérez-Serrabona, CEO da Mapfre Brasil, os números reforçam a importância da participação brasileira nos resultados globais da companhia. “O Brasil é o segundo maior mercado da Mapfre fora da Espanha e tem grande potencial de crescimento do setor de seguros. Mesmo em momentos de crise, demonstramos nossa capacidade de transformação e nossa solidez, devolvendo aos nossos clientes e à sociedade a confiança que eles nos depositam”, pontua. 

Negócios – Os prêmios da Unidade de Seguros entre janeiro e março totalizaram 5,09 bilhões de euros (-5,2%), enquanto o lucro atribuível cresceu 10%, atingindo 197 milhões de euros. Na Área Regional da Península Ibérica (Espanha e Portugal), os prêmios foram de 2,4 bilhões de euros, o que representa uma queda de 4,4%, em comparação com uma queda do setor na Espanha de 6,8%. Os efeitos da tempestade Gloria diminuem o benefício desta área regional, que é de 103 milhões de euros, 13,7% a menos, e aumenta a relação combinada em 3,9 pontos, situando-se em 96,5%.

Os negócios na Área Regional Latam Norte cresceram 20%, para 484 milhões de euros. Essa área regional continua mantendo um caminho positivo em termos de rentabilidade e seu lucro aumentou em 74%, para 23 milhões de euros, destacando o bom desempenho do México e dos países da América Central. A relação combinada, entretanto, melhora significativamente (5,3 pontos), situando-se em 90,9%.

Os prêmios da Área Regional da América do Sul foram de 371 milhões de euros, representando uma redução de 6,7%. No entanto, destaca-se a evolução do seu lucro, que aumentou 24,4%, para exceder 13 milhões de euros, com um índice combinado de 97,3%.

Na área regional da América do Norte, os prêmios excederam 510 milhões de euros (-7,3%) no final de março. O lucro, que inclui um ganho de capital líquido de 14 milhões com a venda de um edifício, registrou um aumento de 79%, para 24 milhões de euros, apesar do impacto negativo do terremoto em Porto Rico.

Os prêmios na área regional da Eurásia caíram 10%, para 473 milhões de euros, fortemente impactados pela depreciação da lira turca (12%). Destaca-se a melhora nos resultados na Itália e na Turquia, que se traduz em um lucro de 5 milhões de euros nessa área regional, comparado às perdas de março do ano anterior. As medidas adotadas no âmbito da estratégia de crescimento rentável refletem-se na evolução do índice combinado, que melhora 7 pontos.

Os prêmios da Unidade de Resseguro ao final do primeiro trimestre deste ano eram de 1.064 milhões (-18%), com resultado negativo de 22 milhões de euros devido, entre outros impactos, ao terremoto em Porto Rico. Por outro lado, os prêmios Mapfre Global Risks aumentaram 41,6%, para 349 milhões de euros, e seu resultado negativo de 8 milhões corresponde quase inteiramente ao terremoto em Porto Rico.

Por fim, os prêmios da unidade Assistência caíram 5,6%, para 220 milhões de euros devido ao impacto da paralisação do turismo mundial, e seu resultado (-12 milhões) foi especialmente afetado pela cobertura seguro de viagem também devido ao Covid-19.

Covid-19 – O surgimento do coronavírus foi um antes e um depois nos negócios, seguros e atividades sociais e, desde a segunda quinzena de março, marcou uma situação sem precedentes. Nesse contexto, a Mapfre desenvolveu uma série de medidas que visam garantir a segurança de seus funcionários e colaboradores e garantir a continuidade das operações, mantendo o atendimento aos seus clientes. As ações mais relevantes foram:

Ativação do plano de continuidade de negócios em todos os países e unidades, adaptando-o à singularidade da crise do Covid-19, através do teletrabalho de cerca de 90% dos funcionários em todo o mundo, e manutenção de serviços essenciais (guindastes, oficinas) , reparos domésticos, centros médicos, casas funerárias …)

Avaliação dos riscos decorrentes da crise e adoção de uma estratégia destinada a proteger o balanço patrimonial, principalmente investimentos, e preservar o capital do Grupo, possuindo a liquidez e o financiamento necessários para neutralizar qualquer estresse monetário, principalmente em operações em países emergente.

Mobilização de recursos e transferência de recursos para a economia, através de doações diretas à sociedade e medidas para o segurado, bem como através da concessão de ajuda e financiamento adicional a agentes, fornecedores diretos e clientes, com atenção especial aos trabalhadores independentes e PME. Essas ações são complementadas pelo trabalho social adicional fornecido pela Fundación Mapfre para enfrentar esta crise.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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