A única previsão em seguros é que o mundo será outro depois do coronavírus

MAG Seguros, Swiss Re e Allianz afirmam que a indústria de seguros será afetada pela crise, mas, como em outras, se renovará e ficará ainda mais forte com o digital

“Esta crise é democrática”, afirma Nilton Molina, que completa neste mês 84 anos de vida e 61 de casamento. Ambas comemorações sem festa. Apenas na companhia da esposa. ‘Há mais de um mês estamos confinados em casa”, contou o presidente do conselho de administração da MAG Seguros, nova marca da Mongeral Aegon, ao blog Sonho Seguro. 

Segundo ele, em todas as crises, que não essa, há uma perda de renda do pobre. “Nesta, todos perdem. Bilionários, milionários, ricos, classe média, pobres, empresas e governos. Todos sairão prejudicados financeiramente, o que torna essa crise democrática”. 

Outra diferença citada é que esta é a primeira crise, “que eu me lembro”, a mudar o comportamento das pessoas. “É quase uma disrupção. O comportamento das pessoas realmente mudou. A terceira diferença, comparando esta crise com outras, é que nas anteriores se conhecia o motivo, como a de 2001 foi consequência de um ataque terrorista e a de 2008 gerada pelo excesso cometido pelos bancos. “Nesta não conhecemos a doença e as consequências dela. Isso faz uma grande diferença”, avalia.

Particularmente em seguros, a disrupção vem tanto de quem vende como de quem compra. Desde que apareceu o digital, os corretores sentiram-se ameaçados e entenderam que tudo era inimigo e essa onda de digital iria acabar com a profissão deles. E o que esta acontecendo agora? Os corretores descobriram que a tecnologia é a favor deles. “Qual o único capital de um corretor autônomo? É o tempo. Antes da Covid-19 um corretor não conseguia fazer mais do que três visitas pela dificuldade de mobilidade nos grandes centros urbanos. Agora temos corretores que estão fazendo até oito teleconferencias por dia com seus clientes e sentindo uma disposição maior dos consumidores em conversarem sobre o tema seguro”. 

Molina conta que a MAG Seguros atingiu 102% da meta de arrecadação em março, sendo 90% de vendas novas. Foi um mês quase normal. Já em abril a situação já mostra queda, dentro do que se espera diante de uma crise sem precedentes. Ele estima que a partir de julho a economia voltará a reagir com a flexibilização do isolamento social. “Ai todos terão de correr atrás para recuperar a perda do segundo trimestre”, diz, projetando uma queda de até 5% no PIB brasileiro para 2020.

Segundo ele, haverá dificuldades, mas ele acredita que 95% das seguradoras sobreviverão. No ramo vida, ele aposta em incremento das vendas em razão da percepção de risco que a pandemia trouxe à população. Em automóvel, apesar da boa noticia sobre a queda de quase 20 pontos percentuais no índice de sinistralidade (pedidos de indenizações versus faturamento), o segmento amarga queda das vendas em razão da crise da indústria automobilística que já perdura nos últimos quatro anos. Em previdência, Molina não espera um saque significativo dos fundos PGBL e VGBL. “As pessoas estão mais educadas financeiramente e sabem diferenciar investimentos de curto prazo e de longo prazo. É certo que haverá saques para fazer frente às necessidades de queda de renda, mas isso faz parte do dia a dia da previdência privada”. 

Quanto a solvência do mercado segurador, Molina também se diz confiante. “Temos um mercado saudável, com reservas significativas. Vai passar. Assim como passaram as outras crises. O PIB recuou quase 7% em dois anos do governo da Dilma Rouseff e o setor de seguros se manteve estável”, dispara Molina. 

Em 2019, a MAG Seguros apurou quase R$ 2 bilhoes em vendas, mudou a marca, lançou programas de aceleração de startups e se prepara para abrir um banco digital com forte investimento em tecnologia. “Em 15 de marco, praticamente toda a companhia trabalhava em homeoffice e esta tudo funcionando direito. Fico estarrecido”, afirmou. 

Swiss Re – A Swiss Re sugere que a atividade econômica global terá uma contração de 1,2% este ano, com o PIB caindo 3% nos EUA e 4,5% na área do euro, segundo estudo divulgado nesta semana. O grupo prevê que a parada parcial da economia permaneça durante a maior parte do segundo trimestre, se novas infecções na Europa e nos EUA atingirem o pico em abril/maio, seguidas por um retorno gradual ao crescimento no terceiro trimestre.

Haegeli: Não devemos subestimar as implicações econômicas e políticas de longo prazo que podem trazer mudanças de paradigma, como a adoção mais rápida da digitalização

A Swiss Re acredita que esta recessão, diferente das outras, seja duas vezes mais profunda do que a crise financeira de 2008, porém será “duas vezes” mais breve. Isso pressupõe que as medidas de contenção para a pandemia sejam bem-sucedidas e permitam saídas escalonadas do lockdown, e que as ações políticas sejam coordenadas em todo o mundo.

“Ainda assim, não devemos subestimar as implicações econômicas e políticas de longo prazo que podem trazer mudanças de paradigma, como a adoção mais rápida da digitalização, um papel maior para os governos e uma monetização da dívida do governo”, disse o economista-chefe do grupo Swiss Re, Jérôme Jean Haegeli.

“Na frente da taxa de juros, esperamos que os rendimentos dos títulos do governo permaneçam baixos e que os bancos centrais limitem os aumentos de rendimentos para acomodar o grande estímulo fiscal, se necessário. Em termos de riscos de médio prazo, acreditamos que a probabilidade de uma ‘estagflação’ aumentou devido a estímulos fiscais sem precedentes e potencial monetização da dívida”. A Swiss Re também disse que o balanço de riscos permanece inclinado para o lado negativo, com uma probabilidade de 25% de uma crise de crédito.

Allianz – O economista-chefe da Allianz, Ludovic Subran, disse em recente entrevista que o mundo será “um lugar diferente” quando a crise do coronavírus passar. “O COVID-19 certamente mudará a forma como vemos os investimentos em saúde, definimos o capitalismo inclusivo, o poder da China, a globalização, a luta contra as mudanças climáticas e talvez como poupamos para os eventos da vida”, citou. 

Ludovic: O mundo será “um lugar diferente” quando a crise do coronavírus passar

O grupo alemão espera uma “recuperação em forma de U” na atividade econômica global no segundo semestre de 2020 e 2021, assumindo que as medidas de contenção de coronavírus sejam bem-sucedidas. No entanto, uma recessão pode ocorrer no próximo ano se houver uma prolongada crise econômica devido a uma crise de saúde de 12 a 18 meses, com possível reinfecção e erros de política cometidos, levando a uma “recuperação em forma de L”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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