Brasil, um país que atrai investimentos da AGCS, do grupo Allianz

Duas mulheres no comando, com visões incríveis sobre os riscos mundiais e com gerir-los bem para proteger o patrimônio corporativo e garantir a sustentabilidade

A AGCS, braço de riscos especiais do grupo alemão Allianz, tem uma nova CEO desde agosto de 2019. Gláucia Smithson acaba de chegar à AGCS vinda da Zurich Brazil, onde era diretora de seguros empresariais, vida, corporativo e previdência, bem como CEO da Zurich Resseguros Brasil. Glaucia recebeu Sinéad Browne, membro do Conselho de Administração da AGCS desde 2012. As duas conversaram com o blog Sonho Seguro. As novidades todas estão nesta entrevista abaixo. Leia:

O que o conselho da AGCS espera do Brasil? Qual é a sua estratégia para ajudar o mercado de seguros brasileiro e latino-americano a crescer?

Sinéad – Embora os EUA e a Europa sejam os maiores mercados em termos de prêmio, a AGCS visa expandir ainda mais sua presença e alcançar um crescimento lucrativo em mercados emergentes como a América do Sul. Ainda que a situação política e econômica tenha sido desafiadora nos últimos anos, a região oferece muito potencial. Muitos líderes empresariais estão expressando otimismo de que o Brasil, como a maior economia da região, está finalmente se recuperando da profunda recessão que começou em 2014. Também vemos boas perspectivas em outros países como Chile e Colômbia, apesar da recente turbulência política no Chile – a América Latina está voltando. O investimento direto estrangeiro na região aumentou 13,2% em 2018, após uma contração de 5 anos. A ascensão das ‘multilatinas’ (empresas sul-americanas com histórico acima da média em crescimento e inovação) também é um indicador de que a região continua a ser um mercado importante para a AGCS.

Quais os produtos que oferecem?

Sinéad – Os principais pontos fortes da AGCS e o que nos diferencia são um modelo de negócios global, conhecimento técnico, uma rede mundial, excelência e estabilidade financeira. Vamos aonde nossos clientes estão, isso é experiência global com entrega local – apoiando empresas sul-americanas com produtos inovadores e capacidade significativa. Também temos muitos clientes europeus e norte-americanos com interesses comerciais na América do Sul, por isso é importante termos uma forte presença local para oferecer soluções internacionais de seguros.

Quais são as prioridades estratégicas e iniciativas de negócios no Brasil, Chile, Argentina?

Glaucia – Atualmente, contribuímos com cerca de 1% para o portfólio global da AGCS. Como a América do Sul está sob instabilidades econômicas e políticas há alguns anos, somos cautelosos, mas otimistas sobre nossas perspectivas de crescimento. Nosso plano é exceder o limite de EUR 100 milhões ou BRL 400 milhões para os negócios na América do Sul até o final de 2022. Atingir esse objetivo ambicioso dependerá fortemente do desenvolvimento econômico geral. O Brasil como a maior economia da região também é o mercado mais importante para nós.

São economias muito diferentes….

Glaucia – Existe uma grande diferença entre economias importantes da América do Sul. O Chile e a Colômbia estão apresentando crescimento, apesar de ventos contrários externos e turbulências políticas internas. Projetos monetários e reformas tributárias ajudaram os dois países a estabilizar suas economias e projetaram crescimentos superiores a 3%. Esses países representam oportunidades para nós: na Colômbia, temos parceria com a Allianz local e, no Chile, começamos a construir relacionamentos e redes locais. Já na outra ponta, Peru e Argentina passam por momentos bem difíceis, devido a crises políticas e econômicas. Esses países têm oportunidades que estão em nosso apetite de risco mas o potencial geral é limitado pelo desenvolvimento econômico, é claro.

E em linhas de negócios?

Glaucia – As linhas que mais contribuem com o volume de prêmio na América do Sul são Property, Marine e Financial Lines. No portfólio da AGCS, temos visto um crescimento bastante robusto nas taxas efetivas no último mês (6.3% no Q2; dados Q3 disponíveis a partir de 08/11). 

Quais produtos de seguros comerciais você espera ver um crescimento maior daqui para frente?

Glaucia – O Seguro Cyber, que cobre o custo do segurado e de terceiros por violações de dados e interrupções de TI. Especialmente no Brasil, a demanda por esse tipo de seguro em 2018 e 2019 aumentou devido a um aprimoramento da regulamentação brasileira de proteção de dados / privacidade, com implementação prevista para agosto de 2020. Em 2019, houve um aumento de 50% no número de cotações e a quantidade de riscos vinculados está crescendo. O Allianz Risk Barometer 2019, nosso relatório anual de tendências de riscos, apontou que os riscos cibernéticos são as maiores ameaças para as empresas brasileiras. No entanto, apenas algumas delas possuem estratégias abrangentes de proteção, incluindo seguro cibernético.

Certamente o D&O também está neste ranking….

Glaucia – Sim. Devido à situação política, escândalos de corrupção, aumento do número de ações coletivas nos EUA e taxas legais mais altas nos custos de defesa em muitos países da América do Sul, existe um desafio para as empresas de resseguros que fornecem capacidade para apólices de D&O. Há uma demanda crescente por proteção contra essas exposições em todos os países. Uma avaliação completa dos riscos é fundamental, considerando as leis e regulamentos locais sobre seguros em cada jurisdição.

Quais outros?

Gláucia – O seguro de riscos paramétricos é muito potencial. A América do Sul, sendo uma região suprida principalmente por energia renovável (principalmente hidrelétrica e as crescentes eólica e solar), cria-se um contexto onde as empresas estão mais expostas aos riscos climáticos. O clima aqui também é influenciado por eventos como o El Niño, que traz várias secas ou inundações – dependendo da época do ano e da região. Ter um seguro é importante principalmente para a continuidade dos negócios, não apenas para evitar perdas futuras, mas também para obter condições favoráveis ​​de financiamento. A agricultura é outro setor importante para soluções paramétricas de risco climático, particularmente a cana de açúcar, que é muito sensível às chuvas. É por isso que o número de cotações para seguro climático dobrou no ano passado. No Brasil, a Allianz obteve uma licença para produtos de seguros paramétricos pelo regulador SUSEP.

Quais são os riscos emergentes mais importantes da América do Sul?

Glaucia – De acordo com o relatório anual da AGCS, Risk Barometer, vemos que alguns riscos são comuns aos principais países de nossa região. Riscos cibernéticos, Business Interruption e NatCat são os mais preocupantes para os especialistas entrevistados. BI apresenta-se como uma ameaça, especialmente, a companhias multinacionais ou com negócios relacionados a supply chain.

Em um mundo de incertezas, como o seguro pode nos ajudar a entender e nos prepararmos para os principais riscos globais da sociedade?

Sinéad – Monitoramos constantemente e sistematicamente o desenvolvimento de riscos emergentes e tendências tecnológicas, a fim de identificar os riscos que mais impactarão a sociedade e os negócios no futuro: o Allianz Risk Barometer e o Radar de Tendências AGCS são nossas principais ferramentas de estratégia para análise de riscos emergentes. Educamos nossos clientes para que eles possam antecipar, preparar e mitigar riscos que ainda estão à frente.

E lá podemos encontrar diversos, como prevenção e cura

Sinéad – Sim. Seja o transporte de carga em navios cargueiros, proteção contra incêndio em fábricas, manutenção técnica de turbinas eólicas ou riscos cibernéticos: os engenheiros e especialistas da Allianz Risk Consulting ajudam as empresas a melhorarem sua abordagem de gestão de riscos, a fim de evitar perdas.

Mas o risco cibernético continua no topo….

Sinéad – Cyber agora é uma das principais preocupações: sempre trabalhamos na conscientização sobre ameaças cibernéticas e destacamos a importância de estratégias abrangentes de proteção, por meio de medidas técnicas de segurança de TI, treinamentos de conscientização da equipe e seguro cibernético como pilares-chave. Mas mudança climática, recursos naturais e riscos ambientais também seguem com grande relevância. O setor de seguros é o que melhor pode entender, agir e educar sobre as oportunidades e os perigos das mudanças climáticas. Por um lado, isso inclui novas possibilidades de subscrição e investimento. Do outro lado do balanço, há riscos de responsabilidade civil (aumento de litígios contra empresas nos EUA em particular), possibilidade de catástrofes mais graves ou frequentes e valores cada vez maiores de ações antigas.

E os riscos emergentes?

Sinéad – Existem muitos riscos emergentes para os quais ainda não podemos oferecer uma solução adequada. O valor das empresas consiste cada vez mais em ativos intangíveis, como dados, propriedade intelectual ou reputação. As soluções tradicionais de seguro estão evoluindo. Para proteger efetivamente os bens intangíveis, precisamos nos concentrar na modelagem de riscos orientada a dados e na estreita cooperação com nossos clientes (co-criação de soluções).

Você acredita que todas as seguradoras serão empresas de tecnologia no futuro?

Glaucia – Não, as companhias de seguros precisam manter sua competência essencial. Ainda temos muito a oferecer: excelência em subscrição técnica, capacidade de administrar sinistros e o suporte de uma rede global. No entanto, nossa abordagem precisa ser muito mais orientada a dados e digital em todas as funções. Somos um negócio de relacionamento, mas isso não significa que não podemos combinar o melhor do talento humano com os avanços tecnológicos.

E como fica o futuro da subscrição?

Glaucia – O futuro da subscrição e da gestão prática de riscos será baseado no uso inteligente da tecnologia e dos dados. A AGCS sempre foi conhecida por sua expertise específica no setor, mas, no futuro, precisamos complementar nosso conhecimento técnico e experiência com uma ampla visão orientada a dados e modelagem preditiva, se quisermos manter-nos à frente de novos riscos, como cibernéticos, em supply chain ou exposições emergentes em responsabilidade civil.

Como vê as parcerias com empresas de tecnologia?

Glaucia – Serão importantes no futuro. as seguradoras terão sucesso se puderem criar uma rede / ecossistema de empresas de tecnologia para apoiá-las a atender às demandas de futuros produtos e serviços. A AGCS desenvolveu uma rede de parcerias para aumentar nossos recursos em análise de dados e tecnologias e fornecer serviços de mitigação e crise aos nossos clientes (por exemplo, Praedicat, GuidewireCyence, WorldAware e muitos outros). Nota: Todas essas empresas / parceiros são de domínio público.

Como a tecnologia está transformando o setor e como sua empresa reage a ele?

Sinéad – A digitalização é essencial não apenas para o seguro de varejo, mas também para o seguro comercial. As expectativas dos clientes estão mudando. Precisamos alavancar novas tecnologias para aprimorar a eficiência de nossos processos, nossos recursos de análise de risco e a prestação de serviços ao cliente. Nossos clientes – entre eles as empresas mais inovadoras do mundo e as empresas de tecnologia – estão digitalizando seus próprios negócios em ritmo acelerado e esperam que correspondamos a sua velocidade.

A digitalização é uma facilitadora da excelência técnica em subscrição..

Sinéad – Sim, reunindo dados, talento qualificado e tecnologia para gerar insights. Mudar a subscrição de ‘arte para ciência’ (do risco individual ao portfólio). É um cenário ganha/ganha para seguradoras e clientes – mas que requer novas habilidades para os subscritores no trabalho com dados e tecnologia.

Tem algum exemplo de plataforma de Big Data?

Sinéad – No momento, estamos implementando uma plataforma para integrar dados internos e externos => nossos subscritores não precisam mais combinar manualmente dados de várias planilhas / bancos de dados, mas podem acessar todos os dados relevantes com apenas alguns cliques. Agora, os dados podem ser facilmente visualizados em painéis e compartilhados por toda a organização, e pessoas de diferentes escritórios e áreas de negócios podem colaborar por meio dessa plataforma.

Exemplo Robótica?

Sinéad – Cerca de 100 robôs estão em operação na AGCS (ou em suas unidades de serviços compartilhados) para automatizar totalmente determinados processos. Eles estão realizando tarefas administrativas repetitivas e padronizadas em operações de sinistros, finanças e seguros (por exemplo, processamento de apólices, consolidação financeira ou tarefas de sinistros) mais rapidamente, com menos erros e menor custo – e liberando o tempo das pessoas para se concentrarem em funções mais desafiadoras e de valor agregado, como análises, por exemplo.

Como preparando nossos funcionários para o futuro?

Sinéad – Estamos realizando uma Revisão Estratégica de Habilidades para garantir que estamos investindo em nossos colaboradores para permitir que eles se desenvolvam na era digital, além de atrair novos talentos para o futuro. Isso vai desde o treinamento de habilidades práticas em digitalização até garantir a contratação das pessoas com perfis certos (diversidade) para o futuro. Além da constante função como agente de mudança e transformação, a AGCS introduziu a Incubadora digital XSE (teste, experimentação, co-criação com clientes), uma área colaborativa entre empresas e incubadora digital, que engloba subscrição, sinistros e gestão de mercado. O XSE concentra-se em projetos exploratórios que são baseados em ideias completamente novas, testadas como prova de conceitos, geralmente co-desenvolvidas com nossos clientes.

Cite exemplos dos atuais de projetos de inovação...

Sinéad – Inteligência aérea: combina dados de observação da Terra com Inteligência Artificial para avaliar danos de NatCat em tempo real para ajudar proativamente nossos clientes; Blockchain: token financeiro para simplificar e acelerar transferências de dinheiro internamente e para nossos clientes.

E no Brasil?

Sinéad – Estabelecemos uma parceria com uma grande montadora de automóveis para desenvolver um aplicativo para melhorar o monitoramento de riscos ao longo de toda a jornada de transporte – da fábrica, às concessionários ou ao porto. O cliente e a AGCS acessam todas as etapas das vistorias ao longo da cadeia de transporte. Como resultado, a mitigação de riscos e a prevenção de perdas tornam-se muito mais eficazes e quaisquer sinistros ao longo da cadeia podem ser tratados muito mais rapidamente, pois as responsabilidades ficam mais claras.

É possível medir quanto a eficiência trazida pela tecnologia já se traduziu em lucratividade?

Sinéad – É um desafio, pois os ganhos de eficiência e produtividade não podem ser calculados isoladamente, vinculando-os novamente à adoção de uma determinada tecnologia. Portanto, você não pode dizer que o uso da robótica está resultando em um aumento de X pontos percentuais na produtividade geral ou nas despesas. O que é tangível e mensurável, no entanto, são os benefícios práticos da nova tecnologia (=> veja exemplos de robótica e dados na pergunta anterior).Os ganhos de produtividade em nosso setor geralmente são o resultado de várias medidas que se complementam: para a AGCS, atualmente, trata-se principalmente de gerenciamento de despesas, transferência de tarefas para equipes especializadas ou unidades de serviço compartilhadas em todo o mundo, redesenho de processos e tarefas, além de automação e digitalização de processos. Com essas medidas, conseguimos melhorar nosso índice de despesas globalmente para menos de 30%. Vai além de uma jogada de eficiência: a tecnologia gera não apenas ganhos de produtividade, mas também permite uma experiência superior ao cliente e, portanto, finalmente um crescimento: por meio de plataformas de distribuição digital para subscrição automática ou uma jornada de reivindicações digitais.

Quais são os efeitos do Brexit na Allianz e no setor?

Sinéad – Não vemos isso como um grande problema para o mercado de seguros ou para os clientes, porque acho que todas as principais seguradoras tomaram medidas para garantir a continuidade da cobertura. Todas as principais seguradoras têm operações europeias continentais ou as criaram em lugares como Luxemburgo, Dublin ou Bruxelas, no caso do Lloyd’s. Acreditamos que os departamentos de gestão de risco das principais seguradoras fizeram seu trabalho e consideraram todos os cenários. A AGCS está bem preparada, pois a empresa solicitou aos reguladores do Reino Unido, à Prudential Regul Authority Authority (PRA) e à Financial Conduct Authority (FCA) que a filial atual da AGCS UK em Londres seja autorizada como filial de um país terceiro (TCB), a partir do momento do Brexit. Isso significa que a AGCS permanecerá a mesma entidade legal no Reino Unido e na UE / EEE após o Brexit.

Mas algumas criaram outras empresas?

Sinéad – Algumas operadoras de seguros do Reino Unido, que atualmente dependem do Freedom of Service (FOS) para escrever negócios da UE / EEE a partir do Reino Unido, tiveram que criar empresas separadas na UE / EEE para permitir uma autorização contínua e, como resultado, tiveram que considerar e realizar transferências de portfólio para a nova entidade na UE / EEE. Devido à abordagem TCB, isso não será necessário para a AGCS, pois ela permanece uma única entidade legal. O principal problema para os clientes do setor, e especialmente as multinacionais no continente, provavelmente será a interrupção da cadeia de abastecimento e eles precisam se preparar com medidas de contingência para um cenário difícil do Brexit (saberemos até o final de outubro). Podemos ver mais empresas tentando mudar sua base de fornecedores para a Europa continental a partir do Reino Unido.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Ouça nosso podcast

ARTIGOS RELACIONADOS