Tendência é de alta de taxas, mas clientes relutam em aceitar sem que o reajuste tenha uma justificativa de sinistralidade
Preço personalizado. Esta é uma das principais demandas dos gestores que administram riscos globais presentes na 11ª. Conferência Internacional Brokerslink, realizada entre 16 e 18 de outubro, na capital mundial do vinho, Bordeaux, França. Jorge Luzzi, CEO da RCG Powered by Herco, coordenou a mesa redonda do evento com 17 gestores de diversas nacionalidades, como japoneses, brasileiros, franceses, americanos, argentinos, africanos, peruanos entre outros. “A impressão geral é que o mercado segurador mundial está num ciclo “hard”, ou seja, de aumento de taxas e maior exigência de informações, compliance e adoção de medidas de segurança eficazes”, resumiu Luzzi.
Sem números específicos, os gestores citam aumentos médios de 20% no programa de seguro que está sendo renovado agora para vigorar em 2020. “Isso não é certo. Como posso explicar para a minha diretoria um aumento de 20% diante de um contrato praticamente sem ocorrência de sinistros?”, indaga um gestor de risco industrial que pediu anonimato. Ele garante que os gestores de riscos estão munidos com tecnologia capaz de fornecer dados que permitem que corretores e seguradoras ofereçam aos resseguradores uma sofisticada análise dos riscos, condição que sempre foi vital para determinar as negociações de taxas e condições do programa de seguro. Dessa forma, os aumentos de preços, acreditam eles, deve se limitar aos segmentos e regiões geográficas afetadas por perdas expressivas.
Do outro lado da mesa resseguradores, com decisiva influência na formação de preços e condições de um programa global de seguros. Os resseguradores afirmam que precisam reajustar o preço para recompor o capital diante de perdas com catástrofes nos últimos anos e também atender à demanda dos investidores que exigem retornos mais atraentes para disponibilizar capital para o setor. “É um momento importante para os gestores de riscos, pois eles têm mais trabalho para reavaliar os programas, negociar franquias e limites, além de preparar uma planilha de compliance detalhada para conseguir atrair o capital disponível no mercado e assim fechar um bom contrato. E tudo isso num momento difícil para as empresas, com cortes de custos, o que dificulta a negociação para aumentar a equipe dos gestores”, frisa Luzzi, que também é presidente do Conselho da ABGR (Associação Brasileira dos Gestores de Riscos) no Brasil.
Mas se depender dos insights apresentados no Monte Carlo Reinsurance Rendez-Vous, evento que desde 1957 reúne resseguradoras, seguradoras, gestores de riscos que compram seguro, investidores e prestadores de serviços, as negociações serão duras, uma vez que há uma concordância dos principais resseguradores sobre a necessidade de aumento de taxas. Segundo pesquisa divulgada pela Moody’s na 63ª edição do evento realizado em setembro passado, resseguradores entrevistados disseram que esperam um mercado estável com viés de alta para as próximas renovações em 2020. Justificam que precisam reavaliar seus retornos de capital ajustados ao risco diante da queda das taxas de juros nos principais países do mundo — alguns com taxas nulas ou negativas — bem como buscar equilíbrio técnico diante do aumento dos custos com sinistros por catástrofes naturais.
Apesar de tal previsão, os corretores da rede internacional Brokerslink, que atuam em mais de 100 países, lutam para conseguir boas condições. Fazem uso da conexão global bem como de road shows com seus clientes para apresentarem aos resseguradores tudo que tem sido feito para mitigar os riscos, com históricos detalhados de ocorrência de acidentes. Boa parte deles com curvas decrescentes.
“Não é um aumento igual em todas as partes do mundo. Em alguns países é maior do que em outros”, afirma Luzzi. As perdas econômicas globais geradas por catástrofes naturais e desastres provocados pelo homem em 2018 totalizaram US$ 165 bilhões, sendo que US$ 76 bilhoes foram pagos pelo mercado segurador, segundo estudo da Swiss Re. No primeiro semestre de 2019, o estudo mostra um total de perdas econômicas com catástrofes estimado em US$ 44 bilhões, com US$ 19 bilhões em perdas seguradas.
Locais onde há catástrofes, a negociação se torna mais dura, como Estados Unidos, Japao ou Chile, por exemplo. Como no Brasil as catástrofes naturais são raras, os gestores brasileiros se ressentem de serem penalizados por algo que está fora da realidade local. “Quando se aposta na prevenção e em medidas de mitigação de riscos, os efeitos são imediatos no custo do seguro de transporte ou de saúde. Já o mesmo não acontece no segmento de riscos patrimoniais e eles querem que as seguradoras e resseguradoras passem a considerar as melhorias e a exposição local em vez de nivelar o preço de forma mundial”, resume Luzzi.
Redução de margens, apesar de ser a última das ofertas dos corretores e seguradoras, também tem sido um tema importante nas reuniões com clientes que buscam evitar reajustes relevantes não justificados pela sinistralidade. Certamente as negociações serão acaloradas neste final de ano, período em que milionárias apólices de seguros são renovadas. No entanto, o que se nota é que os executivos responsáveis pela contratação dos maiores programas de seguros do mundo estão completamente blindados por seus corretores e seguradores.
O risco de perder clientes hoje em dia está entre os mais temidos pelos profissionais do setor. A principal estratégia das companhias de seguros é aumentar a base de clientes para compensar a redução nos valores segurados gerada pela recessão e pelo auto seguro, uma conseqüencia da revisão dos programas de seguros motivada pela prioridade das empresas seguradas em minimizar custos e mitigar riscos.
Os gestores de riscos das maiores empresas do mundo estão exatamente atrás de produtos inovadores e preços acessíveis, principalmente diante de um cenário de incertezas como o de hoje. Segundo pesquisas, os principais riscos temidos pelos gestores de riscos são ataques cibernéticos, incerteza política, comoções sociais, regulamentação excessiva do setor e mudanças climáticas.
A concorrência certamente regulará os contratos dos bons clientes, que diante dos avanços tecnológicos têm mais segurança para assumir franquias elevadas e assim reduzir o valor pago pelo seguro. Certamente é momento que mostra o profissionalismo do setor, com incessante busca por ganhos técnicos para compensar a redução dos ganhos financeiros. Ce la vie, como dizem os franceses.
A jornalista viajou a Bordeaux, França, a convite da MDS Brasil, corretora que representa a rede Brokerslink no Brasil.
O mesmo fenômeno ocorre no seguro de automóvel onde o consumidor não tem organização para defender seus interesses e não tem alternativa para reagir contra os prêmios e franquias elevadas. Como consequência proliferam as associações e a não contratação de seguros por uma parcela dos consumidores com renda que lhes permita utilizar-se do “Self Insurance”. Infelizmente isso o app não resolve. Urge controlar a Fraude NA ACEITAÇÃO e consequentemente o sinistro e daí permitir prêmios civilizados. Falei CONTROLAR E NÃO QUANTIFICAR.