Estudo: quem está mais e quem está menos preparado para o envelhecimento da população

Fonte: Mercer

  • Holanda está em primeiro lugar, e Dinamarca em segundo
  • Brasil cai da 20ª para 21ª posição 
  • Índice se expande e passa a incluir a RAE de Hong Kong, Peru, Arábia Saudita e Espanha
  • Sistemas de previdência privada precisam se expandir de modo a incluir toda a força de trabalho

O envelhecimento da população continua a representar um desafio para os governos de todo o mundo, fazendo com que os legisladores de políticas públicas lutem para equilibrar o duplo objetivo de proporcionar uma segurança financeira para os aposentados que seja, ao mesmo tempo, adequada para os indivíduos e sustentável para a economia.

Em sua 10ª edição, o Índice Global de Sistemas Previdenciários da Mercer em Melbourne revela quem está mais e quem está menos bem preparado para enfrentar esse desafio.

Ao avaliar 34 sistemas de previdência, o Índice mostra que a Holanda e a Dinamarca (com pontuações de 80,3 e 80,2, respectivamente) oferecem sistemas de renda na aposentadoria de grau A e classe mundial, com benefícios satisfatórios — demonstrando com clareza que estão preparados para envelhecimento da população.

No entanto, analisando os resultados, algo comum é a crescente tensão entre adequação e sustentabilidade. Isso ficou especialmente evidente ao analisarmos os resultados da Europa. A Dinamarca, a Holanda e a Suécia obtiveram pontuações de graus A e B tanto para adequação quanto para sustentabilidade, enquanto a Áustria, Itália e Espanha obtiveram pontuações de grau B para adequação e de grau E para sustentabilidade, indicando, portanto, áreas importantes carentes de reformas. 

O Dr. David Knox, autor do estudo e sócio sênior da Mercer Austrália, comenta que a maneira natural de se dar início a um sistema de previdência de classe mundial é garantir um equilíbrio desejável entre adequação e sustentabilidade.

“Trata-se de um desafio contra o qual os legisladores estão lutando”, diz o dr. Knox. “Por exemplo, um sistema que oferece benefícios muito generosos no curto prazo tem pouca probabilidade de se manter sustentável, enquanto um sistema que é sustentável ao longo de vários anos pode estar oferecendo benefícios muito modestos”. A questão é: qual seria o meio-termo apropriado?

Segundo estuodo, todos os sistemas deveriam considerar um ajuste de sua estratégia de modo a se movimentar em direção ao quadrante superior direito. Por intermédio do estudo, os legisladores podem entender as características dos melhores sistemas e encontrar formas de aprimorar os seus próprios.

Knox acrescenta que não basta um sistema ser sustentável ou adequado; uma dimensão que está surgindo nesse debate em torno do que constitui um sistema de classe mundial envolve a “cobertura” e a proporção da população adulta que participa do sistema. 

“Em alguns países, uma cobertura ampla foi atingida com sucesso por meio de sistemas de previdência obrigatórios no local de trabalho, ou, em alguns casos, de opções automáticas de inscrição”, ele diz. 

“No entanto, com novos formatos de trabalho, cada vez mais adotados pelas pessoas em todo o mundo, precisamos garantir que esses esquemas incluam a todos de forma que a força de trabalho como um todo esteja poupando para o futuro. Isso inclui os prestadores de serviço, os trabalhadores autônomos e qualquer pessoa com qualquer subsídio à renda, seja por licença parental, auxílio-inclusão ou seguro-desemprego”.

David Anderson, presidente da Mercer International, acrescentou que um avanço positivo foi ver que os governos estão enfrentando reformas da previdência à medida que a expectativa de vida continua a subir. 

“As economias desenvolvidas estão há algum tempo cientes dos desafios demográficos a serem enfrentados por seus sistemas de previdência. É bom ver tantos governos asiáticos reconhecendo que essas mesmas tendências estão surgindo em suas próprias populações e tomando providências para abordá-las. Essas medidas tornam o futuro dos sistemas mais sustentável no longo prazo”, ele disse.

Devido ao aumento da amostra – que passou de 30 para 34 países neste ano – o Brasil caiu uma posição em relação a 2017, tendo ficado na 21ª colocação, porém, com melhora da nota geral, que passou de 54,8 em 2017 para 56,5 em 2018. 

Para Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer Brasil, a melhora do índice pode ser creditada em grande medida à crescente cobertura dos produtos de previdência complementares na população. “Temos observado que o debate público sobre a necessidade de reformas no sistema de previdência tem despertado a sociedade para a necessidade cada vez maior de planejar o futuro, o que tem aumentado o interesse das pessoas por produtos que melhorem a sua segurança financeira”, avalia o executivo. 

O que nos reserva o futuro?

Alguns sistemas de previdência enfrentam um caminho mais íngreme do que outros para atingir uma sustentabilidade em longo prazo, e tudo começa a partir de origens diferentes, com seus próprios fatores exclusivos em jogo. Não obstante, cada país pode tomar suas próprias providências no sentido de obter um sistema melhor. No longo prazo, um sistema de previdência perfeito não existe, mas os princípios de “melhores práticas” são muito claros, e os países devem considerar a criação de políticas e condições econômicas que possibilitem as mudanças necessárias.

No caso do Brasil, será importante buscar um maior equilíbrio do sistema a partir de reformas que possam garantir a sua sustentabilidade no longo prazo. “Podemos dizer que o Brasil tem boa avaliação no que diz respeito à integridade, adequação e cobertura do seu sistema público de previdência, em relação a outros países. O grande desafio está no campo da sustentabilidade, ou seja, em como o país irá equacionar suas regras dado o enorme desafio demográfico que terá pela frente”, explicou Felipe Bruno.

Com o desejado resultado de proporcionar uma vida melhor, o Índice deste ano fornece uma interpretação mais profunda e mais valiosa dos sistemas globais de previdência. Tendo agora se expandido para incluir a RAE de Hong Kong, Peru, Arábia Saudita e Espanha, o Índice avalia 34 sistemas, confrontando-os a mais de 40 indicadores, para medir seu grau de adequação, sustentabilidade e integridade. Essa abordagem destaca um importante objetivo do Índice: permitir a comparação entre diferentes sistemas em todo o mundo, com uma gama de características de projeto atuando em diferentes contextos e culturas.

O Índice Global de Previdência da Mercer Melbourne em números

O Índice deste ano revela que muitos países do Noroeste da Europa lideram o desenvolvimento de sistemas de previdência de classe mundial. A Holanda, com uma pontuação geral de 80,3, superam a Dinamarca em 0,1 ponto para ocupar o primeiro lugar, posto mantido pela Dinamarca durante seis anos. A Finlândia derrubou a Austrália (72,6) e a substituiu no terceiro lugar, com uma pontuação geral de 74,5, enquanto a Suécia (72,5) vem em quinto lugar.

“O Índice é uma referência importante para que os elaboradores de políticas em todo o mundo aprendam algo com os sistemas mais adequados e sustentáveis”, diz o Dr. Knox. “Sabemos que não existe um sistema perfeito que possa ser aplicado universalmente, mas existem muitas características em comum que podem ser compartilhadas para proporcionar resultados melhores”.

Índice Global de Sistemas Previdenciários da Mercer Melbourne — resultados gerais de valor

O Índice utiliza três subíndices — adequação, sustentabilidade e integridade — para avaliar cada sistema de renda na aposentadoria confrontando-o a mais de 40 indicadores. A tabela a seguir mostra os valores gerais do índice para cada país, ao lado dos valores de cada um dos três subíndices, adequação, sustentabilidade e integridade.[1] Cada valor do índice representa uma pontuação entre zero e 100.

Resultados

SistemaTotalAdequaçãoSustentabilidadeIntegridade
Holanda80,375,979,288,8
Dinamarca80,277,581,882,2
Finlândia74,575,36192,1
Austrália72,663,473,885,7
Suécia72,567,672,680,2
Noruega71,571,558,190,2
Singapura70,464,469,581,2
Chile69,359,273,379,7
Nova Zelândia68,565,463,480,6
Canadá6872,15678,2
Suíça67,65867,583,2
Alemanha66,879,944,976,6
Irlanda66,87945,976,6
Colômbia62,668,450,170,9
Reino Unido62,557,853,482,9
Peru62,46854,265,1
França60,779,542,256,5
Arábia Saudita58,961,653,362,6
Estados Unidos58,859,157,460,2
Malásia58,545,260,577,1
Brasil56,572,528,570,1
Hong Kong5639,454,984,2
Espanha54,468,727,868,6
Polônia54,353,846,266,4
Áustria5468,121,576,7
Indonésia53,147,349,567,4
Itália52,867,720,174,5
África do Sul52,741,946,878,2
Japão48,254,132,460,7
Coreia47,345,448,149,3
China46,253,43846
México45,337,357,141,6
Índia44,638,743,855,2
Argentina39,240,833,844,1
Média60,561,15271,6

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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