Perfect storming (Tempestade perfeita). Assim Samya Paiva, diretora de Risk Management da Zurich, define o desafio assumido há três anos. “Muitas coisas aconteciam ao mesmo tempo no mercado segurador local e internacional; o ambiente de gestão de risco, portanto, era bastante desafiador. Mas, como especialistas em gestão de riscos, não só sobrevivemos como crescemos e, o trabalho da área de gerenciamento de riscos em conjunto com as outras diretorias da empresa, é de fortalecer ainda mais a companhia para os novos riscos que temos pela frente”, comentou ela em entrevista ao blog Sonho Seguro.
As seguradoras estão acostumadas, há séculos, a analisar riscos de seus clientes para definir quais querem assumir e quanto cobrarão por essa aposta. Mas avaliar os riscos da própria operação de seguros de uma forma mais robusta é uma exigência nova, digamos de uns 15 anos para cá, iniciando pelo mercado Europeu e se alastrando para várias seguradoras de todo o mundo.
Está no DNA do mercado segurador fazer a pergunta certa para medir riscos que muitas vezes a ambição ignora. Por isso esse tem sido um setor resiliente, lucrativo e longevo. Atitude simples e intuitiva, como faziam os homens na beira do rio Tâmisa para cada navio que saia de Londres para o caminho das Índias. Como está a previsão do tempo? Vão chegar? Vão naufragar? Quem é o capitão da embarcação? Como recrutou os marinheiros? Sem tecnologia, a decisão era apoiada pela intuição. Hoje, quase tudo depende da tecnologia, que de nada vale se faltar a pergunta certa. E mesmo que seja para alimentar um robô, ninguém melhor do que um especialista em risco para tal questionamento.
Samya fez carreira no mercado financeiro, trabalhando em bancos como ABN-AMRO, Santander, Itaú e Pan. Ela foi atraída para o mercado segurador pelo desafio de implementar a diretoria de gerenciamento de risco, que visa ajudar outras áreas da companhia a tomarem decisões mais seguras. “Dificilmente você zera o risco, mas certamente pode mitigá-lo com ações simples”, afirma. O principal ganho para as seguradoras em contarem com a consultoria desta área é a redução de perdas operacionais.
Desde o final de 2017, a Superintendência de Seguros Privados (Susep), o órgão regulador do mercado segurador, requer que as seguradoras tenham uma estrutura de gerenciamento de riscos em linha com a complexidade e porte de suas operações. Isso obrigou várias seguradoras a criarem áreas de riscos com objetivo de garantir um gerenciamento efetivo dos riscos da própria seguradora.
Segundo Samya, a parte mais desafiadora foi, e tem sido, encontrar profissionais de riscos de seguros e de subscrição. São profissionais qualificados para atuar de forma holística com a visão de todos os riscos, sejam eles de cunho financeiro, operacional, regulatório, de imagem, entre outros. “Tem de ser técnico e ao mesmo tempo precisa ter uma capacidade de persuasão muito forte para conseguir influenciar todos os níveis hierárquicos da companhia na tomada de decisões. Há técnicos excelentes no mercado, mas raros com capacidade de enfrentar conflitos”, explica.
Mesmo com tal dificuldade, Samya formou uma equipe multidisciplinar. “Tive muita sorte em encontrar profissionais de riscos financeiros de fora do país e também dentro da Zurich. A parceria com o departamento de recursos humanos foi crucial”, afirma.
Na Zurich, a área de Riscos é independente e já está em um processo avançado de conscientização por parte de outras áreas, que consultam a equipe de riscos para uma melhor eficiência do negócio. Uma vez por ano o grupo levanta todos os riscos estratégicos, fatores internos e externos, que podem afetar o resultado da companhia, e, trimestralmente, o mapa de risco estratégico é revisado. A análise de riscos correntes da empresa, no entanto, é feita no dia a dia e já está no DNA da empresa.
“Temos uma visão 360 graus. Olhamos para todos os grandes projetos que a companhia está envolvida. Não temos rotina e todos os dias são bastante movimentados, uma vez que a companhia é dinâmica, multicanal e multiprodutos, e tem uma série de novos projetos e portfolios para serem avaliados e acompanhados”, afirma.
A inovação do mercado segurador está entre os principais riscos monitorados, desde uma possível entrada de novos players no setor como ameaçam Amazon, Google e Tesla, como o aspecto regulatório, risco de conduta por ser uma seguradora forte em parcerias com varejo e que exige um olhar profundo no cliente, e o mais temido de todos: “temos uma área dentro da diretoria só para olhar o risco cibernético”, conta.
A nova Lei de Proteção de Dados também é pauta top dentro da agenda da diretoria de risco. Segundo ela, todo processo de terceirização da Zurich passa por uma rigorosa análise de risco e continuidade de negócio. Como a informação é guardada, se na nuvem, como são os acordos com terceiros, qual o nível de segurança interna e nas camadas de segurança de parceiros. “Hoje afirmo que se algo acontecer, temos governança de acionamento muito rápido com as implementações feitas nos requerimentos de nossos parceiros nos últimos anos”, citou.
Samya e equipe se orgulham do trabalho, que os colocou numa posição de destaque. A área já é demandada por todas as outras, que entenderam que a diretoria de risco agrega valor, mesmo quando num primeiro momento parece estar atrapalhando ao colocar pontos importantes do projeto que precisam ser adequados para mitigar riscos. “Hoje temos uma demanda maior do que a capacidade de atender. Somos chamados para acompanhar todos os projetos importantes, toda tomada de decisão. Finalmente viramos consultores para as áreas de negócios”, comemora ela, que dia a dia se dedicou a quebrar algumas pedras de resistência para construir a credibilidade que sua diretoria tem hoje dentro do grupo.
#ficaadica: e se isso acontecer, o que acontece?