#8ºencontroresseguro: Lacuna de proteção mostra potencial para o setor se desenvolver

Fonte: CNseg

Oportunidades e desafios do mercado de seguros e resseguros no Brasil e no mundo foram a tônica da apresentação do CEO de Resseguros da Swiss Re, Moses Ojeisekhoba. O executivo foi o palestrante do painel “Como o Resseguro pode ajudar a resolver a lacuna de proteção” no segundo e último dia do 8º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro. O coordenador de mesa foi Antonio Trindade, CEO da Chubb e presidente da FenSeg, e os debatedores foram Luiz Roberto Cunha, professor de Economia e decano do Centro de Ciências Sociais da PUC-Rio, e Rodrigo Botti, CEO da Terra Brasis Resseguros. 

Moses listou temas que merecem a atenção de seguradoras e resseguradoras, entre eles o aumento  do número de catástrofes no mundo. O executivo apresentou alguns dados de 2018: foram 181 desastres naturais, 123 atentados terroristas e 166 enchentes e furacões que deixaram um total de 11 mil mortos e US$ 337 bilhões em perdas econômicas. “São dados que impactam a nossa indústria e nos obrigam a repensar as ferramentas de gestão de riscos relevantes e eficazes e a oferta adequada de seguros”. A América do Sul, disse o executivo, foi um dos continentes mais afetados por catástrofes naturais nos últimos dez anos, que causaram, segundo ele, perdas avaliadas em US$ 200 bilhões. 

O fenônemo da urbanização, que cresce no mundo inteiro, principalmente em países em desenvolvimento, também é um ponto que precisa ser um dos focos para a indústria de seguros. Para Moses, há eventos colaterais causados por uma urbanização desenfreada e sem planejamento. “Uma delas é a questão da segurança alimentar. Quando as pessoas abandonam áreas rurais para viverem em cidades, elas abandonam também áreas de cultivo. O número de pessoas cultivando alimentos para a população diminui”. O envelhecimento da população também é algo que deve ser analisado de perto pelos executivos do setor. “Europa já sofre esse problema há alguns anos. Até a África, que é o continente mais jovem, também já começa a perceber declínio da proporção de idosos”.

Moses também afirmou que países desenvolvidos apresentam oportunidades. Nos EUA, por exemplo, cinco em cada 6 domicílios não têm cobertura contra enchentes. Na França, 50% da safra agrícola não estão seguradas. Em países em desenvolvimento como o México, 69% dos veículos automotivos não têm seguros. Na China, a população gasta US$ 193 bilhões em despesas de saúde – o que corresponde a três vezes mais do que é gasto com coberturas médicas. Nas Filipinas, 97% das perdas ocasionadas por tufões/desastres naturais não são seguradas.

“No Brasil, destaco a produção agrícola, que tem potencial de demanda de US$ 200 bilhões para a indústria de seguros”, disse. O executivo também destacou que a tecnologia é uma aliada da indústria para aumentar a penetração de produtos na sociedade. “É preciso melhorar o acesso de seguros pela população. A brecha de proteção só será reduzida com acessibilidade, melhoria na distribuição de acesso e oferta de produtos que caibam nos bolsos dos segurados. É preciso ver a questão da facilidade e praticidade do produto, como é feito o pagamento do sinistro. Tenho certeza de que a tecnologia é a chave para fazer isso”.

Luiz Roberto Cunha falou sobre os eventos climáticos, que impactam a indústria de seguros no mundo inteiro. Citou como exemplo o temporal que causou destruição e mortes no Rio de Janeiro ontem (dia 8). “Sem investimentos mínimos, eventos climáticos causarão impactos e tragédias mais amplas”. O acadêmico também ressaltu a questão da crise fiscal no Brasil, afirmando que “o país gasta mais e entrega de menos”. “Gastamos pouco e mal em educação, saúde, segurança e infraestrutura e somos campeões em gastos.

Rodrigo Botti comparou o mercado de resseguros no Brasil e nos EUA. No país norte-americano, produtos de vida têm bastante penetração, assim como o de automóveis (devido à questão de responsabildiade civil). “No Brasil, temos o DPVAT, que apesar de funcionar bem, não tem nenhuma proteção adicional privada. Além disso, a proteçao a acidentes de trabalho é algo que provém do sistema público e não do setor privado”.

O executivo também fez uma análise comparativa entre Brasil e Canadá, que têm números próximos em termos de prêmio. “Canadá tem maior mix de vida, um acúmulo que tem lá e não tem aqui. Automóvel e Resposabildiade Civil tem maior proporção lá. Por outro lado, o mercado de saúde do Brasil é proporcionalmente maior.” Botti também citou o potencial de microsseguro no Brasil, que segundo ele, é enorme. E completou: “Uma agenda dessas não vemos em outros setores da economia. O setor de segurostem grandes oportunidades”.

Antonio Trindade falou sobre o que é preciso fazer para aumentar a cultura de seguros no Brasil. “Primeiro devemos olhar para a educação. Pessoas mais bem educadas, com pós-graduação e lato sensu veem valor no seguro. A falta de renda é um fator limitador, ou seja, as pessoas precisam de renda suficiente para poder consumir nesse mercado. Outro ponto é a questão regulatória. No Brasil, é complicado aprovar produtos, o que acaba restringindo seguradoras na oferta de produtos para nichos”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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