Mercado segurador está na pauta da equipe do governo Bolsonaro

O mercado segurador foi um termo recorrente durante a cerimônia de posse dos ministros do governo de Jair Bolsonaro, bem como dos novos presidentes de bancos oficiais. Com base em matérias publicadas em várias mídias, podemos afirmar que o setor está com tudo. O que é muito bom para todos. Afinal, quanto maior a penetração do seguro na sociedade, mais a economia cresce. Em 2017, o setor vendeu US$ 5 trilhões no mundo. Enquanto no Brasil a participação do seguro no Produto Interno Bruto (PIB) é de 4,1% (sem saúde), a média mundial é de 6,1%, segundo estudo da Sigma, divisão de pesquisas da Swiss Re. Nos mercados avançados, a média superar 7%, como Estados Unidos com 7,1%, Japão com 8,6%, Reino Unido com 9,6%, França com 8,9%, e Alemanha com 6%, Coreia do Sul com 11,6% e Itália com 8,3%.

Sem considerar o impacto positivo da reforma da Previdência, tida como a prioridade número 1 do governo, na captação de poupança pelos fundos de previdência privada aberta, o setor vislumbra ganhos com agronegócios, ampliação da base de distribuição com o tão esperado balcão da Caixa Econômica Federal, entre outras apostas como projetos de infraestrutura e proteção ao crédito nos bancos privados, uma vez que os bancos oficiais vão se dedicar mais aos projetos sociais. “As instituições financeiras são como lubrificantes para o crescimento econômico que depende de crédito”, alertou o ministro da Economia, Paulo Guedes.

O novo presidente do Banco do Brasil, Rubem Novaes, afirmou em seu discurso que as áreas de administração de fundos, meios de pagamento, seguridade, crédito a famílias e a pequenas e médias empresas são rentáveis, são “joias da cora” e, portanto, devem ser preservadas com a abertura de capital ou formação de parcerias. O BB tem várias parceiras, como Icatu, Principal, Aliança do Brasil e Mapfre.

Rural também foi destaque. Ele afirmou que pretende diminuir os incentivos ao crédito rural. Em contrapartida, falou em estimular mais a contratação do seguro agrícola, que protege o agricultor em casos de quebra de safra, segundo O Globo do dia 7 de janeiro.

Ele também fez trocas de executivos. Nomeou o atual vice-presidente de Relação com Investidores, Bernardo Rothe, para assumir a presidência da BB Seguridade, e Walter Malieni Júnior, que deixa a diretoria de crédito para a presidência da Brasilprev, hoje ocupada por Marcos Barros.

A Caixa também prioriza seguros. Carlos Daltoso, head de renda variável da Eleven Financial, informou ao Infomoney que a Caixa Seguridade deve valer entre R$ 17 bilhões e R$ 21 bilhões. Comparativamente, a BB Seguridade vale R$ 56,7 bilhões e o IRB R$ 3,5 bilhões. No IPO da Caixa, porém, deve ser colocada uma fatia entre 25% e 50% da Caixa Seguridade, o que pode render algo entre R$ 3,4 bilhões e R$ 10,5 bilhões.

A Caixa Econômica Federal tem 90 milhões de clientes, muitos dos quais utilizam apenas um produto. Pedro Guimarães, que assumiu o comando da Caixa Econômica Federal, mostrou interesse em rever contratos na área securitária, citando a corretora Wiz e a francesa CNP. Por que o contrato na área de seguros com a francesa CNP teve renovação adiada?, questionou o Valor em entrevista. Pedro Guimarães respondeu: Estou chegando agora e quero analisar. Isso não foi fechado antes então qualquer coisa relevante que venha sob a minha presidência vou avaliar. Há renegociações em vários segmentos de seguros e nesse caso diz respeito a seguros de vida, previdência e prestamista. É uma questão básica, não há como um presidente chegar e referendar uma negociação da qual não fez parte.

Em uma longa entrevista publicada pelo Valor com pessoas próximas a Guimarães, o tema seguro também foi destacado. A reportagem cita que entre os bons negócios, que tiveram desempenho positivo duradouro, estão os contratos firmados com as seguradoras Porto Seguro e SulAmérica. Também cita o caso da BB Seguridade. “Enquanto analistas de outros bancos não enxergavam tanto valor no negócio, o Pedro acreditava que a BB Seguridade valia mais que o banco. Ele comprou essa briga e estava certo”, lembra um colega. Um dos maiores IPOs brasileiros até hoje e um caso de sucesso foi conduzido por Guimarães.

O resseguro também esteve presente nas falas de Guimarães, que veio da Plural, um dos acionistas da Terra Brasis. Ele passou a compor o conselho de administração do IRB Brasil Re, no lugar de Flavio Eduardo Arakaki. O analista Daltozo também lembrou o IPO do IRB na entrevista do Infomoney. Depois de uma tentativa frustrada de abrir o capital em 2015, o IPO em 2017 foi um sucesso, como mostra o valor de mercado do ressegurador, que dobrou da emissão até hoje.

Todos estão de olho no gigante potencial da Caixa em seguros. Além do presidente do conselho de administração da SulAmérica, Patrick Larragoiti, também esteve presente na cerimônia o presidente da seguradora Icatu, Luciano Snel. Ambas as companhias já têm parceria com a Caixa em seguros e estão na disputa pelas novas sociedades que a seguradora está ofertando. Quem também deu as caras no Planalto foi o presidente do Credit Suisse, José Olympio. O banco suíço e o BB são os atuais assessores da Caixa na reestruturação do balcão de seguros e abertura de capital da Caixa Seguridade, informou a Agência Estado.

Desestatização também é um tema em moda. O secretário-geral de Desestatização e Desmobilização do Ministério da Economia, Salim Mattar, afirmou que está desenvolvendo um programa com o objetivo de privatizar “tudo”. Para ele, até mesmo as empresas que geram lucro poderiam ser mais eficientes. “A minha secretaria é muito grande, estamos apenas no pré-projeto de um programa. Um programa para desestatizar tudo. O Estado não deve competir com a iniciativa privada. Não tem que ter corretora, seguradora”, disse. Existem hoje 138 estatais federais, sendo 47 de controle direto da União (dessas, 18 são dependentes do contribuinte). As 91 restantes são de controle indireto, sendo holdings ou subsidiárias de Petrobras, Eletrobras, Banco do Brasil, BNDES, Caixa e Correios, destacou o Valor.

A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou na segunda-feira, que algumas “medidas importantes” na área de crédito rural poderão ser anunciadas na próxima semana, enquanto defendeu novamente a expansão do seguro para produtores brasileiros, informou a Reuters. “Seguro e seguro, nós precisamos resolver esse entrave, quer dizer, já existe, mas nós precisamos permear ele para uma base maior de produtores rurais, de agricultores”, acrescentou.

Enfim, acredito que isso mostra que o mercado segurador terá um ano intenso. Tanto nos bastidores da política como na agenda da grande mídia.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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