Zurich começa 2019 colocando o Brasil no centro do mundo

Inovação foi o tema forte de 2018 no mercado segurador. As pautas se dividiam em quem e como inovava. O termo “Insurtech”, que significa tecnologia em seguros, inundou as mídias mundiais com o surgimento de algumas unicórnios, aquelas que superam US$ 1 bilhão em valor de mercado. Nenhuma no Brasil. Ainda. Mas 2019 promete. Desde a eleição do novo governo, investidores apostam suas fichas em diversos segmentos da economia brasileira. E seguros certamente é um deles. “O setor segurador é um dos mais conservadores, não só no Brasil, mas no mundo todo. Mesmo que seja muito regulado, é preciso que ele se adapte aos novos tempos”, disse o head digital de transformação da Kick Ventures, Cezar Taurion, em um dos muitos eventos sobre o tema realizados em 2018.

Os especialistas sentenciam que o seguro tem sido um “retardatário em termos de mudança”, mas acreditam que em breve não haverá lugar para a indústria se esconder, já que os desenvolvimentos digitais como a Inteligência Artificial e blockchain transformam o cenário de negócios. A principal #ficaadica dos eventos é que cada empresa tem que perguntar se ela está preparada para o que está prestes a atingi-la.

De tudo que foi noticiado neste ano, no Brasil e no mundo, o que mais me chamou a atenção foi os bastidores do grupo Zurich, que atua em mais de 201 países e territórios. No Brasil, já é a quinta maior seguradora, com liderança em vários segmentos. São muitas as novidades. Em fevereiro, por exemplo, fará um lançamento que simboliza um pouco do que vai acontecer daqui pra frente.

A Zurich tem como visão que a intermediação vai continuar pelos próximos anos pelos corretores, mas acredita que ao longo do tempo a forma como os corretores atuam vai mudar. “Os vendedores vão ser cada vez mais digitais. A venda direta sem corretor não está no radar do grupo e sim que eles vão se modernizar para atender à demanda dos clientes que exigem isso”, afirma o diretor de Inovação e Estratégia da Zurich, Rodrigo Barros.

Em 2018 o grupo avançou em diversos projetos. Uns voltados para modernizar tudo o que existia na companhia e outros com viés de inovação pra valer. Remodelou os portais institucional, do corretor e do cliente para ter uma comunicação mais fluida, mais lúdica. “Toda a infraestrutura do sistema foi trocada e evoluímos dos portais para o termo tão falado neste ano, os ecossistemas”, diz.

Trata-se de uma estrutura tecnologia que reúne qualquer aplicativo e uma infinidade de parceiros que se conectam com facilidade a uma plataforma digital acessível para toda a inovação necessária daqui pra frente. “Podemos fazer qualquer projeto piloto com startups a partir desta estrutura. De nada adiantava ter projetos se eles não podem ler o comportamento do cliente e assim fazer ofertas assertivas de produtos e serviços. Agora legados convivem com um sistema flexível”, diz Barros, com grande empolgação.

Essa foi a base para o que virá em 2019. Com o ecossistema pronto, a Zurich abriu concorrências mundiais para selecionar parceiros. Como está tudo na nuvem, o céu é o limite para a conexão. A Zurich prevê anunciar a sua entrada em telemetria com uma parceira sediada nos Estados Unidos. Isso vai ampliar a concorrência no Brasil com Liberty, Youse, SulAmérica e Porto Seguro, que já atuam com a tecnologia telematics, que até então era o que havia de mais moderno, mas que agora fica um passo atrás do que será lançado no primeiro trimestre pela Zurich.

O APP, que é 100% smartphone, está em teste em um grupo de funcionários. Utiliza oito parâmetros para dar vantagens ao motorista consciente e prudente. “Tirando os Estados Unidos, o resto do mundo não está tão avançado como o que teremos no Brasil em 2019”, afirma o executivo. Na Europa, a Itália é o país mais moderno em telemetria.

Tão importante como o desenvolvimento da tecnologia, a estratégia de comunicação para o lançamento coloca o Brasil no centro do mundo. Será o primeiro dos 210 países onde o grupo atua a adotar a telemetria em seguro de carros. Uma notícia que por si só demostra o potencial brasileiro e certamente atrairá mais investimentos para o setor. Ah! E o anúncio será feito em Zurich, capital da Suíça.

Em fevereiro deve sair também o resultado do concurso global da Zurich para inovação do qual participam mais de 20 países. 21 insurtechs foram selecionadas, de várias partes do planeta. Uma das preferidas está na América Latina, região pela qual o Brasil concorre. O campeonato tem três níveis – nacional, regional e mundial. As startups vencedoras participam da competição com América do Norte, América Latina, Oriente Médio e Ásia-Pacífico.

O executivo comentou que já fez mais duas parcerias com insurtechs, uma holandesa e outra americana, que desenvolvem projetos nas áreas de sinistro e de digitalização, principalmente para otimizar a área de afinidades, liderada no Brasil pelo grupo, que tem parceiros de peso como Via Varejo, Fast Shop e tantas outras.

Também fez parceria para diversos projetos com a aceleradora Torq, que tem diversas soluções para bancos. Além dos programas internos de inovação, com 1,4 mil participantes, onde surgiram 235 ideias. Dessas, 10 foram selecionadas e os grupos foram treinados como startups. Na captura de ideias, foram identificadas ineficiências para os clientes, que servirão como matéria-prima para desenvolver soluções para buscar resultados concretos. “Ajudamos a desenvolver e refinar a ideia e fazer pitches para a diretoria”.

A indústria de seguros terá de repensar seu modelo de negócios para prosperar e atender às necessidades de seus clientes na nova era digital. A discussão hoje não é tecnologia, que está fácil e disponível. O sucesso de cada companhia depende da capacidade de ligar os pontos e transformar a informação em um diferencial competitivo. Atualmente, as cinco maiores empresas do mundo são de tecnologia. Com o auxílio da inteligência artificial, o setor segurador possui o desafio de se adequar a esse novo consumidor que surge cada vez mais empoderado e questionando todo o modelo de negócio e econômico existente, principalmente os consumidores das novas gerações.

Os especialistas nesta nova economia citam que o futuro profissional é brilhante se adotadas mudanças e feitas parcerias de negócios e não apenas técnicas, como temos visto com Icatu que passará a vender previdência para a HDI e AIG vendendo seguros financeiros na rede da Porto Seguro. A profissão enfrenta problemas de trabalho e é preciso entender o que esta interrupção significa para o conhecimento, habilidades e desenvolvimento profissional contínuo. Todos nós (inclusive eu) precisamos ficar ‘aptos para o futuro’ e os programas de educação são muitos e projetados para atender às necessidades individuais e corporativas.

A visão do cenário futuro que a Zurich acredita tem na lista liderar os projetos para esse novo mundo. Provocar a cultura de inovação na companhia. Espalhar a visão. Dar liberdade para as pessoas se expressarem. E isso é sustentável. Os funcionários ganharam prêmios, notoriedade e muita experiência no mundo digital, que conectam tanto a Zurich quanto eles mesmos a nova economia digital, que promete ter bilhões de pessoas conectadas, o que abre um mundo totalmente novo aos empreendedores e para a sociedade.

Certamente um mundo novo. Todos já sabem que “daqui pra frente, tudo será diferente”, como recita o rei Roberto Carlos, mesmo ele faturando alto com a mesma música há décadas. Inclusive no último natal. A boa notícia é que isso mostra que o tradicional e o novo se complementam. E isso é muito bom.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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