Mercado segurador deve crescer 3% em termos reais nos próximos dois anos

O crescimento econômico global permanecerá sólido nos próximos dois anos, embora o impulso de alta tenha atingido o pico. O último sigma do Instituto Swiss Re “Global Economic and Insurance Outlook 2020” afirma que o ainda bom momento da economia irá incentivar o setor de seguros, com prêmios globais acima de 3% anualmente, em termos reais, nos próximos dois anos, um aumento de um ponto percentual em comparação com 2018. A maior parte da demanda será proveniente dos mercados emergentes da Ásia, onde se estima que os prêmios cresçam a uma taxa três vezes superior em comparação à taxa média global, perto de 9%. A inovação no setor de seguros expandirá os limites da segurabilidade e conduzirá ainda mais o crescimento dos prêmios. Ela também ajudará a melhorar a resiliência global, reduzindo, assim, as lacunas de proteção de seguro existentes.

“A economia global vem apresentando um bom desempenho, e o crescimento econômico global permanecerá sólido”, afirma Jérôme Jean Haegeli, economista chefe no Swiss Re. “Contudo, a melhor parte chegou ao fim. O impulso cíclico é positivo, mas esperamos que o PIB real desacelere cerca de 1 a 2 pontos porcentuais na maior parte do mundo nos próximos dois anos.

Isso também leva em consideração os desafios estruturais crescentes para o crescimento, como os pesos mais altos de dívida, as poupanças reduzidas em razão do envelhecimento da sociedade, e a baixa produtividade.”

O Instituto Swiss Re estima que a economia norte-americana crescerá 2,9%, em termos reais, em 2018, 2,2% em 2019 (consenso de 2,6%1) e 1,7% em 2020 (consenso de 1,8%), uma vez que o Federal Reserve se tornará menos apoiador e o estímulo fiscal desaparecerá. Estima-se que o crescimento na zona do euro desacelere para 1,5% e 1,4% em 2019 e 2020, respectivamente, em comparação com o 1,9% anterior. Para o Japão, espera-se um crescimento de 0,6% do PIB para o próximo ano, inferior ao 1,0% em 2018 devido à redução da demanda externa.

Os mercados emergentes, especialmente na Ásia, continuarão a crescer. Espera-se que o crescimento do mercado emergente agregado seja moderado em aproximadamente 4,9% ao ano entre 2019 e 2020, após um ganho de 4,7% este ano. As estimativas têm por base uma antecipação da recuperação econômica nos países que tiveram dificuldades recentemente, incluindo Argentina, Brasil, África do Sul e Turquia. Os mercados emergentes da Ásia continuarão a superar os demais, com a previsão de que as economias chinesa e indiana cresçam mais de 6,0% anualmente nos próximos dois anos.

Riscos de baixa

Os riscos de baixa do crescimento global aumentaram ultimamente. A médio prazo, o nível recorde de baixa de desemprego nos EUA provavelmente implicará ganhos salariais mais altos e risco mais elevado de superaquecimento nos EUA. Isso poderia desestabilizar a trajetória esperada da normalização da política monetária, tendo por base o aumento das taxas de juros de modo mais agressivo do que o esperado por parte do Federal Reserve. A retração excessiva das condições financeiras poderia levar a uma maior volatilidade do mercado e a uma desaceleração da atividade econômica. A longo prazo, o principal risco é o agravamento das tensões comerciais atuais entre os EUA e a China em uma guerra comercial global. O relatório estima que, no pior dos cenários, por exemplo, uma tarifa de 10% sobre todos os bens comercializados a nível global, o PIB global seria reduzido entre 1,5% a 2,5% nos próximos três anos.

O desenvolvimento dos prêmios de seguro será apoiado pelo sólido ambiente de crescimento econômico. O Instituto Swiss Re estima que os prêmios globais de vida e não vida crescerão acima de 3 % anualmente em 2019 e 2020. Os ganhos serão impulsionados pelos mercados emergentes. A riqueza nos mercados emergentes cresceu significativamente e um aumento de 1 ponto porcentual no PIB em 2018 tem um impacto muito mais significativo em termos de volume de prêmios do que teria há uma década atrás. Além disso, muitos mercados progrediram para a área mais inclinada da curva S de seguros e o impacto do crescimento da renda sobre a demanda por seguros é muito maior.

“Como a mudança do poder econômico global do Ocidente para o Oriente prossegue com a mesma força, a China e especialmente os mercados emergentes da Ásia serão as principais fontes de demanda de seguros nos próximos anos”, afirma Haegeli. “Com base nos nossos modelos, estimamos que, em dólares norte-americanos, a taxa de crescimento dos prêmios de seguro nos mercados emergentes da Ásia será três vezes superior à média mundial nos próximos dois anos.” De acordo com os dados do sigma, a parcela dos prêmios globais da China subiu de 0,8% em 2000 para 9,7% em 2017, e estima-se que cresça para 16% até 2028.

Dez anos após a crise financeira global, o mundo encontra-se mais resiliente?

A última publicação do sigma também aborda a questão da resiliência, afirmando que a economia mundial continua mal preparada para uma recessão global. A economia apresenta uma capacidade menor de absorver choques, tendo em vista as tendências inferiores de crescimento, em comparação com 10 anos atrás, pesos maiores da dívida, estruturas de mercado financeiro mais fracas e uma tendência para menor abertura. O Instituto Swiss Re promove um movimento em direção a mais soluções de mercado de capital privado para remediar a situação, com o setor público promovendo os padrões do mercado financeiro sempre que possível (para investimentos sustentáveis e de infraestrutura, por exemplo), instrumentos de débito contingentes para dívidas soberanas, além de reformas estruturais específicas de cada país e menor intervenção do Banco Central.

O seguro é um pilar central de resiliência e, com um ambiente de política mais favorável, as seguradoras poderão melhor expandir sua capacidade de absorção de riscos, bem como as atividades de investimento de longo prazo nos projetos de construção de resiliência, como infraestrutura. De acordo com os últimos dados das diferentes fontes, este sigma estima que o setor global de (res) seguro tenha, sob gestão, uma totalidade de ativos na ordem de US$ 30 trilhões – praticamente três vezes o tamanho da economia da China. Essa grande base de ativos deve ser mobilizada por completo como um absorvedor de riscos. Além disso, o relatório estima recentemente que a lacuna de proteção à propriedade e mortalidade se encontra atualmente em US$ 500 bilhões em termos equivalentes ao prêmio. A lacuna representa a vulnerabilidade ainda elevada em relação a eventos adversos para muitas famílias e negócios no mundo todo e a grande oportunidade para seguradoras contribuírem ainda mais para aumentar a resiliência.

A inovação no setor de seguros reduzirá as lacunas de proteção. As inovações de produtos, como o seguro paramétrico, por exemplo, estão ampliando o escopo da segurabilidade para riscos referentes a catástrofes naturais que anteriormente eram difíceis de segurar. A tecnologia dará apoio à inovação. Por exemplo, as empresas estão buscando garantias para exposições anteriormente não seguráveis, como perda de rendimentos e de fluxos de caixa devido à interrupção dos negócios, recall de produtos, cyber e riscos de preço referentes ao clima e à energia. A evolução das estruturas de indenização de acionador duplo, e os avanços dos dados e de modelagem permitem que as seguradoras desenvolvam cada vez mais coberturas inovadoras para tais exposições.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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