Depois de muito trabalho dentro de casa nos últimos três anos, a recompensa para as seguradoras. A Fitch Rating divulgou um novo estudo sobre o mercado segurador, agora com perspectivas para 2019. Resumo da ópera: céu de brigadeiro, com indicadores favoráveis de crédito no ano em que se inicia um novo governo, de Jair Bolsonaro. A perspectiva de rating do setor brasileiro de seguros foi revisada para “Estável”. Era negativa desde 2015. A revisão reflete a mesma ação relativa ao soberano do Brasil. Atualmente, todas as seguradoras brasileiras classificadas pela Fitch apresentam perspectiva estável. “A Fitch prevê um ambiente operacional favorável à manutenção do atualmente sólido perfil de crédito do setor brasileiro de seguros. A redução das incertezas políticas após as eleições de 2018 e a recuperação econômica devem contribuir para o crescimento dos prêmios, mas é improvável que a receita financeira se recupere significativamente”, afirma Esin Celasun, diretora da Fitch.
Os juros baixos pressionam a receita financeira das seguradoras e ainda são um desafio. O aumento dos prêmios é bastante sensível ao crescimento econômico. Porém, acrescenta, o desempenho técnico e a solvência do setor permanecem fortes e continuarão sendo suportes, afirma o relatório. O crescimento dos prêmios no setor depende consideravelmente do cenário macroeconômico. Desde que o ambiente operacional começou a piorar, em 2014, o crescimento dos prêmios começou a desacelerar e deve atingir seu nível mais baixo em 2018, chegando a quase zero. A Fitch prevê modesta recuperação do crescimento dos prêmios em 2019, mas ainda abaixo de 5%, em decorrência da sua previsão de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3% em 2019 (1,3% em 2018). A inflação também é uma variável importante, para a qual a Fitch projeta 4,2% em 2019 (3,6% em 2018). O total de prêmios do setor, exceto saúde, diminuiu 1,5% até setembro de 2018.
A Fitch acredita que 2019 será um pouco menos desafiador para o setor de seguros, devido também à redução das incertezas políticas após as eleições. O novo governo sinaliza com uma agenda liberal, o que pode aumentar a confiança do consumidor e do investidor. Como resultado, o crescimento dos prêmios pode se recuperar, revertendo a tendência de 2018.
Para 2019, a Fitch projeta alta ainda modesta dos planos Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBLs) e Gerador de Benefícios Livres (PGBLs), que compõem mais de um terço dos prêmios, já que historicamente possuem relação positiva com a taxa de juros, que não deve mudar significativamente em 2019. Os VGBLs impulsionaram grande parte do crescimento do setor de 2010 a 2016, quando registravam alta média de 20% ao ano, mas o percentual diminuiu significativamente em 2017 (2%) e ainda mais em setembro de 2018 (-9%).
O resultado financeiro das seguradoras brasileiras é altamente vinculado às taxas de juros e inflação, já que a maior parte das carteiras de títulos das seguradoras brasileiras é exposta a títulos públicos com taxas vinculadas a essas duas variáveis. Consequentemente, o ciclo de flexibilização monetária que reduziu as taxas de juros em 975 pontos-base desde o último pico, no início de 2016, pressionou consideravelmente o resultado financeiro e parcialmente os lucros. É improvável que os juros sejam significativamente alterados em 2019, portanto, o resultado financeiro permanecerá relativamente modesto.
A Fitch espera que os resultados técnicos do setor permaneçam contribuindo para os resultados, que resistiram à crise. O índice combinado do setor, exceto saúde, atingiu média de 90% durante 2015-2017, caindo para 86% em setembro de 2018. A melhora dos resultados técnicos reflete o maior foco das seguradoras em precificação, controle de despesas e medidas de eficiência, que visam compensar a redução do resultado financeiro e o baixo crescimento dos últimos três anos. O ROAA do setor, excluindo saúde, caiu de 1,5% em 2017 e de uma média de 1,9% em 2013-2016 para 1,4% em setembro de 2018. A Fitch não espera que esse índice fique abaixo de 1,0%.
A capitalização do setor permanece confortável e, apesar de um aumento recente dos índices de alavancagem, não limita o crescimento dos prêmios. Em setembro de 2018, os passivos líquidos e os prêmios ganhos líquidos em relação ao patrimônio líquido aumentaram para 15,7 vezes e 1,5 vez, respectivamente (13,9 vezes e 1,4 vez, em 2017). O aumento se deve principalmente às altas distribuições de dividendos realizadas.
Das seguradoras brasileiras classificadas pela Fitch, o rating de Força Financeira de Bradesco Seguros e os IDRs da SulAmérica permanecem limitados pelo rating soberano. “Qualquer alteração nos ratings soberanos ou em sua Perspectiva afetará as notas dessas empresas”, informa a agência. Os demais emissores brasileiros do setor classificados pela Fitch não possuem ratings em escala internacional e, portanto, não são diretamente afetados por alterações no rating soberano.