Com juros em queda, cresce aposta em ativos que envolvem riscos de seguros

ILS. Uma sigla tão pequena mas com um grande poder. Insurance Linked Securities ou Investimentos Ligados a Seguros são uma opção financeira para investidores que buscam retorno elevado e diversificação na carteira de investimentos. Podemos dizer que concorre com o resseguro tradicional, uma vez que se trata de uma aposta direta do investidor de que um risco de seguros não irá causar perdas significativas. Se derem sorte, lucram . Se não, perdem. Mas esse não é mercado para todos. É para investidores experientes, com muito dinheiro e que tem apetite por riscos, geralmente catastróficos.

Pelo crescimento mundial deste produto financeiro, há muita gente com esse perfil. O ILS tem atraído investidores e por essa razão tem sido tema de importantes eventos internacionais de seguros, realizados em locais regados pelo luxo, como o tradicional Rend Vouz de Resseguros, que aconteceu em Monte Carlo, Mônaco, no início de setembro, como também no Insurance Forum Argentina, realizado entre 24 e 26 de setembro em Bariloche, na Patagonia Argentina. “Temos grande interesse em desenvolver esse produto no Brasil”, conta Rodrigo Botti, CEO da resseguradora local Terra Brasis, que esteve presentem em ambos eventos.

A primeira vista, o exótico ILS concorre com o tradicional resseguros. No caso dos resseguradores, o prêmio pago pelas seguradoras que compraram resseguro vira lucro. Ou perdas com o pagamento das garantias contratadas para que as seguradoras façam frente às indenizações a seus segurados. No caso dos investidores, o mesmo acontece, com outras nomenclaturas. O investidor contabiliza lucro no fundo administrado ou amarga perdas que vão depender das condições negociadas. Pode perder só a rentabilidade estimada, parte ou o total do principal investido.

Em fevereiro do ano passado, a Terra Brasis emitiu um ILS, visando fomentar o desenvolvimento de um mercado de capitais para risco seguráveis no Brasil. A emissão do título, no valor de US$ 5 milhões, marca a estreia de uma resseguradora brasileira neste tipo de operação. O Alpha Terra Validus I (ATV 1), listado nas Bermudas, cobre a exposição a riscos de danos a bens ligados a catástrofes naturais da Terra Brasis na América Latina, incluindo o Brasil.

“O ILS é uma tecnologia nova mas que já impacta o mercado de seguros no Brasil. Hoje é possível transferir riscos brasileiros para o exterior, através de resseguradoras offshore autorizadas a atuar no pais e no exterior transferir estes riscos para o mercado de capitais. Foi o que fizemos com a emissão do ATV 1. Seria muito vantajoso desenvolver esta tecnologia no Brasil, permitindo também a transferência de riscos de seguros para o mercado de capitais doméstico. Podemos vislumbrar sua utilização em várias linhas de negócio, incluindo Agro, seguros relacionados a projetos de infraestrutura, saúde e outros”, explica Botti.

Pode parecer uma contradição uma resseguradora querer atuar num segmento, que aparentemente é concorrente. Entretanto, temos vistos uma convergência crescente entre resseguradores e brokers de resseguros e o mercado de ILS. Um dos temas mais discutidos no encontro de Monte Carlo este ano foi a recente compra da Nephila, maior fundo de ILS do mundo, pela Markel que é um tradicional segurador americano. Antes deles, a AIG comprou a AlphaCat outro grande fundo de ILS. Todos os grandes brokers de resseguro hoje possuem departamentos dedicados a emissão e negociação de ILS.

O CEO da Terra Brasis, que tem o Banco Brasil Plural e o IFC, braço do Banco Mundial, como acionistas, não comenta rumores de bastidores do setor sobre uma possível união com a resseguradora Austral, já citada em várias notícias com candidatas a terem um sócio para a operação de seguros e de resseguros. Unidas, galgariam várias posições do ranking local de resseguros, alcançando o segundo lugar, superadas apenas pelo IRB Brasil Re, o maior do Brasil e da América Latina.

O IRB, por sua vez, também gera rumores nos bastidores do mundo do resseguro. Segundo publicou a coluna de Lauro Jardim, no jornal carioca O Globo, o namoro que já dura mais de um ano ensaia um avanço no mercado brasileiro. Ele se refere a venda de uma fatia do IRB Brasil para a Berkshire Hathaway, do megainvestidor Warren Buffett.

Uma das explicações para tantas “fofocas” sobre fusões e aquisições no mundo do resseguro é a transformação que a tecnologia traz ao mercado segurador. O resseguro é visto como um veículo de apoio para que as seguradoras ingressem em novos mercados, como automóvel com telemetria, doenças graves e seguros voltados ao agronegócio, para citar apenas alguns ramos. “Só em saúde temos um campo imenso para atuar. Em seguros, o volume de vendas chega a R$ 80 bilhões. Saúde tem o dobro disso: R$ 160 bilhões por ano em vendas. E há potencial para muitos produtos serem desenvolvidos neste segmento”, afirma Botti.

É certo que qualquer decisão dos investidores vai aguardar o resultado das eleições presidenciais no Brasil. Pelo que tenho ouvido dos investidores, o otimismo com o Brasil é grande. Certamente vai demorar mais para alcançar um crescimento como o registrado entre 2008 a 2013, mas todos são unânimes em afirmar que a indústria de seguros seguirá num ciclo virtuoso diante da baixa penetração do seguro no Produto Interno Bruto, de apenas 6%, considerando seguros, previdência e saúde. Sem saúde, a participação cai para menos de 4%, muito abaixo dos 8% da média mundial.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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