A expectativa era de que o ex-presdiente Lula fosse o assunto do dia no almoço promovido pelo Clube Vida em Grupo São Paulo (CVG-SP) nesta quinta-feira, o “day after” da condenação, pela primeira vez na história do Brasil, de um ex-presidente a 9 anos e 6 meses de prisão pelo juiz Sérgio Moro pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso triplex. O assunto no coquetel era a escalada do Corinthians, “sobrenatural”, no Campeonato Brasileiro. Mesmo podendo ser vista, do alto do restaurante Circolo Italiano, a manifestação “abraço fraterno”, organizada por simpatizantes do Partido dos Trabalhadores (PT) no centro de São Paulo.
O palestrante do dia do tradicional almoço do CVG-SP foi Joaquim Mendanha de Ataídes, titular da Superintendencia de Seguros Privados (Susep). Em pauta, a agenda da Susep, que visa o crescimento sustentável do setor, com prioridade para solvência, inovação, recadastramento do corretor, seguro de acidente de trabalho e o seguro de vida. “Iria fazer uma abordagem de todo o mercado, mas o anfitrião, Silas Kasahaya, presidente do CVG-SP, me pediu para focar em vida”, comentou o xerife do setor.
Mendanha e importantes porta-vozes do setor passaram a manhã reunidos discutindo várias agendas do seguro. Uma delas foi a Youse. A plataforma digital da Caixa Seguros lançou nesta semana o Youse Friends, um seguro peer to peer, no qual o consumidor entra como acionista em um grupo de pessoas, num sistema de mutualidade, que visa proteção para um determinado risco, no qual lucros e prejuízos são repartidos entre todos. O Youse Friends tem como foco a proteção do carro.
Esse modelo de venda, estimulado pelo surgimento das insurtechs, tem feito sucesso no mundo, porém a aposta no Brasil é de problemas, diante do elevado volume de pedidos de indenizações com o crescimento da violência, como roubo e furto de automóveis, de residências e de equipamentos eletrônicos.
“A Susep não é contra a inovação. Criamos um grupo que vai discutir a regulamentação das insurtechs, que terão uma regulamentação própria. Não se pode permitir que qualquer empresa com discurso de quebra de paradigmas venda produtos aos consumidores livremente sendo que esse é um mercado regulado. Precisamos da tecnologia para crescer, mas isso tem de ser normatizado”, enfatizou em seu discurso pré-almoço. Mendanha também citou que a circular que normatiza o pagamento por meios remotos, como o mobile, está sendo atualizada e em breve será divulgada.
A solvência foi outro tema abordado pelo titular da Susep. “A diretoria de solvência acompanha o dia a dia do setor e tem enfatizado que o mercado é bastante solido. Temos poucos casos fora da curva e são acompanhados”, afirmou.
O recadastramento e a especialização do corretor estava na pauta do encontro. “Se queremos aumentar a participação do seguro de pessoas no mercado, temos de ter uma base de distribuição forte e mais especializada do que temos hoje”, disse ele para ressaltar a importância da Escola Nacional de Seguros. “Estive agora no Chile e nunca vi uma escola que tenha o gabarito da Funenseg. Por isso dou aqui meus parabéns a Robert Bittar, presidente da Escola Nacional de Seguros”.
Alexandre Camillo, presidente do Sincor-SP, agradeceu a disponibilidade do titular da Susep em manter uma agenda carregada com o setor de seguros em São Paulo. Um dos temas principais foi o recadastramento dos corretores, que não atingiu o número esperado e que por isso teve o prazo
adiado. O fim da obrigatoriedade da contribuição sindical imposto com a reforma Trabalhista aprovada pelo Congresso Nacional nesta semana não foi um tema do almoço. Pelo menos publicamente.
Mendanha também falou um pouco da evolução das vendas do mercado de seguros, apesar do ritmo estar diminuindo em comparação com os anos anteriores em razão do prolongamento da recessão do país. Para fomentar a indústria neste período de crise do país, o titular da Susep tem conversado com as principais lideranças do setor para facilitar o dia a dia das companhias no que diz respeito ao lançamento de produtos e redução de burocracias excessivas. O primeiro a ser elogiado foi Edson Franco, presidente da Fenaprevi. “Recebi dele 13 propostas para fomentar o setor de acumulação. Já cumprimos cinco delas. As outras dependem mais do Legislativo e da Receita Federal”, comentou.
Ele informou que o Universal Life será aperfeiçoado e que nesta semana teve aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Segundo Mendanha, a circular aprovou um produto que não foi o ideal, mas foi o possível. “Agora aguarmos a Receita Federal, que a partir da semana que vem deve estar solucionado nosso pleito. Tenho certeza de que o Universal Life será um novo norte para o seguro de pessoas.” Segundo ele, mudanças no PGBL e VGBL, que vão entrar em audiência pública a partir da semana que vem, será um grande avanço do trabalho de fomento da indústria. “Esses produtos foram criados como fundos de acumulação e agora serão atualizados diante da nova realidade do mercado”, frisou.
Outro tema importante é o seguro de acidente do trabalho. A minuta já está pronta e foi trabalhada com afinco pela CNseg. Nela, o setor propõe a privatização do acidente de trabalho. “Já fizemos a ponte entre as diversas esferas governamentais apresentando o trabalho realizado pela CNseg. Isso vai atender uma demanda que o governo precisa, que é o teto de gastos. O seguro de acidente dá prejuízo para o governo, o empresário paga uma taxa elevada e o serviço prestado para o usuário não tem um atendimento adequado. Privatizar trará benefícios a todos”, comentou.
Privatizar o acidente de trabalho, no entanto, depende de agenda tumultuada do Congresso para ser apreciado. As apostas são de que logo o governo transfira esse seguro para as seguradoras. Marcio Coriolano, presidente da Confederação das Seguradoras (CNseg), viaja neste mês para a Colômbia para conhecer melhor o trabalho feito no seguro de acidentes do trabalho naquele país, por ser citado como exemplo para o mundo, contou ele em conversa com o blog Sonho Seguro. “O governo certamente vai se livrar de um custo que só piora o déficit do país”, disse João Marcelo Máximo dos Santos, presidente da Academia Nacional de Seguros Privados (ANSP).
Mendanha também adiantou que novas regras para capitalização são discutidas e em breve devem entrar em audiência pública. “Recebi do ministro da Fazenda a incumbência de que o mercado cresça e leve proteção aos brasileiros. Sou arrimo de família. Meu pai faleceu cedo e meu ele tinha um seguro da Bradesco. E foi isso que nos estabilizou até que pudéssemos nos organizar financeiramente. Cito isso pois quero reforçar a importância do seguro de pessoas para que famílias e empresas possam contar com uma proteção em momentos de dificuldade”, finalizou Mendanha o seu discurso no almoço mensal do CVG-SP.
Reforma da Previdência – Edson Franco, presidente da Fenaprevi e da Zurich Seguros, se mantém otimista com a reforma da previdência, mesmo com o tema em segundo plano na pauta do Congresso Nacional diante do imbróglio político desencadeado com a delação dos irmãos Batista, da JBS, há mais de um mês. “A realidade vai impor a necessidade da reforma, cedo ou tarde. Melhor que seja mais cedo do que tarde”, disse ele ao blog Sonho Seguro. “Basta olharmos para o que está acontecendo no Rio de Janeiro, com uma situação de estado falimentar. Ninguém quer que isso seja replicado em larga escala”, comentou. “É um consenso de que a reforma é necessária para conter o déficit das contas públicas. O que precisamos é de viabilidade política, ou seja, ter um cenário mais propício para uma articulação política que consiga tocar o assunto”.