É preciso rever o papel das instituições para se ter uma sociedade mais digna

Fonte: CNseg

Sociedade, economia, política e futuro. Esses foram os quatro temas escolhidos para os debates que acontecem entre os dias 2 e 5 de fevereiro, no 22º Encontro de Líderes do Mercado Segurador, em Florianópolis (SC), organizado pela CNseg. São mais de 300 profissionais que atuam no mercado segurador buscando entender mais sobre esses quatro temas e, assim, construírem, no dia a dia, produtos, serviços e processos essenciais para ditar o crescimento do setor. De acordo com os porta-vozes da CNseg e das quatro Federações associadas, o setor aposta em um crescimento próximo a 10% para 2017, sustentado por inovação, educação, transparência e comunicação.

O pesquisador da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Samuel de Abreu Pessoa; o professor do Ensino Superior em Negócios, Direito e Engenharia (Insper), Carlos Melo, e o economista e ecologista Sérgio Besserman foram os debatedores do primeiro painel: Sociedade. “Como nos inserirmos na economia global às voltas com a imensa transição e grave crise?”, questionou Besserman, que moderou o painel. “Precisamos nos tornar mais conscientes do que é a sociedade brasileira para enfrentar seus desafios. E isso é uma tarefa árdua, tendo em vista que apenas 2% da atividade do ser humano é consciente e, todo o resto, não”.

O painel buscou se aprofundar no tema sociedade, algo muito complexo em qualquer pais, principalmente no Brasil. Carlos Melo foi o primeiro a abordar o tema e, logo de cara, já disse que se uma sociedade conhece todos os nomes dos ministros do Supremo Tribunal Federal e não consegue escalar um time para disputar campeonatos de futebol, é sinal que a crise é mais profunda do que se possa imaginar. “O Brasil melhorou, as instituições melhoraram, mas estamos longe de estar bem. São as instituições que garantem o desenvolvimento econômico. Se elas funcionam, o desenvolvimento social acontece”, pondera.

“A política é o motor das instituições. Se as instituições funcionassem, não chegaríamos ao ponto que chegamos de ter um impeachment”, argumentou o professor do Insper, para quem a falta de lideranças de qualidade nos grandes partidos brasileiros, o jogo que se moveu para a indicação de um novo relator para a Lava Jato e a aflição do cidadão comum com a falta de sinais de melhora da economia sinalizam que a crise nas instituições é preocupante.

Para ele, há muita volatilidade política e institucional, que gera insegurança, um sinal de ineficiencia institucional. “Uma vez que a sociedade não vê mais o Congresso Nacional com credibilidade, nem como crível para esse desafio, fica-se dependendo de personagens, que são importantes, mas não podem substituir as instituições.” O que fazer, então? Segundo ele, o diagnóstico é ainda precário, apressado e superficial . O engajamento social e a construção de novas liderancas parecem ser fundamentais para a mudança do cenário do país. “Temos de fazer reformas”, enfatizou.

Já Samuel de Abreu Pessoa afirmou que, para se fazer as reformas, é preciso olhar o momento da redemocratização. “Este processo está em construção”, avaliou. Segundo o pesquisador da FGV, as instituições desandaram, com um imenso desvio de rota. Além de instituições bem modeladas, temos de ter modelos mentais mais maduros, defendeu.

Para o economista ortodoxo, o impeachmet de Dilma Rousseff não é um sinal de mau formação das instituições. O estouro fiscal também não. “Ambos são consequências de políticas que têm um modelo mental falho sobre o funcionamento das engrenagens macroeconômicas”, defendeu. Para ilustrar, citou a Coreia do Sul, que enriqueceu passando pela educação, formando uma nova geração nas melhores instituições de educadores e com o governo incentivando a economia, o que gerou a elevação da poupança interna do país em 35%, bem acima dos 15% do Brasil no mesmo período. “O inferno somos nós. Temos que abrir a economia e nos ligar ao mundo.”

Ambos concordam que a sociedade está no meio de uma guerra de atrito, desde o cenário de rediscussão das dívidas dos Estados, como o da discussão do cidadão comum sobre a reforma da Previdência. “Há um processo evolutivo na sociedade brasileira que me gera certo otimismo. Temos sociedades que não aprendem, como a Argentina, que faz escolhas erradas há mais de 70 anos. No Brasil, o excesso de ideologia intervencionista vinda dos pensamentos que norteiam o Partido dos Trabalhadores, que liderou o pais nos últimos treze anos, gerou um aprendizado na classe política”, acredita Pessoa.

O longo prazo é a grande unanimidade entre os debatedores. Eles afirmam acreditar que as coisas vão acontecer, o cenário vai melhorar, mas isso acontecerá no longo prazo. “As reformas vão ser aprovadas, os acordos de dívidas serão fechados, a reforma política também caminhará. “Quem joga, não pode ser responsável pelas regras do campeonato”, defendem os economistas. “Se querem que o Brasil volte à trilha do crescimento, mas desta vez de forma mais sólida e consistente, é preciso entender a sociedade”, finalizou Sérgio Besserman.

No painel “Economia”, Luiz Roberto Cunha, Sérgio Vale e Alexandre Schwartsman enfatizaram a necessidade de o governo persistir no rumo das reformas, já encaminhadas com a aprovação da PEC do Teto dos Gastos e com o projeto de reforma da Previdência, entre outras medidas. Para Vale, da MB Associados, a ação do governo permitiu o retorno a uma normalidade econômica. “A previsibilidade é extremamente positiva. Teremos um crescimento previsível, mas ainda medíocre”, disse ele, que aposta em uma expansão do PIB de 1% este ano, puxado pela boa previsão para a safra agrícola.

Schwartsman, do Insper, aposta num crescimento mais próximo a 0,5%. Segundo ele, “o caminho para o retorno do crescimento não permite desvios”. “Mas há um senão: estamos implantando uma política econômica que não passou pelo teste das urnas. Nas eleições de 2018 e 2022 ela vai ser avaliada de novo”, alertou. Já para Cunha, da PUC-RJ, o governo Temer é caracterizado por “incertezas e oportunidades”.

No painel “Política”, o cientista político Fernando Abrucio, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), afirmou que reforma política não se resume a uma mera reforma eleitoral e que diversos aspectos do sistema político precisam ser aperfeiçoados, como a pouca participação social na vida partidária e o fato de o controle institucional dos governos muitas vezes dificultar a ação dos governantes. Ele destacou ainda o que chamou de “20 anos dourados” vividos pelo Brasil de 1993 a 2013, nos quais o país viveu um raro período de estabilidade política e econômica e de inclusão social.

No mesmo painel, o ex-deputado federal Paulo Delgado disse que a origem da crise econômica atual é política. “O que falta ao Brasil é inaugurar o capitalismo, inserir-se na ordem econômica internacional. O desafio brasileiro é se tornar competitivo.” Em sua palestra, o senador Aloysio Nunes (PSDB) declarou que a fragmentação partidária característica do sistema político brasileiro torna a governabilidade muito custosa do ponto de vista ético, pois os governantes acabam tendo que negociar apoio e cargos com muitas legendas diferentes. Mas ele ressaltou que “o Congresso é vivo e consegue captar o sentimento popular”.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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