A.M.Best divulga relatório sobre resseguros, com viés preocupante

Captura de Tela 2016-10-13 às 23.36.35“Os mercados de seguros e de resseguros no Brasil têm provado que são resistentes e capazes de vencer as condições mais desafiadoras da economia brasileira”, afirmaram os editores da agência A.M.Best responsáveis pelo estudo Brazil Reinsurance Market Review, publicado no último dia 11.

O estudo lembra que entre 2007 e 2009, o Brasil estava no meio de um surto de crescimento econômico que fez dele um mercado emergente líder na atração de investidores. Durante esse tempo, o país foi congratulado para sediar tanto a Copa do Mundo de 2014 como os Jogos Olímpicos de 2016. Além disso, em abril de 2008, o Brasil recebeu grau de investimento pela S&P, fato que gerou ondas de investimento estrangeiro direto em diversos segmentos da economia. Neste mesmo período, o resseguro passava por uma flexibilização do monopólio, com a permissão para novos players, colocando um fim no monopólio do IRB Brasil RE, que durou quase 70 anos.

Infelizmente, em 2016 o cenário mudou. A crise financeira mundial em 2008 frustrou grande parte das perspectivas futuras e também dos progressos realizados em muitas economias emergentes. Apesar dos ventos contrários da economia global, o Brasil ainda era capaz de avançar com níveis de crescimento do PIB, que eram vistos como invejável por países da Europa e também pelos EUA.

Porém, cita a análise, o escândalo da corrupção na Petrobras deflagrado em 2014 com a Operação Lava Jato, em poucos meses mergulhou o país em um escândalo político e econômico que afetou fortemente toda a sociedade brasileira. Como resultado, a turbulência interna tirou o Brasil da rota dos investidores e a economia começou a encolher, o PIB passou a ser negativo, o desemprego avançou e as agências de rating emitiram uma série de downgrade, que colocaram rating soberano do Brasil abaixo do grau de investimento, mais uma vez.

Certamente a crise chegou ao setor, que passou pela primeira vez em uma década a apresentar taxas de crescimento de apenas um dígito. Os projetos de infraestrutura da indústria de petróleo e gás do Brasil desapareceram, impactado não só pelas investigações da Petrobras, mas também pelos baixos preços do petróleo bruto, ocasionando uma queda brutal das vendas de seguros para grandes riscos. Para reforçar ainda mais os problemas do Brasil, o vírus Zika surgiu, afugentando alguns atletas olímpicos e turistas, cita o estudo.

A A.M.Best cita também o maior desastre ambiental na memória recente, com o rompimento da barragem da Samarco, em Mariana, Minas Gerais, com danos em uma escala sem precedentes. O acidente chega a ser comparado com o desastre do Exxon Valdez, um dos piores na história mundial do setor, com perda total para resseguros, estimada em R$ 2,3 bilhões, de uma perda econômica total projetada em R$ 26,3 bilhões, o que mostra que o risco foi amplamente subestimado, segundo divulgou um estudo da resseguradora local Terra Brasis.

Apesar de todos os aspectos negativos em curso e incerteza, sinais de esperança para o futuro permanecem, com estimativas dos economistas variando, mas alguns apostando em um PIB positivo em 2017 e um crescimento mais vigoroso nos anos subsequentes. As estimativas do FMI são agora para um crescimento de 0,5% em 2017. Há também um olhar positivo de que as investigações e punições para os réus condenados por corrupção acabará por levar a um governo melhor e condições de negociações mais seguras.

Captura de Tela 2016-10-13 às 23.49.44Até agora, alterações de rating tem sido pontuais às recentes questões sócio-políticas e macroeconômicas no Brasil. O IRB Brasil Resseguros, a maior empresa de resseguros no Brasil, subscreveu um total de R$ 4,3 bilhões em prêmios brutos em 2015, crescimento de 35% em relação a 2014, com 76% dos os prêmios do Brasil e 24% provenientes do exterior, principalmente no segmento rural e de vida. O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) registrado em 2015 foi de 29%, quase o dobro dos 15% registrados em 2014. O IRB representou 85% do resseguro de subscrição no país em 2015.

A maior parte das resseguradoras avaliadas mantiveram os níveis de capitalização ajustada ao risco que ajudam a atenuar a volatilidade macroeconômica nas empresas. No entanto, o mercado brasileiro continua a ser altamente competitivo e apesar de alguns nichos de oportunidades, condições de mercado dificilmente poderiam ser descritas como difícil ou de endurecimento.

A A.M.Best destaca o crescimento do seguro de garantia judicial. Os players que mais cresceram nessa modalidade em 2015 foram: Pottencial Seguradora , Pan Seguros, ACE Seguradora, Fairfax Brasil Seguros, Tokio Marine, Itaú Seguros, Chubb do Brasil Companhia de Seguros, Swiss Re Corporate Solutions Brasil Seguros, J. Malucelli Seguradora, e Allianz Seguros. Juntas, essas empresas representavam 92% do real crescimento de R$ 490 milhões de mercado em 2015 no segmento, que passou de R$ 2,3 bilhões em 2014 para R$ 2,8 bilhões em 2015.

Há indícios de que propostas mudanças regulatórias poderia liberalizar o mercado brasileiro de resseguros e, potencialmente, ajudar a distribuir o risco de uma forma com menos restrições. No entanto, dadas as dificuldades que existem no Brasil e quando combinado com as condições desafiadoras no mercado mundial de resseguro, o ambiente de resseguro para o Brasil não é favorável, sentencia o estudo.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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