Brasil é prioritário dentro da estratégia mundial do grupo alemão HDI

"Temos no Brasil uma frota de veículos segurados maior do que na Alemanha", diz Hass
“Temos no Brasil uma frota de veículos segurados maior do que na Alemanha”, diz Haas

Enquanto a crise assusta muitos executivos que não conseguem bater as metas diante do quadro econômico recessivo, João Francisco Borges, CEO da HDI Brasil, vive um momento único: recebe elogios do chefe. “Estou fascinado com o que vejo na subsidiária brasileira depois de 5 anos da minha primeira visita. A companhia local tem uma abordagem inovadora em produtos e subscrição de riscos. Me encanta a gestão da unidade brasileira, com custos administrativos enxutos, tecnologia de ponta e com uma frota de carros segurados maior do que a que temos na Alemanha”, afirmou o presidente mundial do grupo Talanx AG, Herbert K. Haas.

O grupo Talanx, controlador da HDI, foi fundado em 1903 por industriais alemães que queriam garantir apólices de seguros para suas empresas. Hoje a cooperativa ainda controla 79% do conglomerado e outros 21% estão listados em bolsa. É o terceiro maior grupo segurador da Alemanha e o nono maior da Europa. Em 2014, faturou 29 bilhões de euros atuando com seguros industriais, varejo, resseguros, gestão de ativos e benefícios, como pacotes de aposentadorias e saúde desenhados para funcionários de empresas.

A meta prometida aos acionistas é estar entre os cinco maiores provedores de seguros na Europa Central, tendo Polônia e Turquia com mercados alvos, e também na América Latina, com Brasil e México no topo das prioridades, disse ele em conversa reservada com o blog Sonho Seguro. O mercado alemão ainda é dominante nos indicadores apresentados por Haas. “Nosso objetivo é que as vendas internacionais representem 50% do faturamento do grupo até 2018. Em 2014, o mix chegou a 55% e 45%. Estou confiante que vamos conseguir atingir a meta com o avanço das vendas internacionais e não pelo encolhimento dos negócios na Alemanha”, disse.

Haas comenta que a Turquia e México ainda buscam o alvo de estar entre os cinco maiores. “Estamos buscando formas de chegarmos lá com crescimento orgânico e também por parcerias”, disse. No Brasil, a HDI já conseguiu atingir o alvo, pois já é a quinta maior em seguro automóvel, com 1,8 milhão de veículos segurados. “Mais do que temos na Alemanha”, enfatizou Haas.

Nem a recessão que o Brasil enfrenta, com queda estimada do PIB em 3% para este ano — situação que já resultou na queda de mais de 20% de veículos novos neste ano–, nem o fim do acordo corporativo que a HDI tem para a venda de seguros nas agências do HSBC tiram o ânimo de Haas com o Brasil.

Borges: Perder o canal HSBC não vai alterar o nosso market share em automóvel
Borges: Perder o canal HSBC não vai alterar o nosso market share em automóvel

Segundo informou João Francisco Borges, o fim do acordo corporativo da HDI com o HSBC em razão do banco inglês estar sendo adquirido pelo Bradesco está previsto para acontecer assim que o Banco Central aprovar a negociação. “Claro que uma perda sempre é ruim, mas temos 1,8 milhão de itens segurados, sendo que a produção do HSBC representa 50 mil itens por ano. A seguradora tem outras parcerias com instituições como Santander, Sicred, Sicoob e Banrisul. Isso mostra que o fim do acordo não terá tanto impacto para nós, que acreditamos na manutenção do nosso atual market share que nos coloca como a quinta maior no segmento”, afirmou Borges.

Para Haas, o mercado brasileiro é muito atrativo para o grupo, que atua com a HDI Seguros, para produtos de varejo, com a HDI Gerling, com programas de seguros para industrias, e também como resseguradora eventual. “A população do Brasil é jovem, a renda da classe média é crescente e a penetração de seguros no PIB mostra que ainda há muito potencial para o setor. Esses três aspectos nos fazem acreditar no país”, afirmou.

O grupo quer crescer em riscos industriais e não descarta aquisições ou fusões. Neste ano, a carteira de riscos industriais do Itaú foi vendida para a ACE, a da SulAmérica para a AXA, a parte latina da RSA para a Suramericana e a ACE fez uma oferta mundial para comprar a Chubb. “Em riscos industriais, ramo em que atuamos com a HDI Gerling, queremos ter uma penetração maior no Brasil. Almejamos a liderança de mercado nesta área. Se surgir um parceiro que se encaixa nas nossas estratégias atingiremos essa meta mais rápido”, diz, ciente de que passada a crise os projetos de infra-estrutura vitais para o crescimento do Brasil voltarão com tudo, gerando boa expectativa de receita para o setor de seguros.

Segundo Haas, a atual crise brasileira é algo inerente ao crescimento dos mercados emergentes. “Estamos aqui desde 1959 e já vimos muitos altos e baixos da economia brasileira. Logo a solução mais adequada será encontrada e o país voltará a crescer”, comentou, apostando em uma retomada do crescimento brasileiro em até dois anos. “Mesmo que demore quarto, o país é relevante para o mundo”, acrescentou.

Mas não é só o Brasil que enfrenta problemas. A Alemanha enfrenta o desafio de lidar com a crise imigratória que assusta a Europa. Desde que Angela Merkel autorizou a entrada de refugiados, com os alemães os recebendo com aplausos e alimentos, a popularidade da primeira ministra desaba. Para Haas, a imprensa exagera um pouco nas notícias neste sentido, lembrando que o volume de refugiados hoje não se compara ao volume recebido pela Alemanha nas guerras mundiais.

Segundo a mídia alemã, autoridades do governo vêem expressando temores de que haja terroristas em meio aos imigrantes à medida que os abrigos das cidades começam a ficar lotados. Em termos de seguros, Haas não vê qualquer impacto para a indústria em razão do crescente volume de imigrantes. Sem previsão de aumento de risco com pagamento de indenização, o tema refugiados para o grupo tem outra conotação. “Temos programas sociais no grupo e alguns deles estão voltados a mobilizar nossos funcionários em ações beneficentes, como arrecadação de doações financeiras e de alimentos, bem como em doação do próprio tempo de cada um em ações como dar aula de idiomas entre outras necessidades dos imigrantes”, informou.

Já os desafios da indústria mundial de seguro, segundo Haas, estão na busca da rentabilidade dos ativos, em práticas de subscrição adequadas e na inovação para atrair novos consumidores para o mercado. Ele também cita a necessidade de acordos que ajudem a reduzir os impactos das mudanças climáticas. “Tivemos um primeiro semestre mais tranquilo em perdas com catástrofes, mas tudo indica que elas vão aumentar ao longo do tempo caso não se tenha ações mais efetivas para amenizar as mudanças necessárias que visam a redução da emissão de poluentes”, finalizou.

Denise Bueno
Denise Buenohttp://www.sonhoseguro.com.br/
Denise Bueno sempre atuou na área de jornalismo econômico. Desde agosto de 2008 atua como jornalista freelancer, escrevendo matérias sobre finanças para cadernos especiais produzidos pelo jornal Valor Econômico, bem como para revistas como Época, Veja, Você S/A, Valor Financeiro, Valor 1000, Fiesp, ACSP, Revista de Seguros (CNSeg) entre outras publicações. É colunista do InfoMoney e do SindSeg-SP. Foi articulista da Revista Apólice. Escreveu artigos diariamente sobre seguros, resseguros, previdência e capitalização entre 1992 até agosto de 2008 para o jornal econômico Gazeta Mercantil. Recebeu, por 12 vezes, o prêmio de melhor jornalista de seguro em concursos diversos do setor e da grande mídia.

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