Enquanto os economistas traçam um cenário ruim para a economia brasileira, os executivos de seguros preparam o planejamento de 2016 ainda com expectativas de crescimento de dois dígitos. “Apostamos no Brasil e na América Latina. É uma região marcada por ciclos. Os acionistas sabem do potencial do Brasil, principalmente no que diz respeito ao mercado segurador”, diz o italiano Paride Della Rosa, que assumiu o comando da AIG Brasil há um ano, em um português que faz seu ouvinte ter certeza de que é brasileiro.
O grupo, que tem como característica o crescimento por meio de fusões e aquisições e é citado por analistas por ter criado uma das joint ventures mais bem sucedidas em seguros com o Unibanco, atualmente se dedica ao crescimento orgânico. “O grupo está sempre analisando oportunidades para melhor servir clientes e corretores”, diz. “Há uma consolidação mundial forte em seguro mundialmente. Nosso plano de crescimento orgânico é agressivo e temos uma visão estratégica de longo prazo, colocada em prática desde o fim da parceria com a Unibanco em 2009. Na época ficamos com dez funcionários e hoje já temos 450”, conta o CEO da AIG ao blog Sonho Seguro, na sede do grupo, instalada em cinco andares de uma das luxuosas torres do condomínio que integra o shopping Juscelino Kubistchek, em São Paulo.
A subsidiária brasileira encerrou 2014 com vendas de R$ 459 milhões no Brasil, alta de 38% em relação ao ano anterior. Praticamente 80% desse valor vem de contratos de grandes riscos e 20% vem de produtos como garantia estendida, acidentes pessoais, seguro viagem. Com forte experiência em linhas financeiras – foi um dos responsáveis pelo lançamento do seguro Directors & Officers (D&O) no Brasil, Paride lidera uma equipe comprometida com a criação de produtos e soluções para corporações. Agora que ir além. A AIG incluiu na estratégia o varejo e aposta suas fichas na venda do seguro de carro. “É o seguro mais vendido no Brasil em linhas pessoais e não podemos ficar fora. Investimos em uma plataforma que traz agilidade para o corretor conquistar clientes onde eles estiverem, seja presencialmente ou virtualmente”.
O grupo iniciou uma campanha que invadiu várias cidades brasileiras e que tem o objetivo de tornar a marca AIG mais conhecida no Brasil. Segundo pesquisas realizadas em vários países, o consumidor brasileiro e mexicano privilegiam a marca em primeiro lugar e só depois consideram o preço para comprar um produto. “Somos referência em seguros dentro dos grupos corporativos, com apólices de riscos financeiros, de grandes riscos e benefícios para funcionários. Mas no segmento individual, onde estamos entrando forte em automóvel, éramos pouco conhecidos e precisamos levar a marca para que as pessoas aceitem a AIG entre as cotações dos corretores, bem como também solicitem ao corretor a cotação da seguradora”, conta. A campanha “Carros da sua Vida” está em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo, além de Estados do Nordeste.
A AIG começou a tatear o segmento de seguro automóvel em 2012, com um projeto em Minas Gerais. “Desde então temos desenvolvido a ferramenta que possibilita uma resposta da cotação ao corretor em apenas seis segundos. Agora estamos prontos para avançar em 14 estados que representam 90% do seguro auto no Brasil”, informa. A aposta é conquistar os corretores com a agilidade e ofertar um atendimento diferenciado ao cliente. O grupo entende que para entrar neste mercado ter preço competitivo é determinante, mas aposta também na qualidade dos serviços e do atendimento.
Em riscos corporativos, o grupo mantém o portfolio de produtos sempre atualizado, como seguro para riscos cibernéticos, riscos financeiros e ambiental. O segmento sofre com a recessão da economia e com a paralisação dos investimentos. “Mas acreditamos que é uma situação que será superada, pois faz parte da agenda do Brasil investir em infraestrutura”, acredita.
Ciente da forte competição no mercado local em todos os nichos de negócios, Paride vai pessoalmente visitar corretores. Semana passada, por exemplo, passou cerca de quatro horas em um parceiro comercial para entender as necessidades dos clientes da corretora e como otimizar os sistemas tecnológicos para que o resultado final seja custos menores e agilidade para o cliente final. “Ter uma operação enxuta nos permite dedicarmos tempo para estar próximo dos nossos parceiros e assim lapidar o relacionamento”, diz, afirmando que isso faz parte da estratégia de longo prazo. “É preciso estar em dia para conquistar as oportunidades quando a economia voltar a crescer. A companhia está pronta. Agora precisamos desenvolver a cultura de seguro no Brasil”.
E nada melhor do que inovação para conquistar clientes neste mundo pós digital, com a internet das coisas conectando todos a tudo. Para se ter uma ideia do investimento do grupo em inovação, a AIG tem um centro de excelência nos Estados Unidos formado por uma equipe de 300 cientistas contratados para monitorar tendências de consumo utilizando a tecnologia para análise de tudo, desde a gestão financeira como de dados sobre hábitos de compra dos consumidores. “Fazer parte de um grupo global tem essa vantagem. Temos essa fonte de informação dentro de casa que nos ajuda a refinar e sermos mais efetivo nas ações de retenção, de cross selling e prever as próximas necessidades de seguro da sociedade e assim sairmos na frente com produtos que atendam a demanda futura”, diz.
Vale lembrar que a inovação e a qualidade do atendimento foram os principais itens citados pelos analistas para justificar a retomada da seguradora que foi socorrida pelo governo americano com cerca de US$ 200 bilhões em 2008. Foi essa mentalidade de estar a frente do tempo que fez o grupo voltar ao ranking das cinco maiores seguradoras do mundo, segundo a revista Forbes, em menos de seis anos, com receita de US$ 67,5 bilhões em 2014 e lucro de US$ 7,6 bilhões. São 64 mil funcionários que atendem mais de 90 milhões de clientes em 100 países. “Tivemos muito apoio dos corretores e dos clientes naquele momento difícil”, comenta o CEO da operação brasileira.
Paride é um verdadeiro cosmopolita. Nascido na Itália, criado no Brasil, onde formou-se em Administração de Empresas, com MBA e trabalhou nos Estados Unidos, viveu em Cingapura, onde foi vice-presidente de linhas financeiras para o Sudeste Asiático e China AIG, e liderou a operação República Checa, com sede em Praga. Ele é casado, sua esposa é americana, tem uma menina de oito anos nascido em Miami e um menino de 5, nascido em Cingapura. Quando ele começou sua carreira no Grupo AIG em Nova York, há 14 anos, ele trabalhou como gerente de D&O e linhas financeiras para a América Latina.