Fonte: jornal O Estado de S.Paulo, por Aline Bronzati
A Caixa Seguridade, braço de seguros da Caixa Econômica Federal, chegou em um consenso com a sócia francesa CNP Assurances para a renovação antecipada do contrato de exclusividade para a venda de seguros, pelo qual deve desembolsar em torno de R$ 10 bilhões, segundo apurou o Broadcast com fontes do mercado. A parceria, que antes venceria em 2021, será estendida por outros 20 anos além do prazo ainda vigente, conforme as mesmas fontes, e é tida como passo fundamental para a abertura de capital da seguradora ainda neste ano.
Na mesa, agora, as conversas têm como objetivo definir a forma de pagamento da oferta feita pela francesa, além de detalhes comerciais e operacionais do contrato, como os atuais canais de venda da seguradora, por exemplo. Cerca de 50% dos R$ 10 bilhões a serem desembolsados pela CNP devem ser pagos de imediato, segundo fonte, e o restante ao longo da parceria.
A renovação antecipada do contrato era o passo que faltava para dar continuidade à abertura de capital da Caixa Seguridade, prevista para outubro, na janela de oportunidade que se abre após a volta das férias do Hemisfério Norte. Seu valuation ainda não teria sido definido, mas fontes citam algo em torno de R$ 40 bilhões. Com isso, a oferta inicial pública de ações (IPO, na sigla em inglês) seria de cerca de R$ 10 bilhões, correspondentes à fatia de 25% dos papéis que a companhia almeja vender no mercado.
Além de ser preponderante na abertura de capital, a extensão da parceria com os franceses por mais duas décadas além do prazo ainda vigente joga um balde de água fria no desejo de outros concorrentes de abocanhar o canal em seu lugar. Um deles era o BTG Pactual, conforme revelou o Broadcast em maio do ano passado. A ambição do banco de André Esteves, que nos últimos anos se aproximou da Caixa Econômica Federal não só com a compra de parte do banco Pan (ex-Panamericano) bem como, recentemente, com a aquisição de uma fatia de sua seguradora, a Par Seguros, chegou a preocupar a CNP, conforme fontes. Os franceses, porém, aceitaram pagar mais pela renovação do contrato, mantendo-se únicos e exclusivos sócios da Caixa Seguridade e blindando o ataque de outros interessados.
Os R$ 10 bilhões ofertados pela sócia francesa teriam ficado, segundo fontes, em linha com o que a Caixa considerava justo pelo canal. A principal razão para as negociações para a renovação antecipada do contrato terem se alongado, conforme fontes, foi justamente o fato de a primeira oferta da CNP ter ficado bem próxima da feita em 2001, no fechamento da parceria, ajustando somente a inflação no período. Na época, a francesa desembolsou US$ 538 milhões por 51% das ações da Caixa Seguros. Com a venda do controle, a CaixaPar, braço de investimentos da Caixa, ficou em torno de 48%.
No entanto, após um pré-roadshow com o mercado, a seguradora percebeu que a joia da coroa estava em suas mãos, ou seja, no canal para distribuir seguros por meio das agências da Caixa Econômica Federal. No Brasil, a operação bancassurance (canais bancários) é uma das mais cobiçadas por seguradoras em meio à capilaridade e potencial para a venda de apólices. Diante disso, os franceses tiveram de voltar à mesa de negociações e refazerem a proposta para que o IPO continuasse a ser tocado sem riscos em torno da renovação do contrato.
Até mesmo porque a abertura de capital da Caixa Seguridade é um movimento importante na esteira do ajuste fiscal do governo, cuja meta está em 0,15% do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. Portanto, a oferta tem de sair. Em maio último, a Caixa selecionou o sindicato que cuidará do IPO do seu braço de seguros. Formado por nove bancos, é liderado pelo Banco do Brasil ao lado de Bradesco BBI, Itaú BBA, Goldman Sachs e UBS, que serão coordenadores globais. Também vão participar da operação, segundo fontes, o Citibank, BTG Pactual, Brasil Plural e Bank Of America Merril Lynch.
Recentemente, a reorganização societária da Caixa Seguridade também foi aprovada, concentrando em uma só holding todas as atividades nos ramos de seguros, capitalização, previdência complementar aberta, consórcio, corretagem de seguros e atividades afins.
O desejo da Caixa de ajustar o contrato com os franceses não vem de hoje. A vontade antecedeu até mesmo a gestão de Jorge Hereda, ex-presidente do banco público, e que hoje está nas mãos de Miriam Belchior. Já houve, inclusive, uma ação pública questionando a venda do controle da Caixa Seguros para a CNP uma vez que por se tratar de uma instituição pública deveria ter sido feita uma licitação.
Procurada, a Caixa Seguros não retornou até o fechamento da matéria. A CNP e a Caixa Econômica Federal, informaram, por meio de sua assessoria de imprensa, que não comentariam o assunto.